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quarta-feira, 10 de junho de 2015

Três insistências de Padre Dehon

LEÃO DEHON
FUNDADOR DOS PADRES DO SAGRADO CORAÇÃO DE SÃO QUINTINO


ALGUMAS DATAS


1843 (14/03) - Nascimento de Leão Dehon em La Capelle (Aisne).
1864 – Doutorado em Direito.
1868 – Ordenação Sacerdotal em Roma.
1869 – Pe. Dehon: estenógrafo no Concílio Vaticano I.
1871 – Vigário da Basílica de São Quintino. Ele descobre a miséria do mundo operário.
1872 – Fundação do Patronato São José.
1873 – Fundação do Circulo Operário Católico.
1877 – Fundação do Colégio São João.
1878 – Eleição do Papa Leão XIII.
1878 (28/06) – Padre Dehon emite seus votos religiosos: eis a fundação da Congregação dos Padres do Sagrado Coração.
1888 – Partida dos primeiros missionários para o Equador.
1891 – A Encíclica “Rerum Novarum” (Leão XIII). Pe. Dehon será seu ardoroso divulgador.
1894 – Publicação do Manual Social Cristão.
1925 – (12/08) Morte do Padre Dehon em Bruxelas (Bélgica). Sepultamento em São Quintino.
1963 – Seu corpo foi trasladado para a Igreja de São Martinho.


LEÃO DEHON

Aos 21 anos, é doutor em Direito, e inscrito no corpo de advogados de Paris. Contrariando a vontade dos pais, entra no Seminário Francês de Roma, onde se ordena padre em 1868.
Em 1871, a cidade operária de São Quintino acolhe o neo-sacerdote que vem de concluir seus estudos. Intelectual brilhante, Padre Dehon lá descobre a situação operária e o fôsso que separa a Igreja da Sociedade da época. Um encontro decisivo que orientará a vida e o pensamento desse homem de Deus: curioso de todos as novidades; atento às mudanças que obrigam a Igreja a rever suas estratégias para continuar à escuta dos homens.
Figura de proa dos “padres democratas”, Padre Dehon é um místico a haurir, na contemplação do Coração de Jesus, a própria vida de Deus – Amor. Ao fundar uma Congregação de Religiosos – os Padres do Sagrado Coração (dehonianos) - ele ofereceu à Igreja apóstolos enraizados no amor de Deus, mas totalmente presentes aos homens. Combinação original de uma mística do Deus – Amor, mas que se empenha nos problemas da sociedade: lá onde vivem os homens, lá onde eles encontram o seu Deus.
Leão Dehon é um desses homens do século XIX que construíram a Igreja hodierna. Esse percurso fora do comum anuncia os estremecimentos na modernidade e delineia as soluções para um Cristianismo do IIIº Milênio.


TRÊS INSISTÊNCIAS DO PADRE DEHON

1- O ESTUDO

“Precisamos de Doutores”. “Somos homens da Educação”.

Leão Dehon quis formar-se. Não somente nas ciências teológicas e religiosas. Mas também em todas aquelas que tangenciavam o social, o esconômico, o político e o cultural. Ele se interessa pela arte e pelas civilizações: Daí, a razão de suas viagens não ser jamais a “de um turista ocioso”; porém, a de um homem em busca de sentido e compreensão de humanidade.
Na sua preparação ao sacerdócio, ele quis fazer, com a ajuda dos melhores mestres, os estudos mais sólidos possíveis. Para orientar e estruturar a sua vida sacerdotal e espiritual, ele vai ao encontro das personalidades que “se alimentavam com a mais segura doutrina”, e dos quais sempre podia “auferir valioso proveito ao com eles privar”.
No seu ministério e, mais que tudo, em São Quintino, era levado, por essa necessidade, a criar centros de formação. Para os jovens operários, através de patronatos e de círculos. Para os jovens operários, ou para os patrões, com a animação de sessões, de congressos e de semanas sociais. Para os sacerdotes, nos quais lamentava a ignorância das questões sociais -, ele se fez um apóstolo da “Rerum Novarum”. Para os seminaristas, para os quais escreveu um catecismo social. E, por sem dúvida, pelo fato de fundar o seu Instituto, a partir de São João, ele criava a possibilidade de atingir dois objetivos: o de estruturar padres e o de formar jovens: todos eles aptos para a promoção da Justiça.
É esse zelo de formar e de convencer que o impele a escrever, a fazer conferências, a fundar um jornal e multiplicar publicações...
Em nossos dias, essa necessidade da formação: não vem a ser ela, mais do que nunca, uma exigência? Como esperar que alguém possa tornar-se responsável pela sua vida, crescer em liberdade, ser capaz de exercer a sua cidadania -, caso não dominemos, ainda que pouco, o nosso ambiente? Como falar de emancipação, sem formação? Como, em nossos dias, preparar o futuro, se não formos exigentes na formação dos religiosos, dos padres e dos responsáveis da Igreja e da Sociedade futura?
Nossa sociedade tem a necessidade de entender que a formação é um direito de todos e uma exigência de justiça e, pois, de caridade; e pela qual se faz necessária a mobilização de todos.







2 – A AÇÃO

“Precisamos de Apóstolos”   “Ide ao Povo... Saí de vossas sacristias”.

Padre Dehon quis sacudir a Igreja, pedindo-lhe que abrisse as suas portas. Não somente para que os povos por aí pudessem entrar; mas sobretudo para que a própria Igreja saia ao seu encontro, entre em diálogo com eles e que Ela possa, finalmente, nascer dentre eles. “O culto eucarístico nos torna atentos ao amor e à fidelidade do Senhor na sua presença em nosso mundo”.
Para Leão Dehon, sair da sacristia também significava dar resposta aos apelos da Igreja nos quatro cantos do mundo. Enviando, pois, os seus “missionários” a todos os cantos da diocese de Soisson; a todos os colóquios sociais da França; assim como enviará as suas mais vivas forças ao Equador e ao Brasil -, e sob o risco de fragilizar o seu nascente Instituto. “O padre deve ser o homem do seu tempo...; ele deve falar a linguagem do seu tempo; e não pode negligenciar o estudo dos grandes problemas que agitam a sua Nação”.
Eis porque Leão Dehon nunca hesitou colocar-se na fronteira das questões da Sociedade: ele toma posição face a muitas questões sociais, inclusive à organização da sociedade, à democracia, às finanças, à produção, bem como face a todas as ideologias de seu tempo. Com igual vigor e coragem, ele age diante das questões internas da Igreja, diante das questões de teologia, de moral e de sua função.
Trata-se, ainda hoje, de uma mensagem e de um apelo de candente atualidade. O próprio mundo, notadamente ocidental: não é ele tentado a voltar-se para si mesmo, a ponto de ignorar os que batem à sua porta? Ou de somente lhes dar atenção na medida em que deles possa obter apoio para a sua própria segurança?
A mensagem de Leão Dehon é mensagem de confiança, de audácia e de ação. Vamos em frente se quisermos viver. Ele se preocupou menos com a construção do seu Instituto do que com o empenho de, em todas as circunstâncias, e nada obstante a debilidade de suas forças -, responder aos apelos do seu tempo.













3 – A ORAÇÃO

“Precisamos de Santos”. “Eis o Caminho: Seguir fielmente a Jesus”!

Para todos é evidente que Leão Dehon hauriu a energia necessária para a sua encarnação do Deus de Amor. O seu “Instituto tem sua origem na experiência de Fé do Padre Dehon”.
“Ide ao Sagrado Coração. É nEle, é nas profundezas do seu amor que o pregador e o homem de ação encontrarão o segredo de Lhe ganhar as almas”.
“Testamento do amor do Cristo que se entrega, a Eucaristia ressoa em tudo quanto somos e em tudo quanto vivemos”.
“O culto eucarístico nos torna atentos ao amor e à fidelidade do Senhor na sua presença em nosso mundo”.
Pelo fato de haver somente um pão para todos nós, formamos um só corpo, pois todos comungamos do mesmo pão” (1 Cor 10, 17).
A encarnação contemplada e celebrada na Eucaristia, é o coração da inspiração de Leão Dehon. É também um pouco a nossa herança. No cotidiano de nossas vidas, nós aí encontramos “a presença do Senhor em nosso mundo”. Presença sofredora ou gratificante, trata-se, em verdade, da encarnação do Senhor que encontramos, contemplamos, e que trazemos com o pão e o vinho da eucaristia, para que toda esta vida, esta porção de humanidade se torne um só corpo: o Corpo de Cristo.
Nos dias atuais, essa espiritualidade dehoniana é perfeitamente atual. De fato, hoje como nunca, a nossa humanidade é carente de ternura, de se sentir amada, de se reconhecer em fraternidade, em relações de paz. Homens e mulheres, povos inteiros sofrem da exclusão, do não reconhecimento, do ódio e do medo do outro. Assim os povos como a natureza são ameaçados de destruição, porque o homem não está no interior da atividade humana, uma vez que a humanidade adquiriu poderes de vida e de morte assim sobre o seu planeta como sobre a sua própria existência.
No nosso mundo, notadamente ocidental, os católicos tornaram-se minoritários. “Não têm, sequer, o monopólio da fé em Deus. Outros que não nós praticam o serviço de outrem e trabalham efetivamente pela paz e pela justiça entre os homens. A indiferença religiosa coexiste, hodiernamente, com expressões múltiplas do desejo religioso. Esse contexto geral nos convida a redescobrir a nossa especificidade”. (Carta dos Bispos aos Católicos da França (1997)).

Nota -  Os originais dos textos 
foram doados ao APPAL
pela Sra. Maria Terezinha Ramos Krieger Merico,
que os trouxe da França. (19/05/2005).

Texto francês e desenhos: Javier PRAT


Tradução e digitação: APPAL


















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