Seção "Antologia Eloyca"
PALESTRA SOBRE O AMOR - a respeito da Encíclica Deus Caritas Est
PALESTRA SOBRE O AMOR - a respeito da Encíclica Deus Caritas Est
Padre Eloy Dorvalino Koch, SCJ
Papa Bento XVI
PRIMEIRA
PARTE
DADOS ESSENCIAIS SOBRE O AMOR QUE DEUS OFERECE DE
MODO MISTERIOSO E GRATUITO AO HOMEM. MAS DE NEXO INTRÍNSECO COM A REALIDADE DO
AMOR HUMANO.
1 – NOÇÕES GERAIS DO AMOR
NAS VÁRIAS CULTURAS
EROS:
De certa forma impõem-se ao ser humano, na relação homem/mulher.
PHILIA:
Amor de amizade (Jesus+Discípulos).
ÁGAPE:
A novidade do AMOR CRISTÃO.
2 – EROS,
ENTRE GREGOS E OUTROS POVOS
ERA UMA FORÇA DIVINA A
SUBJUGAR A RAZÃO: SEM NASCER DA INTELIGÊNCIA E DA VONTADE. DIVINIZAÇÃO DO
INSTINTO.
VIRGÍLIO: o EROS leva à mais alta
beatitude.
NAS RELIGIÕES:
* culto da fertilidade;
* prostituições sagradas,
* divinização do instinto.
3 – AMOR
BÍBLICO
A CAMINHO
DO EROS PURIFICADO COM RENÚNCIA.
No “Cântico
dos Cânticos”: o amor vai do amor inseguro (“dodim”) – para o amor definitivo
(ágape): não se busca a si próprio; vai acima do egoísmo.
* Sobe para
o amor do Bem-Amado, exclusivo e para sempre.
* Confira
CÂNTICO DOS CÂNTICOS: exalta a única pessoa, e para sempre no amor conjugal.
* CRISTO,
GRÃO DE TRIGO (Jo 12, 25).
* Crítica
de Friedrich Nietzsche: o amor cristão destrói o amor humano.
Ora, é
apenas aperfeiçoamento.
4 – ÁGAPE:
SAINDO DO MERAMENTE BIOLÓGICO
No Cristianismo, a passagem do Amor-EROS para o
Amor-ÁGAPE “denota, sem dúvida, na novidade do cristianismo, algo de essencial
e próprio em relação à compreensão do Amor”.
5 – NÃO À SEPARAÇÃO RADICAL
ENTRE EROS X ÁGAPE
* O AMOR é uma só realidade!
Mas há
diversas dimensões: uma se sobressaindo mais do que a outra.
* A
SEPARAÇÃO RADICAL seria caricatura do amor.
* O AMOR
COMPLETO:
No início:
é mais possessivo.
Depois: é
mais oblativo.
6 – A NOVIDADE DA FÉ BÍBLICA
*
O Deus de Aristóteles é amado, mas não ama.
*
O Deus de Israel: tem-lhe amor de EROS, de paixão, traduzido na metáfora do
“noivado e matrimônio”, a ponto de a idolatria ser adultério.
7
– EIS PORTANTO UM AMOR APAIXONADO QUE PERDOA:
A ponto de
Deus virar seu amor contra a sua Justiça (Oseias, 11, 8-9).
8 –
SEPARAÇÃO BIOLÓGICA HOMEM – MULHER
*
NA BÍBLIA: Deus separa para re-união;
*
EM PLATÃO: a esfera dividida, por castigo à soberba, para re-encontro.
*
NA BÍBLIA: “e os dois serão uma só carne” (Gên. 2, 24).
Porque
o EROS está enraizado na própria natureza humana.
9 – DEUS
PROCURA SALVAR
* Em
Cristo, o próprio Deus vai atrás da “ovelha perdida”, do “Filho Pródigo”.
* Eis a
origem desta Encíclica: o olhar fixo no lado trespassado de Cristo.
* Na Eucaristia, esta oferta
do lado trespassado ganha presença duradoura, como amor-alimento: com Deus e
com o próximo, isto é, de caráter social.
* A
Eucaristia leva à UNIÃO MÍSTICA: ao ÁGAPE.
10 –
EXEMPLIFICAÇÃO DESTA LIÇÃO DE AMOR
* O Bom
Samaritano (Lc 10, 25-37);
* O Rico
Avarento (Lc 16, 19-21);
* A
identificação de Cristo com os necessitados (Mt 25, 40).
11 – VER DEUS
NOS IRMÃOS
* O caminho
do amor a Deus passa pelo amor ao próximo.
* Ninguém
jamais viu a Deus tal como ele é em si mesmo. (1 Jo 4, 20).
* Em Jesus
vemos o Pai (Jo 14, 9).
12 – IGUAL
QUERER E IGUAL NÃO QUERER
* O amor consiste no “idem
velle” (igual querer), “atque idem nolle” (não querer).
* É a
comunhão de vontades /Maria em Caná/.
* “Deus se
torna mais íntimo a mim mesmo do que eu” (Sto. Agostinho).
* São
inseparáveis: o amor a Deus e o amor ao Próximo.
* Tudo
converge para Deus no sentido de Ele ser “tudo em todos” (1 Cor 15, 28).
* Teresa de Calcutá através do seu encontro com “o Senhor
Eucarístico”.
SEGUNDA
PARTE
A C A R I D A D E
N A P
R Á T I C A E C L E S I A L
13 – OS
FIÉIS, INDIVIDUALMENTE
*
O Espírito é a força interior dos que crêem com o coração de Cristo, e
que os leva a amar os irmãos, como ELE os amou:
*
Ao inclinar-se para lavar os pés dos discípulos (Jo 13, 1-13);
*
E sobretudo, quando deu a Sua Vida por todos (Jo 13, 1; 15,13).
14 –
COMUNIDADE ECLESIAL
* O Espírito também é a força que
transforma o coração da Comunidade Eclesial empenhada em fazer da
Humanidade uma só Família, no Filho do Pai através do Bem Integral do
Homem.
* Pela
evangelização através da Palavra e dos Sacramentos;
* Pela sua promoção
nos vários setores da vida.
15 –
SERVIÇO ORDENADO
Essa atuação Eclesial
de Amor também precisa ter um serviço comunitário ordenado
em suas três dimensões:
*
Na Comunidade Local;
*
Na Igreja Particular;
*
Na Igreja Universal.
Ordenamento que se vem fazendo desde o início:
* Possuíam tudo em comum (Atos 2, 44-45) (At 4, 32-37).
* Embora não continuasse tal e qual.
MAS É
INACEITÁVEL UMA POBREZA SEM OS BENS NECESSÁRIOS PARA UMA VIDA DIGNA.
16 – OS SETE DIÁCONOS
* Um
passo decisivo da Igreja naquele tempo, deu-se com a escolha dos Sete Diáconos
(At 6, 5-6).
* Os
Apóstolos ficavam livres do serviço social, para o serviço espiritual.
* Mas os
Diáconos do serviço social também iam além do técnico, porque
deviam ser homens “cheios do Espírito Santo e de Sabedoria” (At 6, 1-6).
17 – TUDO ANIMADO PELO AMOR
* Com o
tempo, esse serviço social com caridade foi progredindo. Isto é: além da
administração dos Sacramentos e do anúncio da Palavra -, a prática do amor
(viúvos, órfãos, presos, doentes e necessitados em geral) tudo isso pertence à
essência do amor.
* Falam
a respeito: Justino (155); Tertuliano (220); Inácio de Antioquia (117); “Roma,
a que preside a Caridade”.
18 – A DIACONIA
Esse
Serviço Social da caridade, que é oficial, praticava-se:
No Egito:
nos diversos mosteiros e dioceses, até século VI, com capacidade jurídica.
19 – JULIANO APÓSTATA
* Dizia
ele que: “O único aspecto do cristianismo que o maravilhava era a atividade
caritativa da Igreja”.
Daí, a
par da Caridade da Igreja, a atividade neo-pagã dele.
20 – A CARIDADE ALÉM DA IGREJA
* Essa Caritas
– ágape vai além das fronteiras da Igreja. Por exemplo: o Bom
Samaritano (estrangeiro).
* Mas
dedica-se primordialmente aos irmãos da Fé (Gal, 6, 10).
21 – NOVOS PROBLEMAS SOCIAIS
* Desde
o século XVIII, a produção, com mais poderes industriais, Marx vinha combatendo
a caridade, e lutava pela justiça.
* No que
há algo de verdade, e algo de errado. Porque ao Estado cabe velar
pela justiça. Máxime com a nova relação: grande poder do capital x trabalho
produtivo de massas trabalhadoras sem os seus direitos.
22 – AS SOLUÇÕES
* Marx
revelou-se antes, e a Igreja só depois. A Igreja
começou com o BISPO KETTLER (Mogúncia, +1877), seguido de círculos,
associações e congregações religiosas.
* A LUTA
DECISIVA DA IGREJA: Leão XIII (1891), Pio XI (1931), João XXIII (1961), Paulo
VI (1967), João Paulo II (3 encíclicas sociais).
* Mais
tarde, apareceu COMPÊNDIO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA (pelo Pontifício
Conselho Justiça e Paz).
23 – A PANACÉIA MARXISTA
A
Revolução Marxista pretendia uma solução de panacéia: a coletivização dos
meios de produção /Estado-Patrão/. Um sonho que se desvaneceu.
24 – A GLOBALIZAÇÃO AGRAVA O PROBLEMA
* O
problema continua grave. Notadamente, com a globalização. Aqui entram as
orientações da Doutrina Social da Igreja.
*
Mas, cuidado! O cristianismo distingue: o que é de César, e o que é de
Deus (Mt 22, 21). Observe-se a distinção entre Estado e Igreja, a
autonomia das realidades temporais.
* Estado: não impõe religião, mas garante a paz entre
as religiões.
* Igreja: independente na sua expressão social da Fé,
respeitada pelo Estado.
* Ambos: distintos, mas em recíproca relação /porque
não há separação entre Deus e o Estado/.
25 – FUNÇÃO DA IGREJA
* “A sociedade
justa não pode ser obra da Igreja. Deve ser realizada pela Política”.
Mas toca à Igreja, e profundamente, empenhar-se pela Justiça
trabalhando:
* Para a abertura da inteligência;
* E da vontade às exigências do BEM COMUM.
/conscientização: os fundamentos são da Humanidade!/
* “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a
batalha política. Mas não pode por-se à margem”.
26 – O AMOR – CARIDADE
* “Não há qualquer
ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o SERVIÇO do AMOR”.
* Amorosa dedicação pessoal: por parte das diversas
forças sociais;
* A Igreja é uma dessas forças Vivas do Amor Cristão.
“Compete-lhe contribuir para a purificação da razão e o despertar das
forças morais. Sem as quais não se constroem estruturas justas. Nem estas permanecem
operativas por muito tempo”. /Estatuto da Infância e Adolescência/.
27 – OS FIÉIS LEIGOS
Trabalham por uma ordem
justa na sociedade, é dever imediato deles /como cidadãos do Estado/.
28 – A OBRA ESPECÍFICA DA IGREJA
As suas organizações caritativas
são-lhe um dever congênito. Até porque o homem “além da Justiça, tem
e terá sempre a necessidade do amor.
29 – COLABORAÇÃO GERAL
Empenho pela Justiça e do Amor no mundo atual:
* Reina, hoje, miséria
multiforme: assim material como espiritual.
* Por outro lado, os meios
de comunicação e a globalização facilitam no sentido de distribuição de
alimento, vestuário, habitação e acolhimento.
* É a sociedade entre os
povos expressa pela Sociedade Civil.
30 – ESTADO E IGREJA
* Assim
também nasceram e se desenvolveram numerosas formas de colaboração entre
as estruturas estatais e eclesiais, e estas também podem animar de maneira
cristã as estruturas civis.
*
Colaborações pelas quais a juventude poderá passar da cultura da morte “droga”
para a cultura da vida.
31- IGREJA E IGREJAS
* A
Igreja Católica e outras Igrejas e Comunidades Eclesiais:
-
apareceram novas formas de atividades
caritativas;
-
ressurgiram antigas formas com zelo renovado.
-
unem-se evangelização e obras de caridade.
* A disponibilidade da Igreja Católica para colaborar com as
organizações caritativas de outras igrejas e comunidades eclesiais.
32 – EMPENHO D
I S T I N T O DA IGREJA
O específico na
atividade caritativa da Igreja:
O aumento das associações
caritativas deve-se:
* Ao amor ao próximo inscrito no coração pelo Criador;
* E a presença do cristianismo no mundo (Cf. reforma de
Juliano Apóstata).
Por isso, há de manter-se essa essência de caridade cristã e
eclesial.
33- AS MARCAS DISTINTAS
Quais são essas marcas essenciais do cristianismo?
* Segundo o espírito samaritano: famintos, nus, doentes,
presos, etc.;
* As organizações caritativas da Igreja, a começar pela
“Caritas”
(diocesanas, nacionais,
internacionais);
* Competência profissional;
* Não só o tecnicamente correto;
* Mas com humanidade (com a formação do coração, pelo
encontro com Deus em Cristo) para chegar ao amor do próximo.
34 – AÇÃO SEPARADA DE PARTIDOS E IDEOLOGIAS
É a atualização daquele
amor de que o homem sempre tem necessidade.
* Marx era contra a Caridade, porque retardaria o
potencial revolucionário.
* Ora, seria injusto o necessitado sofrer no presente, em
troca de um bem estar futuro e incerto...
* Importa implantar a ajuda na atualidade.
35 – A GRATUIDADE
* O amor é gratuito:
não é justo exercê-lo para outros fins, para impor proselitismo.
* O amor, em sua pureza e gratuidade é o melhor
testemunho do Deus em quem acreditamos.
* Pode inclusive chegar o momento de também falar-se
sobre a Fé.
36- OS RESPONSÁVEIS
DA AÇÃO CARITATIVA DA IGREJA
* Eis a iniciativa assumida
pela Igreja como iniciativa Comunitária.
* De maneira que, à
espontaneidade do indivíduo, há de acresentar-se a programação,
a previdência, a colaboração com outras instituições idênticas.
37 – AINDA A IGREJA
Ela é responsável pela
Ação Caritativa Comunitária da Igreja: na Paróquia (Pároco), na
Igreja Particular (Bispo) e na Igreja Universal (Papa).
Foi oportuno Paulo VI ao
instituir o PONTIFÍCIO CONSELHO COR UNUM como orientador de todas as
orientações e atividades caritativas promovidas pela Igreja.
38 – EM SUMA
“A prática da caridade é um
ato da Igreja como tal. E assim como o Serviço da Palavra e dos Sacramentos,
também a prática da Caridade faz parte da essência da sua Missão
Originária”.
39 – SEM IDEOLOGIAS
“Os que colaboram com a
Igreja não devem inspirar-se nas ideologias do melhoramento do mundo, mas devem
deixar-se guiar pela Fé que atua pelo amor” (Gl 5,6), mas com a
Igreja com o Bispo.
40 – SINTONIZAÇÃO
A Igreja deve predispor os
colaboradores a sintonizarem-se com as outras organizações que estão a serviço
das várias formas de necessidades.
41 – AÇÃO SEMPRE RESPEITOSA COM A CARIDADE
Isto é: com o específico do
serviço requerido por Cristo a seus discípulos. Notadamente no seu HINO À
CARIDADE (1 Cor 13). Nele São Paulo ensina-nos que a Caridade é sempre algo
mais do que mera atividade.
42 – DOAÇÃO PESSOAL
* “Esse hino deve ser a
Magna Carta de todo o serviço eclesial”. Aqui está “o resumo das reflexões
que fiz sobre o Amor ao longo desta carta Encíclica”.
* Não basta “dar-lhe (ao
necessitado) qualquer coisinha minha, mas dar-me a mim mesmo, devo estar
presente no dom como pessoa”.
43 – EXEMPLO DE AMOR DADIVOSO
* Sem posição de
superioridade. Ao final de tudo: “somos servos inúteis” (Lc 16, 10) nas
mãos do Senhor, reconhecendo humildemente, em meio aos problemas infindáveis,
que é Deus quem governa o Mundo.
* É fundamental: o tempo
dedicado à oração (Teresa de Calcutá). É reação importante contra “o ativismo
do secularismo”.
44 – QUANDO NÃO ENTENDEMOS...
* “Muitas vezes não
compreendemos o motivo pelo qual Deus retém o seu braço, em vez de intervir”.
* Mas podemos gritar: Meus
Deus, meu Deus por que me abandonaste?” (Mt, 27, 26).
* “Se O
compreendesses, Ele não seria Deus” (Sto.
Agostinho).
45 – EXEMPLOS DE INSTITUIÇÕES E PESSOAS
(de 40 a 42)
* Martinho de Tours (+ 397) (metade de seu manto);
* Movimento monástico (+ 356);
* Ao lado dos mosteiros: acolhimento, internamento e
tratamento;
* As ordens monásticas mendicantes;
* Institutos religiosos (masculinos e femininos);
* Entre os Santos, Maria (aqui longamente tratado).
Santa Maria, Mãe de Deus,
Vós destes ao mundo a luz verdadeira,
Jesus, vosso Filho – Filho de Deus.
Entregastes-Vos completamente
ao chamamento de Deus
e assim Vos tornastes fonte
da bondade que brota d’Ele.
Mostrai-nos Jesus.
Guiai-nos para Ele.
Ensinai-nos a conhecê-Lo e a amá-Lo,
para podermos também nós
tornar-nos capazes de verdadeiro amor
e de ser fontes de água viva
no meio de um mundo sequioso.
Bento XVI
DEUS É AMOR
Carta Encíclica do Santo
Padre Bento XVI (25/12/2005)
Local: Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe (Florianópolis)
Pároco: Pe. Jair Rodrigues Costa scj
Vigário Paroquial: Pe. Irmundo Rafael Stein scj
Palestrante: Pe. Eloy Dorvalino Koch scj
Digitadora: Karina Santos Vieira
Impressão: Arquivo Provincial Padre Lux – Appal
Brusque, 25 de maio de 2007.
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