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quarta-feira, 3 de junho de 2015

Padre Jacó Gabriel Lux em Trilhas Missionárias (Livro/E-Book)

Apresentamos aqui um trabalho inédito e não concluído do Padre Eloy Dorvalino Koch.
Padre Eloy começara uma pesquisa aprofundada sobre o Padre Gabriel Lux, tendo reunido farto material sobre o reverendo. Chegou a escrever conteúdo para publicação de um livro, enfocando a vida de Padre Lux anterior a sua vinda para o Brasil, já muito comentada em obras diversas.
Infelizmente o trabalho, que deveria ter sido concluído por Valberto Dirksen não foi adiante, por razões diversas e permanece, ao que se sabe, inconcluso e inédito. É justamente esse trabalho inédito que trazemos aqui na íntegra como  primeira parte da biografia do Padre Gabriel Lux.

Ricardo Becker Maçaneiro

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GABRIEL LUX


EM TRILHAS MISSIONÁRIAS






Padre Eloy Dorvalino Koch SCJ
Ricardo Becker Maçaneiro


Parte A

APRESENTAÇÃO


Padre Gabriel Lux SCJ foi de personalidade marcante e dinâmica a serviço da expansão do Reino de Deus, notadamente no campo missionário, e de várias frentes.
Quem se projeta por obras importantes, geralmente é alvo, quer de aplausos, quer de críticas. Até porque ninguém é perfeito, e porque a singularidade chama a atenção das pessoas, inclusive a dos medíocres. Por outro lado, ao final e ao cabo, luzes e sombras concorrem na beleza de uns quadros, também no da vida humana.
Meu empenho está na tentativa de traçar o quadro do Pe. Lux. Aliás, não na condição de pioneiro. Outros, e não poucos, me precederam. Eis alguns nomes:
Pe. José Poggel scj, então Superior Provincial SCJ no Brasil Meridional, por ocasião da morte do Pe. Lux, quando publicou em folheto especial (1944);
Pe. Raulino Bussarelo scj, no “Álbum Jubilar” (1944);
Pe. Wilson Laus Schmidt, diocesano, e futuro bispo auxiliar no Rio de Janeiro, no artigo Azambuja, publicado no Álbum do Centenário de Brusque (1960). (Cf. documentos in Appal).
Estes e outros conhecimentos biográficos nos levaram à opção pelo seu nome para titular de um arquivo histórico da Província Religiosa situado em Brusque - SC: Arquivo Provincial Padre Lux (Appal), fundado em 1983, pelo Superior Provincial Pe. Murilo Ramos Krieger scj, atual arcebispo de Florianópolis (SC).
Depois disso, prossegui, esporadicamente, na coleta de documentos para, algum dia, escrever uma nova e mais completa biografia do titular do Appal.
Mas que esta ocorresse agora, e com pesquisas complementares, deve-se ao crescente movimento da Diocese de Tubarão, e já quase vitorioso, em favor da beatificação da menina-moça Albertina Berkenbrock, mártir da virtude virginal. Justamente com o significativo detalhe de ela ter sido paroquiana do Padre Gabriel Lux scj, que na época, e por mais de 20 anos, pastoreava as Comunidades da extensa Paróquia de Vargem do Cedro (do Município de São Martinho-SC e, atualmente, da Diocese de Tubarão-SC).
Só posso aspirar a que a presente biografia não desmereça da estatura moral e de Padre do Biografado, e que obtenhamos a graça da beatificação de sua paroquiana Albertina Berkenbrock.
A Ciência constrói o futuro;
A História reconstrói o passado,
e, em parte, o presente.
Cabe aqui uma observação. A objetividade, inclusive em Historiografia, é indispensável. Mas é abominável o seu objetivismo, ao presumir-se, por inteiro, uma “ciência exata”, a implicar, pois, uma antropologia materialista (Cf. Marrou, introdução).


Introdução

Após prolongadas pesquisas, a tarefa de elaborar o material coletado, em ordem a escrever uma nova biografia do Pe. Jacó Gabriel Lux scj.
Procurei realizar um trabalho ordenado, verdadeiro e humano. Para tanto, levei em consideração, de modo especial, duas coordenadas para uma boa historiografia: a) a de que “a história é o conhecimento do passado humano” (H. Irénee Marrou); b) e a de que “a História é uma das formas da pesquisa da Verdade” (Henri Berr). Ou seja, algo além de certa historiografia laica.
A razão da presente iniciativa reside no fato de Padre Lux ter sido um apóstolo missionário vocacionado, competente, ardoroso e perseverante. Por sinal, a partir de seu primeiro ano de vida religiosa: no Equador (1890-96); no Congo – Belga (1897); e no Brasil Meridional, em Santa Catarina (1903-43) -, como Fundador da Região Missionária Dehoniana. Tendo batalhado nas seguintes localidades: em Florianópolis (capital), em Azambuja e Brusque, em Vargem do Cedro (São Martinho) e Hansa Humboldt (Corupá).
Também levei em conta algumas razões especiais: a de ser Pe. Lux o titular de uma Escola em Azambuja (Brusque); a de ser ele o titular do Arquivo Provincial Padre Lux – APPAL (Brusque); e a de ter sido Vigário da Paróquia de Vargem do Cedro (São Martinho), justo ao tempo em que lá nasceu e cristãmente se formava, e chegou a morrer virgem e mártir, a bem-aventurada jovem Albertina Berkenbrock (20/10/2007).
Numa palavra, temos aí o roteiro da presente excursão biográfica. Na certeza de que a Ciência constrói o futuro; a História reconstrói o passado, e pode orientar o presente e o futuro.
Neste sentido, creio oportuno lembrar que Pe. Dehon muito valorizava a informação, a cultura e o conhecimento do passado quais meios de melhor entendimento e organização da vida presente. Haja vista as suas cinco renomadas Conferências Romanas sobre a Questão Social.


1ª PARTE

A NOVA CONGREGAÇÃO
E AS PRIMEIRAS MISSÕES

O diálogo entre o ser humano e o seu ambiente vital e social é tão natural e influente, que se torna tese para o filósofo espanhol José Ortega Y Gasset, quando, em sua obra Meditações de D. Quixote, assim conclui: Eu sou eu, e a minha circunstância.
De sorte que, abordar a História da Congregação Religiosa na qual se formou o missionário LUX, até se faz necessário.

I – A CONGREGAÇÃO SCJ

Origem e Difusão

Aos 28 de Junho de 1878, no seu Colégio Diocesano de Saint-Quentin (França), o Cônego francês Leon Dehon fundou a Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (SCJ). Também conhecidos como Dehonianos. Desde a primeira hora, associaram-se-lhe alguns sacerdotes diocesanos.


Foto 1: Pe. Léon Dehon, Fundador da Congregação SCJ

Estando a atmosfera político-social de sua pátria adversa a seminários religiosos, o Pe. Fundador foi à procura de espaço vital fora de seu país. Encontrou-o na tranqüila e católica localidade de Sittard (Holanda). Nela ergueu seu grande Seminário Pioneiro (1886). Rodeado de fronteiras próximas de vários países, foi logo recebendo vocacionados dehonianos da França, Holanda, Alemanha, Luxenburgo e Bélgica. O seminário nasceu, pois, com a marca da internacionalidade e, assim, com a vantagem de rápida difusão[1].
A mais que centenária Congregação se apresenta dividida em vinte Províncias (com autonomia) e três Regiões Missionárias (a caminho de autonomia).

Foto 2: Seminário de Sittard (Holanda)


Espiritualidade e objetivos

Todas as Ordens e Congregações Religiosas se propõem o mesmo fim geral: a promoção da glória de Deus e a santificação dos seus membros, mediante a prática dos três votos religiosos: de obediência, castidade e pobreza, e pela observância de Constituições próprias.
Mas a realidade da Vida Espiritual e da Igreja é de riqueza e variedade tamanhas, que, para vivenciá-la com mais intensidade, se faz necessária a opção preferencial por um que outro de seus aspectos. Neste sentido, e movido carismaticamente pelo Espírito Santo, Pe. Dehon sentiu-se atraído para dar à sua vida pessoal e à de sua Congregação este fim especial: a Devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
Mais que afetiva e de bons sentimentos, é devoção empenhativa. Assim explicada pelo Pe. Fundador: O verdadeiro espírito da Congregação – escreveu ele na sua Constituição (1885) - é um ardente amor ao Sagrado Coração de Jesus: é fiel imitação das suas virtudes, particularmente da humildade, da mansidão e do espírito de imolação, e zelo infatigável em suscitar-Lhe amigos e reparadores.
Quando Jesus Cristo entrou em nosso mundo, expressou o seu compromisso redentor, dizendo: Eis-me aqui, ó Deus, para fazer a tua vontade (Hb 10, 8-9). Em língua portuguesa, a declaração reduziu-se a eis-me aqui; em latim, ecce venio. Pe Dehon fez desse elevado propósito o lema predileto da Congregação. Via nele uma força geradora de vida religiosa e apostólica tão intensa e abrangente, que dizia traduzir-se, por ele, toda a vocação, o fim, o dever e as promessas dos religiosos de sua Congregação.
Porque ecce venio significa disponibilidade. No caso, a de um religioso sempre à escuta e a serviço das necessidades que vão despontando nos horizontes da vida da Igreja e do Mundo. Atitude animada de amor a Deus e aos homens. Amor impregnado do espírito de reparação, porque empenhado na reconciliação dos homens com Deus e entre si mesmos. Ainda que ao preço de imolação pessoal, que significa a disposição de sacrificar-se por amor ao Coração de Jesus.
O Venerável Fundador precedeu-nos com o exemplo dessa vida espiritual. Viveu-a em profundidade através dos votos religiosos, animados da devoção ao Coração de Jesus. Ideal a que consagrou sua nobreza de família, suas riquezas, seus notáveis dotes intelectuais, suas promissoras perspectivas de carreira brilhante – assim no Mundo como na Igreja -, suas muitas viagens e peregrinações, seus trabalhos, fracassos e sofrimentos. Enfim, de toda a sua vida: humana, cristã, religiosa e sacerdotal, ele soube fazer, com a graça de Deus e no Coração de Jesus, uma hóstia espiritual, um ecce venio encarnado para a glória de Deus e a salvação das almas.[2]
Para que essa vida religiosa no Coração de Jesus pudesse lançar profundas raízes na Congregação, e a partir das primeiras gerações, o Pe. Fundador teve a feliz inspiração de escolher, para primeiro Mestre de Noviços, ao Pe. André Prevôt, doutor em Teologia, e “doutor” em Vivência Cristã, segundo a espiritualidade própria de sacerdote religioso do Coração de Jesus.
Foto nº 3: Pe. André Prevôt scj

A exemplo de tantas Congregações, também a Dehoniana é de natureza contemplativa e apostólica. Sua vida religiosa de convento há-de transbordar em atividades benfazejas a seus semelhantes no mundo (S. Tomás).
Além da realidade pastoral do seu tempo, Pe. Dehon levou em conta o movediço dos tempos e das culturas, não se fixando muito em determinada obra apostólica. O próprio ecce venio já implica disponibilidade. Vale dizer, certa mutabilidade circunstancial da parte da Congregação ante os “sinais dos tempos”, indicadores que são de necessidades novas na Igreja e no Mundo.[3]
No entanto, continuam plenamente válidas as principais orientações de ordem pastoral traçadas pelo venerável Fundador: (a) a pregação da Palavra de Deus em missões populares, exercícios espirituais e catequese; (b) a educação da juventude em seminários e colégios; (c) a formação do clero e do laicato; (d) o empenho pela justiça social, em apoio aos pobres e marginalizados; (e) bem como o apostolado missionário em terras longínquas.


II – A MISSÃO NO EQUADOR


Sim, as missões em terras longínquas, acabamos de vê-lo, eram dos objetivos mais almejados pelo Pe. Dehon. Evidentemente, diz ele, o Sagrado Coração de Jesus será glorificado de modo especial, quando o zelo por sua glória se exerça em condições difíceis, tal como se dá nas missões longínquas. Situação na qual se faz presente um ato de abnegação, que traduz grande prova de amor a Nosso Senhor.[4]

Ponto de partida


Pe. Matovelle, do Equador, fundara uma Congregação semelhante à do Pe. Dehon. Surgiu, daí, a idéia de fusão das duas Congregações. O 1º gesto positivo do Pe. Dehon, neste sentido, foi o de enviar dois padres missionários para o Equador: Pe. Irineu Blanc (superior) e seu auxiliar e sucessor, Pe. Gabriel Grison.

O Envio de Missionários

Pe. Dehon revestiu o Ato de grande solenidade. A Semana Religiosa de Soisson (França) fez a seguinte descrição: “Aos sete de novembro de 1888, assistimos a uma cerimônia que nos impressionou profundamente (...) Os padres Blanc e Grison, do Coração de Jesus, estavam de partida para o Equador. Acompanhados da bênção do Soberano Pontífice, lá iriam fundar uma casa de sua Congregação e difundir as suas obras. Para as solenes despedidas, seus confrades se haviam reunido para a bênção solene do Santíssimo na capela do Instituto São João. Também estiveram presentes todos os seus alunos e professores.
Emocionado como um pai (...), Pe. Dehon dirigiu a palavra à assembléia. Sua comovente exortação fez derramar copiosas lágrimas. Teceu comentários ao texto de Isaías: “Eu os enviarei às nações dalém mar, às ilhas longíquas, e eles anunciarão a minha glória às gentes” (Is 60,19). Ressaltou dois pontos: a grandeza de sacrifício dos dois missionários e o seu exemplo de fé e coragem.
Terminada a pregação, os dois heróis dessa memorável solenidade subiram os degraus do altar. Ato contínuo, um a um dos seus confrades, e o venerável Pe. Dehon (Superior da Congregação) à frente, foram oscular seus pés.
Impossível traduzir a impressão que tal ato de fé e de humildade causou na numerosa e simpática assitência. É impressão que deixará, em muitas almas profundamente emocionadas, uma lembrança imorredoura e salutar. Disso nos asseguram as apreciações que pudemos colher.
Pe. Blanc, coadjuvado pelo Pe. Grison, deu a bênção com o Santíssimo. A seguir, cada qual se retirava em silêncio, e enxugando incontidas lágrimas”.
Tudo isso numa tentativa de expressar a inefável grandeza missionária da Igreja.
Os missionários dehonianos estiveram no Equador por mais de oito anos (1888/96). Formavam uma equipe de sete religiosos: dois padres, dois irmãos cooperadores e três fratres. Distinguiram-se o francês Pe. Gabriel Grison (o 2º Superior da Missão) e, desde 1890, o alemão Frater Gabriel Lux, seu braço direito no Colégio Bahia[5].

Foto nº 4: Pe. G. Grison e Comunidade em Bahia de Caráquez.
Do livro Souvenirs de L’Equateur
Identificação das fotos feita por Pe. Gabriel Lux scj em 1937:
A foto foi tirada em 1892 em Bahia de Caráquez (não em Cuenca). No alto, à esquerda e à direita: os dois empregados da Casa; entre eles, da esquerda para a direita: Fr. Rafael Topin, Ir. Dumont (mais tarde, saiu da Congregação, e estudou medicina), e Ir. Boaventura Henning (holandês de Franeker): um confrade de grande bondade e que morreu no Congo. Sentados: Fr. Lux, Pe. Grison, Fr. Sigisberto José Schneeberger, de Nanci, que, apesar de seu nome alemão, era de muito ódio contra os alemães. (Pelo sobrenome, poderia ser judeu) -,acabou na apostasia, sendo que, provavelmente, ainda viva em São Paulo (BR)  como hoteleiro. (Carta de Pe. Lux a Fr. Paulo Rij scj, 09-03-1937).



Foto nº 5: Indígenas do Equador
Do livro Souvenirs, p. 38

Algumas atuações missionárias


Quanto à Fusão das duas Congregações

O Governo Equatoriano e seu Arcebispo incumbiram o mui talentoso e religioso Pe. Matovelle, da construção da catedral. Nessa altura dos acontecimentos, o Padre já havia fundado a Congregação dos Oblatos do Amor Divino. Nome que o seu fundador alterou para Oblatos do Sagrado Coração, para melhor semelhança com a dehoniana Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (SCJ) -, pois tinha-se em vista, de ambas as partes, fazer das duas Congregações uma só. E os planos se encaminhavam neste sentido.
Mas não foi possível chegar a um acordo real, porque cada Congregação queria o predomínio de suas características. Além disso, nossos Padres perceberam, no Pe. Matovelle, demasiado interesse pela ajuda dehoniana na construção da referida catedral. Que fracassou, e levou o seu Construtor a “esquecer-se” do plano de fusão das duas Congregações, que também acabou frustrado.

Pe. Irineu Blanc SCJ  e o Colégio Simon Bolívar

Com a aprovação do Pe. Dehon, realizou-se um contrato com o Governo do Equador, no sentido de a nossa Congregação assumir o Colégio Nacional “Simon Bolívar”, de Ambate. A nomeação do Pe. Blanc, Superior da Missão, para Diretor do Colégio, ocorreu aos 18/10/1891.
Muita gente estranhou a sua nomeação, porque o Colégio “tenia la fama de ser un bastillon de la massoneria y del radicalismo” (p.9). Aos 08/02/1893, o Padre Diretor cumprimentou, pelo Diário Oficial, o novo Ministro da Educação. Devendo ressaltar-se que o Ministro anterior “era amigo dos Padres”...
Na mesma data, o Diretor do Colégio pleiteava, junto ao Governador, a construção de um novo Colégio, porque o antigo não mais oferecia as condições necessárias.
Em 1894, cresceram as divergências quanto à competência dos mestres “estrangeiros” e quanto às elevadas despesas do Colégio.
De sorte que, aos 12/02/1895, o Ministro da Educação e o nosso Padre Diretor assinaram o documento que anulava o nosso contrato com o referido Colégio Nacional.[6]

Fr. Gabriel Lux no Equador


Nasceu em Bonn (Alemanha), aos 08 de maio de 1869. Completou seus estudos secundários, não em Sittard, mas em Leyenbroek (Holanda). Fez o Noviciado, onde emitiu os primeiros votos religiosos no dia de Natal de 1889. Alguns dias após, iniciou a sua grande viagem de navio para o Equador. Foram seus companheiros missionários: Fr. François Schitzler e Ir. Rafael Topin (francês).


Foto nº 6: Fr. Gabriel Lux scj

Atendendo à solicitação do ainda Frater Paulo Rij scj, holandês -, Pe. Lux enviou-lhe, de Vargem do Cedro (SC), extensa carta, em alemão, aos 9 de março de 1937. Datilografada, a missiva soma 4 grandes laudas. Que trata, sobretudo, das causas da fracassada Missão Dehoniana no Equador (América do Sul). Documento valioso para o presente estudo. Em síntese, o seguinte:
Pe. Lux chegou à Bahia de Caraquez em fevereiro de 1890. De sorte que as informações da missão, anteriores a essa data, lhe foram transmitidas pelo Pe. Gabriel Grison. O 1º Superior da Missão foi o Pe. Irinée Blanc. Um homem antipático e inacessível, comenta Pe. Lux. Só valia a opinião dele. Sua desconfiança tinha algo de maníaco. Em tudo via má vontade e inimigos. Achava que a Maçonaria sempre o vigiava e perseguia.
Com que também contaminou o seu confrade Gabriel Grison, segundo este o confessa no seu “Souvenirs de L’Equateur”, às páginas 19 e 20. Pe. Grison, no entanto, porque mais idôneo, deveria ter sido o 1º Superior. Com tal nomeação, ter-se-iam poupado à Congregação não poucos infortúnios: “So wäre der Congregation manches Missgescick erspart geblieben” (p.1).
A seguir, Pe. Lux dá informações, nem sempre louváveis, sobre cada um dos seus confrades no Equador. Mas começa por elogiar o Bispo alemão Schumacher, de Porto-Viejo (Equador): “Um santo homem. Conhecedor de pessoas, penetrou no íntimo do Fr. Franziskus Schnütler (Aachen), e negou-se a ordená-lo”. Fr. Lux conhecia bem esse colega de curso, e o tinha por “leviano”.
O próprio Grison confirma o dizer de Pe. Lux, qaundo o acusa de também ele ter sido muito desconfiado. O que se vê confirmado por várias atitudes: Assim, com seus alunos do Colégio de Bahia, Pe. Grison encenou a peça teatral “Garcia Moreno”: assassinado pela maçonaria (06/08/1875). Apesar de bem apresentada, a peça não foi aplaudida.
Pe Grison dirigiu-se a Dom Julian, o Governador, à procura da razão do desinteresse. E ele explicou: “Certamente, Garcia Moreno foi um grande homem, mas era um tirano”.
Ora, comenta Pe. Grison, “se assim pensa um equatoriano, por sinal católico excelente, o que se poderia esperar dos demais? Essa resposta do velho Governador me deixou pensativo: Eis a heresia do Liberalismo! As ruínas que ele espalhou sobre a terra! A heresia das verdades diminuídas que ele sopra desde o inferno para desgraçar os povos! De minha parte, tomei o propósito de continuar a combater a maçonaria. Bem como, na medida de minhas forças, de extirpá-la da alma de nossos alunos” (p. 232 e 233).


III – Referências ao Frater e Padre Lux


O enfoque central desta História, como já observado, é a biografia do Pe. Lux. Para tanto, era indispensável a consulta ao valioso livro Souvenirs de L’Equateur do Pe. G. Grison, que do começo ao fim colaborou na missão do Equador, e na 2ª parte, como Superior.
No citado livro, passarei a respigar as principais referências ao Frater e Padre Lux, por sinal, sempre elogiosas. Mas convém recordar: Pe. Lux entrou no Equador como neo-religioso (Frater), e de lá voltou neo-sacerdote (Padre).
Sua missão no Equador durou de 1890 a 1896. Seu tempo vinha dividido assim: exercícios da vida religiosa; aulas no Colégio de Bahia; e estudos de Filosofia e Teologia, em preparação à sua ordenação presbiteral.
Esta foi-lhe conferida por Dom Schumacher, Bispo de Porto-Viejo (Equador). Mas em Tuquerrez (Colômbia), para onde o Sr. Bispo teve de refugiar-se, ameaçado que fôra de morte por inimigos da Igreja. Notadamente, pela maçonaria...Pe Lux rezou a sua 1ª missa em Bahia.
Passando às anunciadas Referências, cabe anotar que os números entre parênteses indicam as páginas do mencionado livro.
- Pe. Grison e seus companheiros foram em férias. Mas Fr. Lux teve que permanecer em Bahia, para dedicar-se aos estudos eclesiásticos. E mais, diz o Pe. Grison: Tomei a decisão de o deixar livre, por um ano, e enviá-lo ao Seminário Maior do Sr. Bispo, em Porto-Viejo, em preparação às suas ordenações (235 e 243).
- Fr. Lux é Seminarista: Colega dos Seminaristas Maiores do Sr. Bispo, em Porto-Viejo. A certa altura dos acontecimentos, o Sr. Bispo foi ameaçado de morte, devido a um artigo por ele publicado, por sinal anônimo, numa revista, e com críticas ao Regime Político em vigor. Mas os Seminaristas Maiores, em evidência Fr. Lux, passaram a ser, dia e noite, os fiéis guardas do Sr. Bispo (246).
- O Sr. Bispo manifestou-se muito satisfeito com Fr. Lux, e pretendia ordená-lo Diácono (250). Ordenação que o Sr. Bispo lhe conferiu em Porto-Viejo aos 3 de fevereiro de 1894.
- Fr. Lux revela-se decidido defensor do Sr. Bispo, novamente alvo de ameaça (255).
- O Sr. Bispo, em longa missiva ao Pe. Grison, refere-se à nova fermentação da Revolução no País. E termina com este P.S.: O bom Fr. Lux vai muito bem, e sob todos os respeitos (256).
- O Diácono Fr. Lux volta a Bahia em férias pascais. E devido aos acontecimentos revolucionários, não mais voltará à Sede Episcopal de Porto-Viejo (258).
- Ainda perseguido, o Sr. Bispo refugiou-se na Colômbia. Hospedou-se no mosteiro dos Capuchinhos, em Tuquerrez. Por carta, Pe. Grison passou-lhe informações sobre a situação no Equador. Encaminhou-lhe também o Diácono Fr. Lux, com o pedido de ordená-lo presbítero. Dom Schumacher ordenou o Diácono aos 07-09-1895 (285).
- Pe. Grison informa: o Diácono Fr. Lux encontrou o Sr. Bispo em meio a um povo que o venerava. Mas que sofria muita privação. O seu manual de Ordenação teve de substituir o Pontifical de Ordenação; As bondosas Religiosas de Tuquerrez improvisaram a Mitra: feita de papelão dourado; e um marceneiro da localidade preparou-lhe uma cruz de madeira.
- Finalmente, prossegue Pe. Grison, “o bom Padre Lux voltava a Bahia, revestido do caráter sacerdotal. Que Deus lhe conceda a idade de Matusalém. Ele não esquecerá jamais as trágicas e gloriosas circunstâncias nas quais foi revestido do Sacerdócio.
Na 1ª Missa de Pe. Lux em Bahia, a população nos deu novas provas de sua simpatia: cartões postais, coroas, grande variedade de presentes. Não faltava nada. E os parentes do neo-sacerdote, embora tão distantes, choravam por não poderem assistir à 1ª missa. Mas poderiam, pelo menos, ter o consolo de saber que as almas, às quais seu filho dedicava a sua vida, sabiam valorizar o seu sacrifício. Realmente, não lhe fôra possível celebrar esse grande dia com maior festividade, em sua Pátria, na cidade natal”.
Pe. Grison, já na missão africana de Stanley-Falls, assim se refere ao Pe. Lux: Atualmente, ele se encontra no Brasil, ele tinha sido o meu braço direito no Colégio de Bahia, no Equador (317).
Em substituição ao Pe. Sigisberti, Pe. Lux iria trabalhar em Bahia. Tudo transcorria bem no Colégio. Mas havia constantes rumores revolucionários. Corriam novas ameaças de guerra civil. Até porque, concluía Pe. Grison, esses povos, a exemplo do solo de seu País, são vulcânicos.
Este ano de 1895 terminava sob um céu pesado, negro e carregado de tempestades.

Outro encontro negativo com autoridades
Pe. Grison ficara doente. A conselho médico, aproveitou as férias de Páscoa para restabelecer-se em Rocafuerte. O neo sacerdote Pe Gabriel Lux fez-lhe companhia. Roberto de Andrade era um dos assassinos de Garcia Moreno. Escapara da cadeia e fugiu para o exterior. Quando recomeçou a fervura revolucionária, o assassino voltou ao País, e tornou-se Governador de Manabi. Apropriou-se do Palácio Episcopal de Dom Schumacher, em Porto-Viejo. Ao saber das férias do Pe. Grison, R. de Andrade enviou-lhe um representante com a missão de solicitar-lhe um padre para Porto-Viejo. Queria dar mostras de homem bom.
Mas Pe. Grison foi peremptório: Senhor representante, respondeu. Eu nunca estendi a mão a um assassino, e não pretendo iniciar o gesto com a mão que assassinou Garcia Moreno (298). O representante reagiu com violência verbal. Era o embate entre ser e não-ser do mundo (Jo15, 18-19). E foi também este Roberto de Andrade que assinou o Decreto de nossa expulsão imediata, aos 12 de junho de 1896.
Pe. Lux celebrou pela última vez na Igreja de Bahia; Pe. Grison, na Capela das Irmãs (313).
Ao meio dia, na hora do almoço, soou um dobre fúnebre. Comentário do Pe. Grison: “Esse dobre fúnebre é por nós. Ele repica a agonia do Colégio de Bahia” (313). A partida do navio se deu às 15 horas do dia 12 de junho de 1896. “E a bandeira do Colégio, carregada por um menino, estava coberta por um grande crepe negro”.
“Toda a população veio ao cais. E aí permaneceu até o momento da partida”, às 15 horas. O povo chorava. Os Padres também (314). Pela beira-mar, o povo acompanhou o navio até a altura do Colégio de Bahia.

 

Reflexões


Após esses lances históricos, talvez o prezado leitor foi alongando a vista da imaginação, para acompanhar, até o infinito, o navio dos missionários dehonianos, tão brutalmente perseguidos e expulsos do Equador! E mais. Talvez até erga um olhar interrogativo para o céu: “Por que, meu Deus, tanto ódio e perseguição ao que é bom, justo e necessário?”.
Jesus Cristo nos deu as mais completas explicações:
Em primeiro lugar, Ele se apresenta como exemplo. Pois, apesar de ter passado pelo mundo fazendo o bem, foi condenado à morte, e morte na Cruz. Diante disso, Ele preveniu seus seguidores: “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim primeiro. E assim como me perseguiram, também perseguirão a vós, porque o servo não é maior do que o seu senhor”. E Jesus assim explica a razão profunda dessa perseguição: Vocês são perseguidos, porque não são do mundo! Se fôsseis do mundo (mundanos), o mundo vos amaria como sendo seus (Jo 15,18-22). E Jesus mostra a seus seguidores o mais baixo grau a que pode descer a consciência perversa: Esses adversários de Deus expulsar-vos-ão das Sinagogas. E virá a hora em que todo aquele que vos tirar a vida, julgará prestar culto a Deus. (Jo 16,2).
É difícil dormir com um barulho desses... De lá para cá, vem se avolumando um “tsunami” de ateísmo e materialismo pelo mundo inteiro! Urge erguer-se, pregar e viver o Evangelho de Jesus Cristo com mais fé, amor e destemor (Mc 16, 15).
Dentro dessas coordenadas, é compreensível a conclusão feita pelo 2º Superior Geral, que foi o Pe. José Lourenço Philippe: A missão do Equador, em tão pouco tempo destruída depois das cruéis provações, pela perseguição maçônica: é uma das mais belas páginas da história dos Padres do Coração de Jesus (Souvenirs de L’Equateur, p. I).


IV – A Nova Missão na África


A nossa expulsão do Equador, em junho de 1896, não esmoreceu, nem um pouco, o forte espírito missionário do Pe. Fundador.
E pondo mãos à obra, confirmava ele, em carta ao Prefeito da Congregação da Fé, o seu anterior pedido oral no sentido de obter uma Missão para a sua Congregação.
Por intermédio do Frei Raphael d’Aurillac, Procurador Geral dos Franciscanos em Roma -, esse desejo foi alcançado. Eis como Frei Raphael escreveu ao Pe. Fundador que, na ocasião, também se encontrava em Roma:
Apresso-me por dar-vos uma boa notícia:
A   D i v i n a    P r o v i d ê n c i a
v e m   d e   a b r i r – v o s   o   C o n g o[7]

Pois coincidira que o Ministro do Estado Independente do Congo viera a Roma, incumbido de procurar novos missionários junto à Congregação da Fé.
Após uma série de negociações, resolveram fundar uma missão em Stanley-Falls, no Centro do Estado Congolês. Na época, não passava de um insignificante Posto Militar no meio da floresta, com apenas algumas centenas de habitantes.[8]
Assim que voltou a Bruxelas, Pe. Dehon mandou vir da França o Pe. Grison, o ex-Superior no Equador. Mas ele só iria viajar para a Missão Africana daí a meio ano.
No entanto, o Ministro do Congo, van Eetvelde, tinha pressa. Apresentou pois, outro programa: O Pe Grison embarcaria logo. Lá permaneceria por meio ano, para inteirar-se da situação. Depois voltaria, para contratar mais auxiliares.  Essas despesas iniciais ficariam por conta do Governo Congolês. Tudo explicado, foi redigido e assinado um documento relativo ao novo plano missionário.

Foto nº 7: Pe. Grison, o futuro Bispo da Missão
Foto de 1899 – Steffen

Ao Pe. Grison ainda restavam três semanas para o embarque. Enquanto isso, lembrava-se de seus antigos companheiros no Equador, e pretendia levá-los para a nova missão. Notadamente, o Padre Gabriel Lux. Logo viajou a Bonn (Alemanha), onde o bom confrade freqüentava a Universidade. Pe. Lux concordou de imediato. Não assim a Sra. sua mãe, que exigiu do Pe. Grison a firme promessa de providenciar a volta do filho, tão logo corresse perigo de vida. E foi o que sucedeu quatro meses após. Vale acrescentar: e para o bem do Brasil...



Grison e Lux embarcaram no navio Albertville, em Antuérpia

E com eles, também os demais religiosos do Equador: Bonifácio, Willibald, Benito e Irmão Boaventura. Após três semanas, o navio ancorava no Porto de Banana, na foz do Rio Congo (no Oceano Atlântico).
Logo se encontraram com o Vigário Apostólico do Congo: Mons. Van Ronsle, cujo governo também abrangia a nossa futura Missão de Stanley-Falls.
De Banana, a viagem prosseguiu com o barco fluvial até Boma, a capital do Estado Congolês. Em Matadi, deixaram o barco e tomaram o trem. Em dois dias chegaram a Kisantu (Colégio dos Jesuítas), de onde a viagem prosseguiu a pé até Leopoldville, mas acompanhados de 40 carregadores, que transportavam encomendas para Stanley-Falls.
Ainda em Leopoldville, encontraram-se com o Comandante Francês Bodard, que viera de Stanley-Falls.  Encontro muito oportuno para a Congregação! Porquanto, desde que Pe. Grison pisou no solo Africano, vinha ele se debatendo com o custo anual da nova Missão: no começo da viagem pela África, ouvira o palpite de 45.000 Francos anuais; mais adiante, variava entre 45 e 50.000 Francos. Além disso, a própria fundação missionária também exigia a aplicação de 50.000 Francos.
O susto do Padre foi tão grande, que logo comunicou ao Pe. Dehom, por carta, o resultado de sua pesquisa.
Ora, graças ao encontro com o Comandante Bodard, de Stanley-Falls, o céu financeiro desanuviou muito. O referido Comandante acalmou o Padre, dizendo que esses dados seriam exagerados, e que em Stanley-Falls, “a vida é barata”. E Pe. Grison escreveu nova carta a Pe. Dehon, desfazendo os temores da anterior.
Pe. Dehon conseguiu da “Propaganda Fide” o apoio total para sua Missão em Stanley-Falls. E ainda obteve um subsídio de 10.000 Francos.
Aos 13 de fevereiro de 1898, Pe. Dehon escreveu ao Pe. Grison: Não devemos desistir da missão, pois que é uma Vontade de Deus.


De Leopolville para Stanley-Falls

Já no dia 25 de agosto de 1897, os Padres Grison e Lux embarcaram no navio fluvial Ville de Bruxelles. Foi uma viagem muito sacrificada. O espaço reduzido do navio. Um calor insuportável. Durante a noite não se viajava. E os passageiros deviam permanecer nos seus beliches, porque no convés, onde era mais fresco, seriam vítimas, ou de ladrões ou de feras. Mas nos beliches, o destino era sofrerem um continuado zumbir e picar de mosquitos.
Não demorou muito, e começaram, entre os passageiros, as primeiras incidências de febre-malária. E o barco, aos poucos, mais parecia um hospital. Os dois Padres, mais habituados com a temperatura tropical do Equador, ofereciam mais resistência, e prestavam ajuda aos enfermos. Finalmente, porém, também eles tiveram de guardar o leito, mas apenas por dois dias. Muito preocupante, no entanto, era o caso do Pe. Lux, pois a febre vinha acompanhada de vômitos e, por vezes, com sangue também.
Pe. Lux melhorou um pouco. Mas tudo recomeçou em Basoko, e com os mesmos sintomas. Neste Porto, retornava para Stanley-Falls o Dr. Vuilsteke, que viera para atender um cliente. Para grande contentamento do Pe. Grison, o Doutor examinou Pe. Lux. Eis o seu parecer: Ele não serve para o Congo. Mas verei o que possa fazer.
A presente etapa da viagem fôra iniciada em Leopoldville, aos 25 de agosto de (1897) e, aos 21 de setembro, terminava em Stanley-Falls, às 13 horas. Chovia. E Pe. Lux continuava enfermo. A sua volta para a Europa ocorreu a partir de 13 de outubro de 1897.[9]
Vimos que Pe. Grison foi especialmente a Bonn (Alemanha), onde convidou Pe. Lux para a Missão Africana. O fiel ex-companheiro do Equador logo concordou. Não assim a Sra. sua mãe: Dona Elisabeth Fischenech Lux. Ela chegou a exigir do Padre Missionário a firme promessa de mandar seu filho Gabriel de volta, assim que alguma doença lhe ameaçasse a vida. Ora, promessa é dívida. Fica no ar a dúvida: Não teria Padre Grison influenciado na decisão do médico, ao este concluir: Pe. Lux não serve para o Congo!?...
Devolvida a saúde, Pe. Lux voltou a freqüentar a Universidade em Bonn. Em Sittard, dedicou-se ao magistério. Retornou a Bonn (1902), e construiu um prédio para o Instituto São José. [10]








2ª PARTE

A NOVA CONGREGAÇÃO
E A MISSÃO NO BRASIL MERIDIONAL

I – QUADRO GERAL

A Missão no Brasil Setentrional

Levando em consideração que atuamos no mesmo País e que somos da mesma Congregação -, creio oportuno fazer-se uma embora breve referência à anterior Fundação Missionária Dehoniana no Brasil Setentrional.
Já no ano de 1893, o Sr. Carlos de Menezes, Diretor da “Fábrica de Tecidos da Companhia Industrial Pernambucana”, em Camaragibe -, viajou a Val-des-Bois (França), em visita à Fábrica de Leão Harmel.
Uma obra modelar! Notadamente, quanto à sua organização social e religiosa. Um Padre exercia o cargo de Capelão dos Operários. Por sinal, um Padre Dehoniano!
E o Padre Fundador, todo empenho pelas missões, logo atendeu à solicitação do Empresário Brasileiro, no sentido de liberar-lhe o Pe. Sebastião Miquel scj, para exercer as mesmas funções de Capelão junto aos operários da Fábrica Brasileira.[11]
Posteriormente, Pe. Dehon também atendeu a pedidos de Dom Luiz Raimundo da Silva Brito, Bispo de Olinda.
Foi tão eficaz a assistência religiosa, social e cultural dos Dehonianos, que o articulista (anônimo) de A Fábrica Modelar de Camaragibe termina dizendo: De sorte que, No Norte do Brasil, surgiu uma obra maravilhosa consagrada ao Coração de Jersus. Sobre a qual paira visível a bênção de Deus. É uma obra na qual se unem a Indústria Moderna e a Vida Cristã.[12]
E assim, além dos Pioneiros de 1ª hora, que foram os Padres S. Miquet, M. Cottard, A. Deal e outros -, foi-se multiplicando o número de missionários, e de religiosos nativos. A ponto de, em 1938, a Região Missionária passar a Província do Brasil Setentrional.[13]
Definição de Novo Rumo

Nessa procura apostólica de um novo rumo missionário, marcou presença o dehoniano Pe. José Thoss, nascido em Luxemburgo (1866), onde também ordenou-se sacerdote (1889). Foi Superior local em Sittard (Holanda), de 1902 a 1907.

Foto nº 8: Pe. José Thoss scj
O idealizador da Missão

Em Münstergeben, nas proximidades de Sittard (Holanda), Pe. Thoss fundara um Centro de Orientação Pastoral para neo-sacerdotes. Era natural que os Párocos lhe solicitassem Padres para coadjutores em suas Paróquias. Mas Pe. Thoss tinha horizontes mais amplos.
Embora os Padres Dehonianos alemães ainda não tivessem alcançado o status de Província autônoma, Pe. Thoss nutria a idéia de procurar-lhes novos campos de apostolado na Europa. De preferência, porém, em outros Continentes. Era, obviamente, o espírito missionário do Pe. Fundador em transfusão na alma do Pe. Thoss.
A seguir, o arrojado idealizador apresentou o plano ao Pe. Dehon, seu Superior Geral. Este logo se mostrou receptivo. E colaborador também. Pois de imediato tratou de aconselhar o Padre a entrar em contato com Pe. Gabriel Lux, a quem a febre malária, como já referido, obrigara a voltar de Stanley-Falls (África) para Bonn (Europa), sua terra natal.
Já para o final do ano de 1902, Pe. Lux foi informado, por carta de Pe. Thoss, que estava em andamento o plano de se abrir nova “missão d’além-mar” (Is 60, 19), e que fosse adequada aos padres alemães. E mais. Que ele, firmado em sua larga experiência missionária, passasse as suas sugestões a Bonn.
A referida carta encontrou-o na leitura do livro Impressões de Viagem, do renomado escritor jesuíta Pe. José Spellmann. E justo no capítulo Um Giro pela América do Sul, no qual se fazia a descrição das colonizações alemãs nos três países sulamericanos: no Brasil, na Argentina e no Chile. Países nos quais se lamentava a falta de sacerdotes.
Não teria sido uma coincidência “tramada” pela Divina Providência? Pe. Lux assim o interpretou.
Eis a proposta do Pe. Lux: ou Brasil Meridional, ou Chile. Nas avaliações dos Padres de Münstergeben (Holanda), venceu a opção Brasil. E o Superior Geral, Pe. José Schmitz, tendo à sua disposição vários endereços enviados pelo Pe. Lux, logo tratou de escrever várias cartas de consulta missionária em favor dos Padres Dehonianos.
Notadamente: ao Arcebispo de Porto Alegre, ao Monsenhor Francisco Topp (Florianópolis) e ao Pe. Carlos Boegershausen (Joinville). As respostas foram todas enfaticamente positivas. Mas para evitar incontrolável dispersão inicial, a aceitação limitou-se a Florianópolis.[14]
Auf nach Brasilien!
Santa Catarina! Apontar!



[1] Sittard passou, mais tarde, a Escola Superior Alemã no Estrangeiro. A partir de 1954, o Seminário pertence à Província Holandesa (Circular, Novembro de 1954).
[2] Quanto aos seus notáveis dotes intelectuais, bastaria lembrar seus quatro títulos acadêmicos de doutorado em Direito, Filosofia, Teologia e Cânones.
[3] Assim na finalidade geral como na específica da Congregação, Pe. Dehon via “a graça do tempo presente e do futuro”, quer dizer, válida para todos os tempos (Diretório, p. 21).
[4] Citação de A. Lellig, Carta Circular de 06/05/55, p. 2.
[5] Pe. G. Grison, Souvenirs, p. 317.
[6] Da Pesquisa do Pe. Egídio Driedonk scj no Equador, nos meses de junho e julho de 1988 (APPAL).
[7] Em francês: Je m’empresse de vous annoncer une bonne nouvelle. La divine Providence vous ouvre le Congo (J. Steffen).
[8] Mas atualmente, é a cidade Kisangani, com mais de 700.000 habitantes.
[9] Cf. J. Steffen, Geschichte der Kongomission, na Revista Heimat und Mission, 1988, números 8,9 e 10.
[10] Pe. J. Poggel, Pe. Gabriel Lux scj, pasta individual do Padre Lux, in APPAL.
[11] Em 1895, Pe. Miquel regressou para a Europa.
[12] Revista Das Reich des Herzen Jesu, Sittard (Holanda), 1913, p. 423 - 429.
[13] a) BUSSARELLO, Raulino Hilário (Pe. SCJ). Álbum Jubilar. Rio de Janeiro: Gráfica Ouvidor, 1953, p. 52-53.
    b) DEHON BRASIL. História da BS. Disponível em: http://www.dehonbrasil.com/bs/historico.htm. Acesso em: 4 jun. 2008.

[14] Da carta do Pe. G. Lux, dirigida ao Pe. Rijs scj, aos 26 de abril de 1938, e citada por Raulino Hilário Bussarello, in Álbun Jubilar, p. 51 a 53.




Observação: Aqui termina o trabalho escrito pelo Padre Eloy. Daqui por diante seguiremos usando outras fontes (preferencialmente as deixadas pelo próprio Padre Eloy em suas muitas obras ou obras por ele usadas, para termos um coesão textual e de pensamento)  para concluir a biografia do Padre Lux.

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Parte B



3ª PARTE

DA MISSÃO BRASILEIRA MERIDIONAL ÀS PROVÍNCIAS BRASIL MERIDIONAL E BRASIL SÃO PAULO



I - Breve Histórico da Presença Dehoniana no Centro-Sul do Brasil 

Os primeiros pioneiros


Quando em julho de 1903 os padres José Foxius e Gabriel Lux desembarcaram na ilha do Desterro, hoje Florianópolis, no Estado de Santa Catarina, ninguém podia imaginar que com a sua chegada estava nascendo uma florescente província que no ano centenário exigiria uma divisão em duas devido ao grande número de membros e à grande expansão de sua atividade pastoral. Os dois pioneiros, em consonância com o desejo dos padres alemães, foram enviados pelo Fundador, Padre Leão João Dehon. Em janeiro de 1904 vieram mais dois padres e um irmão religioso da Alemanha para se ajuntarem aos dois pioneiros. Logo em seguida deixaram a capital e foram para o interior, onde se haviam estabelecido colônias alemãs. Dom Duarte Leopoldo e Silva, Bispo de Curitiba, por um decreto, confiou à Congregação as primeiras paróquias de São Luiz Gonzaga, em Brusque, SC, (criada em 1873) e do Puríssimo Coração de Maria (criada em 1901), em São Bento do Sul, SC.

Foto nº 9: Padre Francisco Xavier Topp em 1905

Foto nº 10: Dom Duarte Leopoldo e Silva

Foto nº 11: Padre Lux e Padre Foxius

Foto nº 12:Padre Dehon em Azambuja


Visita do Fundador (1906)
Padre Dehon, aos sessenta e três anos de idade, e após ter enviado duas levas de missionários para o Brasil: Nordeste e Sul, entusiasmou-se, sobremaneira, pelo Brasil, a ponto de empreender uma viagem de visita aos seus missionários, a fim de conhecer pessoalmente o nosso país e encorajar o ânimo apostólico de seus padres. Esta histórica viagem valeu-nos um livro, que é um interessante diário: “Mille Lieues dans l'Amérique du Sud” (Mil léguas através da América do Sul). Padre Dehon, neste seu livro, fez um completo relato de sua visita ao Brasil, sobretudo às casas e membros de sua Congregação. Esteve durante um mês em Santa Catarina (25.10 a 26.11.1906), visitando as paróquias de Parati, hoje Araquari, São Bento do Sul, Itajaí e Brusque. Em Brusque fez uma importante reunião com os padres, tratando das linhas mestras do futuro desenvolvimento da Região Missionária.


A expansão e a criação da Província
Em 1908, com os reforços de novos religiosos da Alemanha, o contingente de dehonianos já era de dezassete membros. Além das paróquias de Brusque e São Bento do Sul, os dehonianos já estavam atuando em diversas paróquias do litoral do Estado de Santa Catarina, como: Itajaí, Penha, Barra Velha, Camboriú, Tijucas, Porto Velho, Parati. Logo assumiram outras paróquias em Jaraguá do Sul, Botuverá, Joinville e Tubarão. Em dezembro de 1919, os padres Guilherme Thoneick, Fernando Baumhoff e irmão Luís Cronenbroeck já estavam em Taubaté, SP, para assumir a direção dos seminários Maior e Menor; logo em 1921, dois dehonianos estavam na cidade de Rio de Janeiro (em São Benedito dos Pilares, por pouco tempo); no ano seguinte, em Cunha (interior de São Paulo, de 1922 a 1927) e em Minas Gerais.
Nos primeiros anos da história da Região Missionária Brasileira da Província Alemã, além do sério trabalho de formação nos seminários de Taubaté, Brusque e Corupá, foram marcados por um acelerado ritmo de expansão da atividade paroquial e criação do noviciado em Taubaté (em 1928) e, logo em seguida, a transferência do noviciado de Taubaté para Brusque (1932) com a transferência do seminário menor de Brusque para Corupá, SC, e em 1933 a criação da Filosofia em Brusque. E, assim, no dia 25 de abril de 1934, a jovem Região Missionária Alemã foi elevada à categoria de Província Brasileira Meridional (com sede em São Paulo).
Com a criação da Província BM, a Congregação abriu novas frentes nos Estados de Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e, a partir da década de 60 (1960), Paraná (Curitiba e no interior) e assumindo novas paróquias nos Estados onde já estavam. A Missão do Maranhão começou no ano de 1968 e a do Mato Grosso em 1983. No ano seguinte, partiram os primeiros brasileiros para o Congo. Hoje, a província colabora também, nas Filipinas, na Índia, Alemanha, Moçambique e Paraguai. Além dessas novas frentes, a Província BM sempre investiu nas casas de formação, nos seminários, nas pastorais da Comunicação, Vocacional, da Educação, Social, Missionária e Leigos dehonianos. Hoje, através das atividades de magistério em Taubaté e Brusque, certamente com rosto diferente, continua com a atuação da Faculdade Dehoniana, com seu conceituado Curso de Bacharelado de Teologia e Filosofia. Na Pastoral da Formação presbiteral, o Curso de Teologia, no Convento SCJ de Taubaté, durante os seus oitenta anos de magistério teológico (1924 até o final de 2002), formou, para a Igreja no Brasil, 384 padres dehonianos e 332 do clero diocesano e de outros institutos religiosos, totalizando o expressivo número de 716 sacerdotes.


O crescimento sugere mudança de estruturas


A idéia de uma administração mais autônoma entre os padres alemães da Missão Brasileira Regional, já era bem antiga. Segundo os arquivos da Congregação, em Roma, existem correspondências enviadas por padre Inácio Burrichter (+ 1966), no ano de 1926, nas quais ele falava em criar aqui uma província, ou então pelo menos, que houvesse um vice-provincial residindo no Brasil. Mais tarde, desde os anos de 1940, quando já era província e vinha crescendo, vez e outra, levantavam-se vozes isoladas, sugerindo a divisão em duas. Em 1960, já em fim de vida, padre Burrichter, aos setenta e um anos de idade, enviou outra carta ao governo geral, pedindo a divisão do Brasil em três províncias. Sérias ou não, mas alguém pensou em mudanças de estruturas.
Necessidade de novas estruturas mais ágeis.
Na preparação ao IX Capítulo Provincial, em 1987, diante da grande extensão territorial da província e da sua difícil animação da vida religiosa, provincial e administrativa, voltou a idéia de criar novas estruturas administrativas. No último dia deste IX Capítulo, na segunda fase, no dia 18.3.1988, foi aprovada uma moção no sentido de que o governo provincial constituísse uma equipe de estudos para examinar, até o próximo Capítulo Provincial a viabilidade da divisão da Província BM, após consulta a todos os seus membros. O teor da Ata documentava assim: “Trinta capitulares manifestaram-se a favor da moção, onze contra e um se absteve” .
A reflexão foi levada aos setores, fez-se consulta a todos os membros, na qual uma ampla maioria se manifestou a favor da divisão, embora houvesse opiniões divergentes quanto à modalidade: uns queriam, simplesmente, duas províncias, outros, duas províncias e uma região, outros ainda falavam de regiões ou vicariatos equiparados ou não, à província .


Criação das Regiões
A) A criação da Região do Maranhão (MAR)


O debate prosseguiu e constou na pauta do X capítulo Provincial, 8 a 12 de outubro de 1990. No dia 12 foram votadas várias propostas. A idéia de modificação da estrutura da BM foi aprovada por unanimidade; a criação de uma nova província desmembrada da BM recebeu aprovação de quarenta e três votantes sobre quarenta e nove; pelo mesmo número foi aprovada a constituição de uma comissão encarregada de elaborar o projeto da nova província, no prazo de dezoito meses; e por quarenta e cinco votos a favor, foi aprovada a criação da Região MAR .

B) A Região Brasileira Meridional (RBM)


Em 1993 realizou-se o XI Capítulo Provincial (extraordinário), cujo tema central foi a questão da nova província ou outra nova estrutura. O assunto havia sido estudado nos anos anteriores e foi amplamente debatido nas sessões capitulares, em que estiveram presentes o Superior geral, padre Virginio Bressanelli e o Conselheiro geral, padre Silvino Kunz. O Capítulo votou em primeiro lugar a proposta da criação imediata de nova província, que não recebeu a votação necessária. A seguir foram votadas várias outras moções e foram aprovadas estas quatro: 1. “que se crie nova Região”; 2. “que se crie duas novas Regiões”; 3. “que se crie uma Região que englobe os territórios de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e a grande Curitiba”; 4. “que se crie uma Região que englobe o território de Minas Gerais” .
O governo geral, por sua vez, aprovou as moções 1 e 3 e não aprovou as moções 2 e 4. A partir desse Capítulo extraordinário, o governo provincial encaminhou o processo de criação da RBM. Esta, de fato, veio a se concretizar na data de 12 de outubro de 1994 e instalada em 14 de março de 1995.
A experiência e a retomada do processo de divisão
Os sete anos de efetiva experiência da Região da RBM, indicaram a viabilidade da criação da nova província. Para concretizar este passo, os governos provincial e regional retomaram o processo de reflexão sobre o assunto na reunião conjunta dos conselhos da BM e RBM, em maio do ano 2000. Esse assunto foi apresentado em junho de 2000, na assembléia da BM, em Varginha, bem como na assembléia Regional da RBM, em julho de 2000.
Nas sessões dos conselhos regional e provincial, em 20 a 22 de novembro, foi aprovada por unanimidade a decisão de encaminhar ao superior geral e seu conselho o pedido de criação de uma nova província.
Enviado o pedido ao governo geral, que respondeu por meio de carta de padre Carlos Alberto da Costa Silva, com orientações, em 7 de abril de 2001. O governo geral, em cartas, apresentou os requisitos e condições para ereção de província e esclarecendo que não se tratava de desmembrar uma província de outra, mas, de criar duas novas províncias.
Após o encaminhamento de toda a documenta do XIII Capítulo Geral e as moções da criação das províncias ao governo geral e a aprovação deste, dia 2 de fevereiro de 2003, Festa da Apresentação do Senhor, a então Província Brasileira Meridional foi dividida em duas Províncias: a Província Brasileira Meridional (com sede primeiramente em Curitiba e atualmente em Corupá) e a Província Brasileira Central (esta depois renomeada como Brasil São Paulo, com sede em São Paulo).

Fonte: CONGREGATIO SACERDOTUM A SACRO CORDE JESU. Disponível em: http://win.dehon.it/scj_dehon/cuore/dehoniana/2004/2-2004-08-typ.htm. Acesso em: 2. jun. 2015.


4ª PARTE


PADRE LUX EM MISSÃO NO BRASIL MERIDIONAL

I - A Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus em Santa Catarina

Assim teve início a Congregação, hoje existente na universa terra. Também no Brasil. É que o Revmo. Pe. Fundador era muito pelas missões. E como Pe. Thoss, 1º Procurador das missões, lhe apresentasse um dia novo plano de atividades missionárias para os padres alemães, logo obteve a mais calorosa aprovação, acrescida da orientação de pôr-se em entendimento com Pe. Lux, que vinha de regressar do Congo Belga por motivos de saúde. Foram expedidas car¬tas, neste sentido, ao Bispo de Porto Alegre, a Mons. Topp, de Florianópolis, e ao Pe. Carlos Boegershausen, de Joinvile, que imediatamente responderam, fa-zendo as mais convidativas propostas acompanhadas da insistência de virem quanto antes. Decidiram-se por Santa Catarina, atendendo a M. Topp.
Foi em 15 de junho de 1903. À tarde, após a bênção solene na capela do Seminário de Sittard (Holanda), reúnem-se todos, mestres e alunos, no amplo salão nobre, para homenagear a dois missionários: Pe. Gabriel Lux e Pe. José Foxius. Após vários cânticos e discursos de despedida, também eles fizeram uso da pa¬lavra. Pe. Lux descreveu suas atividades missionárias no Equador, donde fôra expulso pelos agentes da maçonaria, descrevendo, a seguir, o país e o povo que formaria seu futuro campo de ação: Brasil Meridional.
Até Paranaguá (Paraná), viajaram a bordo do navio brasileiro "Maceió". De lá, com o navio costeiro "Max", até Florianópolis, onde Pe. Foxius aportou aos 15-07-1903. Como Pe. Lux viesse mais tarde, por haver ido a Curitiba cumprimentar o Sr. Bispo Diocesano, D. José Camargo de Barros, Pe. Foxius foi hospedado por alguns dias na casa paroquial. Ao depois, “...instalaram-se num quarto por cima da sacristia da igreja da Ordem Terceira de S.Francisco, onde a única mobília eram os caixotes em que haviam trazido sua modesta bagagem de além-mar".

Foto n º13: A Igreja de São Francisco da Ordem Terceira de Florianópolis

A instâncias de Mons.Topp, assumiram a direção da Escola Paroquial, que de 40 alunos passou logo a 120. Mas acontece que alguns sacerdotes, de acordo com o fim especial a que vieram, preferiam trabalhar em paróquias abandonadas, especialmente nas do interior. De outra parte, povo e Governo se empenhavam pela fundação de um ginásio. Por várias e ponderáveis razões, por exemplo: falta de professores, dificuldades iniciais do idioma -, não lhes foi possível, aos mencionados Sacerdotes, aceitar cometimento dessa natureza. Pe. Lux, no entanto, querendo unicamente o bem do povo florianopolitano, resolveu oferecer, não só o futuro ginásio, como ainda a Escola Paroquial, aos Revmos. Padres Jesuítas de Porto Alegre. Foi assim que, nas imediações da referida escola, teve início, em princípios de 1905, o Colégio Catarinense, hoje, por sem dúvida, uma glória do Nosso Estado! (*)

Foto nº 14: Padre Lux com seus alunos da Escola Paroquial


Carta onde os pioneiros Lux e Foxius saúdam o Brasil Meridional, seu novo campo missionário 

Hoje, domingo, dia 12 de julho (1903), está prevista a nossa chegada a Paranaguá, donde, embarcados em navio costeiro, prosseguiremos viagem até Desterro. Realmente, lá em baixo, contra os longínquos azuis, vemos, pelo óculo-de-alcance, os contornos escuros do planalto paranaense.
Lá se situa Curitiba, a sede episcopal. Lá se encontra, pois, a terra dos nossos anseios e de nosso destino. O vasto campo de nossas atividades.
É de coração que te saudamos, ó terra brasileira, nova pátria dos padres do coração de Jesus! Não te cobiçamos os tesouros e as riquezas. Para cá viemos, não para deixar-nos em contínua admiração pelas tuas belezas naturais. É propósito nosso, consagrar as nossas energias sacerdotais tão somente à grande obra da propagação e do fortalecimento da fé católica.
Urge, agora, arrumar a bagagem. Despedir-nos do bom “Maceió”, último pedaço flutuante da pátria. Despedir-nos dos simpáticos oficiais e, de modo especial, do sincero comandante Ohlerich. Dos bravos marinheiros e dos amáveis companheiros de viagem. Bem como dos amigos que ficaram na pátria. Chegou a hora de cessarem as alegres conversas, pois o dever, o suado labor nos chama.
Tudo de bom para vocês, queridos amigos! Tudo de bom para vocês, queridos alunos da escola apostólica! Procurem tornarem-se bons e valorosos sacerdotes do coração de Jesus, a fim de que, em breve, possam, lado a lado conosco, ou em nosso lugar, trabalhar na vinha do senhor que, lá ao longe, se estende ante nossos olhos.
Não se esqueçam de nós, quando em oração diante do tabernáculo do senhor e diante da imagem da mãe de deus!
Saudações mil!
Pe. Lux e Pe. Foxius.

Tradução: Padre Eloy Dorvalino Koch


Carta do Padre Lux ao Padre Peters Sobre a Fundação Missionária dos Padres Dehonianos SCJ no Brasil Meridional


Vejo que o Senhor pretende saber algo a respeito dos primeiros entendimentos havidos em torno desta Missão e de seus Primórdios. Escrevo em forma epistolar. Peço que o senhor torne o texto mais palatável aos leitores.
Naquela época, já missionávamos em Regiões Estrangeiras, tal como sucedeu no Congo e no Brasil Setentrional. No entanto, pelo fato de a Congregação ainda não estar dividida em Províncias, às mencionadas Regiões foram enviados membros procedentes de todas as Nações. Mas a partir de 1902, manifestava-se um movimento favorável à separação da Província Alemã, bem como o seu desejo de uma Região Missionária para os alemães.
Pe. José Thoss, então Reitor da pequena Comunidade Sacerdotal em Münstergensen e, a seguir, Reitor da Escola Apostólica de Sittard (Holanda) -, escreveu-me uma carta a Bonn, onde eu residia. Pedia-me que eu procurasse um apropriado campo de apostolado para os Padres Alemães.
A seguir, fomos convocados para uma conferência a realizar-se em Sittard. Nela propus nos instalássemos numa destas Regiões: ou no Chile Meridional, ou na Argentina, ou no Brasil Meridional. Venceu esta última opção.
Pe. Germano José Schmitz foi incumbido destas sondagens. E uma vez bem sucedidas, Pe. José Foxius e eu fomos, em Junho (ou Julho) de 1903, como pioneiros, para a nossa Região Missionária. Na ocasião, Santa Catarina e Paraná constituíam uma só Diocese. Era Bispo de Curitiba: Dom José de Camargo Barros.
Chegados a Paranaguá, nos separamos: Pe. Foxius viajou antes, com destino a Florianópolis, ao encontro do Pe. Francisco Topp; e eu, a Curitiba, para me apresentar ao Bispo. Foi com ele acertado que os dois missionários nos fixássemos em Santa Catarina, e nos puséssemos à disposição do Pe. Topp. De modo que também eu viajei para Florianópolis.
Não obstante a preferência dos nossos confrades d’além-mar ser pela atividade pastoral -, eu achava que devia aceitar a proposta do Pe. Topp: a Escola Paroquial. Porquanto, assim eu poderia ganhar tempo e, com calma, tomar conhecimento das condições do país e do povo, evitando, pois, desacertos, ao aceitar Paróquias; e prevenir fiascos perante olhares, de algum modo, sempre desconfiados ante as primeiras iniciativas missionárias de alemães.
A situação escolar daquele tempo era lamentável. Segundo eu saiba, ainda não havia, em Florianópolis, nenhuma escola do governo. Com exceção do bem dirigido Colégio das Irmãs da Divina Providência, havia somente certo número de Escolas Particulares apoiadas pelo Município, e que, de modo algum, correspondiam às verdadeiras exigências. Também não era melhor a Escola Paroquial do Pe. Topp.
Em 1903, também chegaram os padres Henrique Meller e João Stolte. De modo que, em 1904, abrimos a escola nas laterais da Igreja de São Francisco. A escola foi logo freqüentada, e simultaneamente, por crianças de classe média e por aquelas de classe alta da cidade.
Além de, em primeiro lugar, nos dedicarmos ao ensino -, nossos padres tiveram de pedir auxílio a vários senhores da cidade, tais como: P. J. B. Peters e o Prof. Bueno de Gouveia, da Escola Normal.
Além do nosso magistério na Escola Paroquial, dávamos atendimento pastoral na Igreja de São Francisco. Um pouco antes do Pe. Topp, a vida-de-igreja estava tão para baixo, que raramente alguém vinha à igreja ou freqüentava os Sacramentos. Com o seu zelo total pelos fiéis, e por longos anos, a Igreja tomou um forte impulso. É que faltavam operários na Vinha do Senhor para devolvê-la a uma florescente cidade católica. Pe. Topp era quase o único Sacerdote para aquelas 12 a 15.000 almas.
Quando lá chegamos, só estava representada uma Congregação Religiosa: a das Irmãs da Divina Providência. Também na Igreja de São Francisco, então inteiramente abandonada, e pertencente a uma antiquada Ordem Terceira -, brotava, revigorada, a vida católica. Mais e mais, aumentavam a assistência à santa missa e a recepção dos Sacramentos.
Havia muito que fazer em termos de limpeza e arrumação. Quando assumimos a Igreja, ninguém, até então, se havia importado com o melhoramento do seu ambiente. Só em certas ocasiões, lá era celebrada a santa missa. Devido à umidade, os paramentos ficaram manchados, e roídos pelas traças. O interior do templo, notadamente o altar, estavam abandonados e imundos.
Mas com a ajuda de alguns piedosos e zelosos membros da Ordem Terceira, houve muito escovar e lavar, muitos remendos e novas costuras. De maneira que, em breve, a tão abandonada Casa de Deus brilhava em trajes novos e mais dignos. Tornando-se, aos poucos, uma Igreja alegremente freqüentada por todas as camadas da sociedade.
Nesses trabalhos de faxina, também nos cabia levar em conta as muitas urnas de restos mortais, que se encontravam acomodadas em toda parte nas laterais da Igreja, bem como embaixo e atrás do altar-mor.
O que revela um gesto de veneração para com os parentes falecidos. Como o senhor sabe, junto aos povos latino-americanos é uso não enterrar os defuntos, mas depositá-los em catafalcos construídos no rés-do-chão.
E os membros da Ordem Terceira desejavam, pois, depositar seus falecidos na Igreja da Ordem. Neste sentido, passados alguns anos, retiravam os corpos dos esquifes, e os depositavam em urnas de mármore, a seguir, colocadas nas laterais da Igreja.
Pessoas mais pobres, sem condições de providenciar urnas dispendiosas, contentavam-se com qualquer nicho ou desvão atrás ou debaixo do altar-mor, onde, sem qualquer invólucro, ajeitavam os restos mortais. Alguns iam ao extremo de colocá-los no vão do pedestal duplo das imagens dos santos. Sendo que assim podiam ser conduzidos em procissão pela cidade.
Bem pode o senhor imaginar quanto trabalho deu essa faxina. As bem fechadas urnas até que davam pouco trabalho desagradável. Muito, porém, os inúmeros crânios e ossos escondidos por toda parte, em todo canto, em cada nicho do altar.
Uma vez que as repetidas solicitações pelo jornal não obtinham respostas, resolvi fossem as urnas enterradas debaixo de uma das torres da Igreja. Em meio à crendice popular, ainda correu, por muito tempo, o rumor de que, naquela torre, aparecia uma alma penada: a “mulher seca”.
Aproveitei o primeiro ano para fazer algumas excursões pelo interior do Estado, com o objetivo de melhor conhecer as suas condições. Uma após outra, fomos assumindo as Paróquias de Brusque, São Bento e Itajaí.
Com o correr do tempo, a Escola Paroquial era insustentável. O povo desejava a ampliação da Escola para a Fundação de um Curso Ginasial. Para tanto, porém, faltavam-nos condições financeiras e professores.
Nesta situação, o povo decidiu apelar para os Padres Jesuítas do Rio Grande do Sul. Estes, no entanto, rejeitaram o pedido, pois não queriam fazer-nos concorrência.
A fim de contornar a situação, e também para corresponder à insistência dos nossos Padres, que queriam trabalhar na Pastoral -, eu dirigi, pessoalmente, aquele pedido aos Padres SJ, isto é, no sentido de eles fundarem o Ginásio. Com a sua anuência, deixei esmorecer a Escola, e fui enviando os nossos Padres para várias Paróquias.
Creio, prezado P. Peters, que o relato será o bastante, para o Senhor formar um quadro aproximativo da época para a qual deseja informações.
Caso o senhor desejar algo a mais, é só me comunicar. [...]

Tradução: Pe. Eloy Dorvalino Koch scj
Digitação: Karina Santos Vieira

Notas Explicativas:
Encontram-se na Pasta Individual do Padre Gabriel Lux scj:
1- Carta original, em alemão e manuscrita: uma doação de Beatriz Kormann ao Diretor do Appal, em 1983;
2- O texto em alemão foi digitado por Úrsula Rombach, 03-06-2007




Foto nº 15: Os Padres Gabriel Lux, José Foxius e João Stolte com os alunos da Escola Paroquial de Florianópolis


II - A Congregação em Brusque

Em meados do ano de 1904, o Pe. Lux percorreu várias regiões do Estado de Santa Catarina, a fim de certificar-se pessoalmente das reais necessidades espirituais das populações do interior. Nesta ocasião, passou também por Brusque. E o Pe. Antônio Eising, que já lhe havia dirigido veementes apelos no sentido de enviar sa¬cerdotes que o coadjuvassem na imensa Paróquia, renova então, pessoalmente, o pedido, oferecendo-lhe a Paróquia. Pe. Lux atende. E o primeiro Sacerdote Religioso a trabalhar na cura d’almas em Brusque, foi o Pe. João Stolte scj, como Coadjutor do Pe. Eising. Em sua homenagem, foi escrito o opúsculo Pioneiro Dehoniano em Brusque.

Foto nº 16: Padre Antônio Eising

Foto nº 17: Padre João Stolte

Em fins de julho de 1904, recebera ele, o Pe. Solte, o honroso convite de fazer o sermão sobre o Senhor Bom Jesus, numa igreja de Florianópolis. Pois apesar de não se haver familiarizado ainda com a língua portuguesa, eram muito apreciados os seus sermões, em parte decorados com rara facilidade, e apresentados com espírito apostólico, naturalidade e arte. Não chegou, porém, a proferi-lo. 
Transferido pelo Superior Pe. Gabriel Lux, embarcou no navio costeiro "Max”, e aportou em Itajaí aos 4 de agosto. No dia seguinte, teve como condução um carro-de-mola, que o trouxe a Brusque, onde pernoitou. Indo no dia 6, pela manhã, rezar a missa na então capela de Azambuja. Precisamente no dia em que iria proferir o aludido sermão em Florianópolis. 
Passou a Coadjutor do Pe. Eising por alguns meses apenas, para sê-lo então do Pe. Lux, Vigário pela Provisão de 4 de outubro de 1904, dada por D. Duarte Leopoldo e Silva, segundo Bispo de Curitiba. Pe. Eising, como vimos, retirou-se para Blumenau, onde ingressou na Ordem Franciscana. E Pe. José Sundrup, do Clero Diocesano, e que lhe fora Coadjutor por três anos -, foi nomeado Capelão de Azambuja, e em seguida transferido para Joinvile, em 1905. 
Em princípios de 1905, chegaram os seguintes Padres do S. Coração de Jesus na recém-assumida Paróquia de Brusque: Gabriel Lux (Superior e Vigário), Meller, Lindgens, Schüler e Wollmeiner. Pe. Lux foi Vigário desde 4 de outubro de 1904 até 20 de agosto de 1905. De 19 a 25 de agosto, efetuou-se a 2ª visita pastoral, feita por D. Duarte Leopoldo e Silva, 2º bispo de Curitiba, ocasião em que Pe. João Stolte, pela provisão de 21 de agosto, fôra nomeado Vigário; sendo que Pe. Lux passava a Fabriqueiro-Administrador de Azambuja. (*)

Foto nº 18: Dom Duarte Leopoldo e Silva com os Padres Antônio Wollmeiner, Henrique Meller, Henrique Lindgens, Gabriel Lux, João Stolte, José Foxius e Francisco Schüller em agosto de 1905 em Brusque


III - Fase de Empreendimentos e consolidação em Brusque: 1904-1920

A fase de consolidação operava-se na Paróquia propriamente dita; a de empreendimentos, em Azambuja. Por consolidação, entendo o trabalho de manter e firmar as obras existentes, e a mais completa dedicação à cura d’almas. Por empreendimento, a realização de novas iniciativas, de trabalho mais de ordem material, como construções - se bem que destinado ao espiritual. Por conseguinte, não se nega, até certo ponto, a este o que se atribui àquele, e vice-versa. Assim como a conservação do mundo é de importância igual à de sua criação, também manter e consolidar iniciativas é tão importante como concretizá-las. E porque a consolidação não se reveste de tanto brilho, pode até tornar-se mais meritória.

Foto nº 19: Brusque no começo do século XX

Foto nº 20: Brusque no começo do século XX

Foto nº 21: A Igreja matriz São Luis Gonzaga de Brusque no começo do século XX



Fase de empreendimentos em Azambuja

Depois da visita pastoral em Brusque, D. Duarte se dirigiu a Blumenau com a mesma finalidade. De lá baixou um Decreto a lº de setembro, que desmembrava: da Paróquia, o Santuário de Azambuja, elevando-o à dignidade de Santuário Episcopal, a ele anexo o hospital e todo o território, "provendo no cargo de Fabriqueiro-administrador... ao Revmo. Pe. Gabriel Lux, a quem concedia todas as faculdades para dirigir, reger e administrar o dito Santuário e Hospital, como Delegado da Autoridade Diocesana...”. A esta provisão seguiu-se imediatamente outra: no mesmo dia, nomeando o sr. José Kohler auxiliar do Pe. Lux.
Esse decreto, bem como a Provisão referente a Pe. Lux, constituem um marco importante e decisivo para o desenvolvimento de Azambuja.

Foto nº 22: Padre Gabriel Lux no início de seu ministério no Brasil


A fase de administração do Pe. Gabriel Lux, SCJ, experimentou grande progresso. Cedo ele sentiu a necessidade de ampliar o hospital ou empreender uma nova construção, alternativa esta preferida pelo Bispo.
O Pe. Lux não perdeu tempo; já em 1905 lançou-se a levantar um prédio de alvenaria. É o que hoje abriga o "Museu Dom Joaquim". O Hospital antigo ficaria reservado para asilo de velhinhos e aleijados. Prossegue a nova construção com muitas dificuldades; por um lado, a extrema pobreza do povo, por outro lado, a obra era considerada avançada para aquele tempo.
Mesmo assim, e desta vez com um auxílio de 25 contos do Governo, deu-se começo em 1909, à construção do hospício de alienados. Com tais obras, o Pe. Lux pretendia racionalizar o atendimento aos doentes: um pavilhão para asilo, outro para enfermos em geral, e um terceiro para dementes.
Entrementes, em 1908, Santa Catarina passara a ser Diocese, desmembrada de Curitiba, sendo eleito para seu 1º Bispo Dom João Becker. Este visitou Azambuja em 1909 e 1911. Manifestou, nessa ocasião, grande admiração pelas obras em andamento neste pequeno recanto e já com fama de sagrado.
O novo Hospital, com 2/3 da construção pronto, foi inaugurado em 1911. No ano anterior, o número de pessoas internadas somou: 330 no hospital, 22 no asilo e 8 no hospício. Por volta de 1915 chegou o Dr. Melcopp, o 1º médico a trabalhar em Azambuja.
O Hospício de alienados fundado pelo Padre Lux foi o primeiro estabelecimento do gênero no Estado, e que serviu até 1942, quando foi transferido para a Colônia Sant'Ana (curiosamente os tijolos do seu prédio forma usados depois para a construção do atual Santuário de Nossa Senhora de Azambuja; já o local do Hospício foi ocupado pelo Seminário Metropolitano Nossa Senhora de Lourdes). Os dois Excelentíssimos Senhores Bispos de Florianópolis: D.João Becker e D. Joaquim Domingues de Oliveira, não lhe regatearam, ao zeloso e fiel administrador e competente arquiteto e construtor, os mais expressivos elogios, perenizados no Livro do Tombo do Santuário. 
Vale anotar que o grandioso edifício do Pe. Lux construído para o Hospital (àquele tempo chamado de Santa Casa de Miserciórdia), a partir de 1927, e por vários anos, serviu ao Seminário Menor da Arquidiocese. Desde 1960, o antigo Hospital e Seminário se transformou no importante Museu Arquidiocesano Dom Joaquim.
Em 1920, Pe. Lux se retirava para Vargem do Cedro. E substituiram-no, sucessivamente, os seguintes padres scj: Vilibaldo Junkmann, José Borgamnn, Carlos Keilmann e Henrique Lindgens. Em 1927, encerravam-se, em Azambuja, as atividades dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, sucedidos, então, pelos Revmos. Padres da Arquidiocese. Inicialmente, na pessoa do mui benemérito Pe. Jaime de Barros Câmara, DD. Reitor do Incipiente Seminário, mais tarde, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro. Por sem dúvida, uma glória da Igreja! (*)

Foto nº 23: Azambuja em 1907: já se tem as fundações do novo prédio do Hospital

Foto nº 24: 1909: O novo prédio do Hospital está com as obras bem adiantadas

Foto nº 25: 1915: Azambuja com a sua primeira ermida, o Santuário, o Asilo. o Hospital e o Hospício de Alienados

Foto nº 26: 1915: Prédio do Hospital construído apenas em dois terços por Padre Lux

Foto nº 27: Santuário de Azambuja: o primeiro de Santa Catarina

Foto nº 28: A primeira sede do Hospital de Azambuja

Foto nº 29: O Hospício de Alienados

Foto nº 30: As Irmãs da Divinda Providência no Hospício com o grupo feminino

Foto nº 31: Padre Lux no Hospício com o grupo masculino

Foto nº 32: O primeiro prédio do Asilo

Foto nº 33: Vista para Hospício, Hospital, Asilo e Santuário

Foto nº 34: O antigo Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio de Azambuja

Foto nº 35: Azambuja

Foto nº 36: O antigo prédio do Hospital, hoje Museu Arquidiocesano Dom Joaquim, cujo projeto fora concluído na reitoria do Padre Jaime de Barros Câmara: vista frontal

Foto nº 37: O antigo prédio do Hospital, hoje Museu Arquidiocesano Dom Joaquim, cujo projeto fora concluído na reitoria do Padre Jaime de Barros Câmara: vista traseira

Foto nº 38: Vista de Azambuja atualemente: O Seminário, o Museu. o Santuário, o Hospital

Foto nº 39: Azambuja: notar a gruta


Fonte *: KOCH, Eloy Dorvalino. Catolicismo em Brusque: Recordação do Centenário. Brusque: Sociedade Amigos de Brusque, 2010.

IV - Seminário Sagrado Coração de Jesus

A Escola Apostólica de Brusque, fundada em 1924 graças aos esforços do padre Germano Brand, com capacidade para 30 seminaristas, já não comportava os pedidos de admissão que cresciam dia-a-dia.
Não sendo possível o aumento da construção, visto estar sediada em um terreno que não pertencia à Congregação e muito irregular, partiu-se para outras possibilidades, até a oferta da comunidade católica de Hansa Humbold (atual Corupá), na pessoa dos Srs. Adolfo Baeumle, José Mueller e Guilherme Thiemann, que almejavam a assistência sacerdotal no município. Dom Joaquim deu uma procuração ao Padre Lux em 1927 para encontrasse um terreno no âmbito da Paróquia de Jaraguá do Sul  para que aí se construísse um seminário ou casa postólica
Padre Pedro Storms, superior regional na época, incumbiu o padre Jacó Gabriel Lux, competente construtor, de projetar a planta da nova obra e de executá-la. Ao padre Pascoal Lacroix coube a tarefa de angariar fundos, junto a generosa população de São Paulo e do Rio de Janeiro, para financiar a obra.
Os trabalhos iniciaram no ano de 1929 e a inauguração da primeira parte da construção do seminário deu-se em janeiro de 1932, com a chegada dos primeiros seminaristas.
Como conseqüência daqueles tempos economicamente difíceis, conserva-se ainda o estilo de construção de tijolos à vista.

Foto nº 40: 1928: Construção do Seminário de Corupá

Foto nº 41: 1929: Inauguração do Seminário de Corupá por Dom Pio de Freitas

Foto nº 42: Seminaristas trabalhando em Corupá

Foto nº 43: Corupá com o Seminário inconcluído

Foto nº 44: Corupá com o projeto para o Seminário concluído

Foto nº 45: Seminário de Corupá hoje: concluído e aumentado


Tanto o Hospital de Azambuja (1907) (atual Museu Dom Joaquim) quanto o Seminário de Corupá (1927) tiveram a mesma fonte de inspiração para seus projetos arquitetônicos : o Seminário de Sittard, tão caro ao Padre Lux.  Na verdade o Seminário de Corupá lembra bem mais o Seminário de Sittard que o prédio de Azambuja.

Fontes: SEMINÁRIO DE CORUPÁ Disponivel em: http://www.seminariodecorupa.com.br/?page_id=220. Acesso em: 2. jun. 2015.
SEHNEM, Padre Francisco. Vida e Obra de um pioneiro: Padre Jacó Gabriel Lux, SCJ.


V - Vargem do Cedro - São Martinho


O último lugar no qual Padre Lux trabalhou foi o Curato de São Sebastião de Vargem do Cedro (atualmente Distrito do Município de São Martinho) no encargo de Vigário (hoje o título Pároco). O Curato de Vargem dos Cedros compreendia territorialemente os Distritos de Vargem dos Cedros alta e baixa, São Martinho, São João do Capivarye do Chicão, sito o último na serra do Cubatão na divida das águas entre o Rio Capivara e eo Rio D'Una. Para aí foi designado e ficou até sua morte, e só se ausentou nos períodos em que foi incumbido da construção do Seminário de Corupá (1927-1932). Aliás, são as palavras do Padre Lux no Livro de Tombo de Vargem do Cedro as primeiras sobre a história desse lugar.
Foto nº 46: Padre Lux entre os paroquianos

Sacerdote para todos era o amigo, o pastor, orientador, o consolador dos aflitos e pobres, homem de profunda oração, pai dos colonos, construtor da Igreja Matriz e das capelas da Paróquia. Sabe-se que construiu a igreja matriz de Vargem do Cedro e as capelas de São Martinho, São Luiz (antiga) e Bom Jesus. Foi também grande batalhador em prol das vocações sacerdotais e religiosas. Muitos moçoes descobriram a vocação sacerdotal sob a orientação espiritual do Padre Lux. E muitas moças tomaram o caminho da vida religiosa, inspiradas no exemplo da (Beata) Albertina Berkembrock.
Padre Lux tinha grande conhecimento nas ervas medicinais, ajudando a muitos a curarem-se de enfermidades, num tempo em que o acesso a hospitais era precário. Possuía também um belo pomar com ampla veriedade de frutas e introduziu a criação de carpas na região. Foi também o professor de alemão dos jovens, sendo assim, com a biblioteca da casa paroquial, o responsável pela alfabetização de muitos.
Aos domingos Padre Lux ministrava  catequese e palestras (a homens, mulheres e jovens separadamente) e ensinava o que era lícito ou não. Era um homem rígido, mas muito bom com o povo.
Homem muito piedoso e de oração. Celebrava a Santa Missa todos os dias de manhã as sete horas e fazia questão que todas as crianças da escola participassem do Santo Sacrifício da Missa. Todos os alunos, morassem longe ou perto, fosse inverno ou verão, particiapavam da Missa matutina. Um bom número de adultos também se faziam presentes.
Aos Domingos ele celebrava duas missas: uma às 7h e outra às 9h30 ou 10h, snedo esta sempre mais solene. Após a Santa Missa havia sempre um momento de Adoração e Benção com o Santísismo.  Muitas vezes havia também Adoração e Benção do Santíssimo Sacramento aos Domingos à tarde. Após a benção os jovens não podiam ir logo para casa. Deviam ficar na praça e participar de vários jogos. Ele passeava na praça ou na frente da igreja  rezanso o Terço. Quando batia o Ângelus todos os jogos paravam imediantamente. Rezava-se o Ângelus e depois  todos deviam ir para suas casas. 
Após a Santa Missa durante a semana ele ia tomar o seu café, o que fazia sempre na casa das irmãs. Depois andava por longo tempo ao lado da igreja rezando o breviário e fazendo leituras. À tarde o "passeio" se repetia com reza do breviário e do terço. Observava todo o movimento da praça. 
Padre Lux era correto em tudo. Muito pontual e rigoroso. Tudo devia acontecer no minuto exato. Nada devia aconetecer um minuto após a hora marcada. Ele tinha um grande amor pelos paroquianos e não media esforços e sacrifícios para atender os doentes, fosse dia ou noite. Estava sempre pronto e ia a cavalo ou mesmo a pé. 
E em tudo seus paroquianos o obedeciam nas normas que dava. Todos os paroquianos o respeitavam e amavam. As crianças e mesmo os adultos o cumprimentavam com a saudação "Grüss Gott" (Louvado seja Deus).
Tinha um grande amor à natureza e incentivava a todos à preservá-la. Exortava para que não se cortasse uma árvore sem necessidade (obviamente devia ter consciência da necessidade do equilíbrio ecológico). Plantou muitas árvores, tendo inclusive sido trazidas da Alemanha. Tendo muita grama ao redor da igreja andava descalço nela depois que chovia, pois dizia ser bom para a saúde.
Ele mesmo escolheu o local em que queria ser sepultado: em frente à grande cruz, no cemitério debaixo de uma enorme e linda árvore.
Da doença que lhe foi fatal só falou ao seu superior provincial depois de se sentir mal: câncer na garganta. Ainda assim celebrava a Missa normalmente. Numa Missa já se via que ele não podia mais continuar. Foi ao altar como sempre e em vez de ler o Evangelho pegou o cálice, desceu os degraus do altar (conforme a liturgia prescrevia na época) e voltou para a sacristia com dificuldade, onde lhe caiu o cálice das mãos. Algumas pessoas o ajudaram a ir até a casa paroquial. Viveu mais alguns dias quando a Mãe do céu o levou. "Para grandes e pequenos deixo um exemplo de respeito e fé".
É lembrado como um homem corretíssimo e íntego. Era culto, piedoso, empreendedor, bom administrador, arquiteto de muitas e grandes obras. deixou traços marcantes no coração das pessoas. em Vargem do Cedro era  padre, médico, arquiteto, comandante geral. Um patriarca amado e respeitado pelo que sabia e fazia pelo povo. Vivia vida de asceta.
Transpirava amor, renúncia,paz, serenidade e maturidade na provação. Ousado nos empreendimentos, santo em vida, incomodava os que não queriam que os padres fossem populares e tivessem influência sobre o povo. Viam seu trabalho como ingerência política. 
Faleceu  em 4 de dezembro de 1943. às 4h15, aos 74 anos de vida. 
Munido dos Sacramentos, em presneça de seu sucessor (como Vigário de Vargem do Cedro) Padre Carlos Enderlin, da Reverendíssima Irmã Maura (da Congregação das Irmãs Franciscanas de São José) e dos fabriqueiros João Boeing, Jacó Effting e Rudolfo Feuser, o Padre Gabriel Lux entregou sua alma ao Criadorque certamente lhe deu a coroa prometida de servo bom e fiel. 
Ás 5h da tarde o corpo foi levado para a igreja matriz onde foi velado até o dia seguinte. Todos rezavam pela alma do pastor.
No dia 5 de dezembro foi celebrada a Missa de réquiem, presidida pelo Padre Geraldo Spetmann, sendo diácono o Monsenhor Francisco Giesberts e subdiácono o Padre Carlos Enderlin. Depois da Missa o Monsenhor Giesberts fez um discurso sobre a vida e as atividades od Padre Gabriel Lux. Em seguida, com grande assistência de fiéis o corpo foi levado para o cemitério de Vargem do Cedor, onde foi sepultado diante da Cruz da Missão. O Padre Geraldo Spetmann fez a cerimôia religiosa. Ele exortou o povo a rezar muito pelo Padre Gabriel. "Deus que chamou para si o seu servo fiel lhe conceda o descanso e a luz eterna".


Foto nº 47: Padre Lux e seu jaleco: usava já em Azambuja

Foto nº 48: Um servo entre tantos

Foto nº 49: Retrato do cotidiano

Foto nº 50: O pastor com as pesquenas ovelhas

Foto nº 51: Dehonianos do Brasil Meridional reunidos com o Superior Geral  Padre Joseph Laurent Philippe

Foto nº 52: A Primeira Missa do Padre Aloísio Boeing

Foto nº 53: A Igreja de São Martinho

Foto nº 54: A Igreja Matriz São Sebastião de Vargem do Cedro no tempo de Padre Lux

Foto nº 55 A Igreja São Sebastião de Vargem do Cedro hoje

Foto nº 56 A Igreja São Sebastião de Vargem do Cedro hoje

Foto nº 57 A Igreja São Sebastião de Vargem do Cedro hoje

Foto nº 58 A Igreja São Sebastião de Vargem do Cedro hoje

Foto nº 59 A Igreja São Sebastião de Vargem do Cedro hoje

Foto nº 60 A Igreja São Sebastião de Vargem do Cedro hoje

Foto nº 61 A Igreja São Sebastião de Vargem do Cedro hoje

Foto nº 62 A Igreja São Sebastião de Vargem do Cedro hoje

Foto nº 63 Vargem do Cedro hoje

Foto nº 64 Vargem do Cedro hoje

Foto nº 65 Vargem do Cedro hoje 



VI - Uma carta de 1921

Cabe-nos ainda uma adendo. Consta no arquivo do Padre eloy uma carta datada de 1921 endereçada a Elisa Kormann, provavelmente moradora de Azambuja-Brusque, senão de outro bairro de Brusque. É do princípio do trabalho do Padre Lux em Vargem do Cedro. Temo-la abaixo:

Vargem do Cedro, 30/07/1921
Mui distinta Senhora Elisa Kormann!

Alguns dias atrás, fiz uma visita a Rio Fortuna. E lá deparei uma carta, que a Sra. endereçara a mim no dia 1º de março. Nada sei do longo paradeiro da carta. Já faz um mês que também estive em Fortuna, e a carta lá não estava. A Sra. poderá ter pensado assim: “ou a minha carta se perdeu, ou o Pe. Lux não me respondeu”. O primeiro caso poderia ter ocorrido facilmente, porque os nosso Serviços Postais são péssimos. O segundo caso, não. Porque me é demasiado prazeroso receber uma noticia da senhora.
Já vai para um bom tempo que Pe. Meller é Vigário em Jaraguá do Sul. No mês de maio, fiz-lhe uma visita. Quanto a mim, como a Sra. vê, não me encontro em Rio Fortuna, mas em Vargem do Cedro, desta vez, pois, a boa Irmã Godebarda se enganou.
Após a minha partida de Brusque, parei algum tempo em São Bento do Sul. Partindo daí em setembro do ano próximo passado, viajei ao Rio Grande do Sul, de lá voltando em dezembro. Em janeiro do ano seguinte, o Sr. Bispo me transferiu para Vargem do Cedro: um pequeno Curato, onde somente moram famílias alemãs e católicas. Aqui vivo pacato e retirado, em meio a esse povinho bom e simples. Eles não tem uma Praça. Ao lado da Igreja encontram-se uma pequena Casa Paroquial, a casa dos Professores e uma Venda. Não temos nem Correio nem Telégrafo. Nem sequer caminhos. Somente picadas para mulas. Por vezes, faço uma visita aos nossos Padres em Rio Fortuna, numa viagem com mais de 7 horas a cavalo. Também eles vêm visitar-me. Lá, se encontram o Pe. Baumeister e Pe. Peters, sendo que este se encontra em viagem a Jaraguá, ocasião em que provavelmente também terá visitado Brusque.
Pelo que percebo a Sra. ainda tem esperança na minha volta para Azambuja! Não creio que a sua esperança possa realizar-se. Porque a mim mesmo me falta vontade de para lá voltar. Não obstante eu, por assim dizer, estar ligado a todas pessoas de lá. Se eu tivesse insistido na volta, certamente já teria voltado há muito tempo. Aliás, não pela vontade do Superior, mas pela do Sr. Bispo. Sem ordem expressa, não mais, voltarei para lá. Desde que aquela briga feia, sobre a qual não preciso silenciar, uma vez que, de há muito, e por todos conhecida -, Azambuja me deixou desmotivado. Além disso, eu agora lá iria deparar um ambiente de tantas modificações, que dificilmente poderia readatar-me. E me, pois, preferível permanecer onde estou.
Já faz muito tempo, que de lá não mais recebi notícias. Fui informado sobre a transferência da Irmã Godebarda para Blumenau. No início do corrente ano, encontrei-a em Desterro. Não estou a par sobre se houve também outras transferências. Se ainda estiverem aí as Irmãs Roberta, Godovira e Gratiana, queira transmitir-lhes minhas saudações; também às demais Irmãs conhecidas de Azambuja. As 3 aqui mencionadas foram, por longos anos minhas auxiliares no Hospital e no Asilo dos Alienados. Diga-lhes que guardei até hoje a promessa que lhes fiz naquele tempo.
Agradeço-lhe de coração pela boa lembrança que a Sra. fielmente guarda a meu respeito. É de coração que envio minhas saudações a Sra., a seu marido e a seus filhos.
Cordialmente,
Pe. Lux.

Alguns comentários: Não se sabe exatamente a que fatos ocorridos em Azambuja antes de sua partida Padre Lux se refere. Pode se tratar da "perseguição" que os padres estrangeiros sofreram no Brasil durante a 1ª Guerra Mundial, onde foram proibidos de dirigir obras sociais como colégios.  A própria comunicação em línguas como alemão e italiano estiveram sob suspeição (e seria ainda pior durante a 2ª Guerra Mundial). Alguns padres chegaram a ser demovidos das paróquias. Isto aconteceu com os confrades dehonianos de Padre Lux em Itajaí, de população de maioria brasileira. Em Brusque parece não ter havido tal problema, pois a maioria da população era de recente origem alemã, italiana ou polonesa. Viviam ainda alguns imigrantes. Mas pode ter havido algum problema com Padre Lux por ele ser alemão. A comundidade azambujense era italiana. enfim, é uma suposição.
Certo é que durante a década de 1920 as irmãs que trabalhavam no Hospital de Azambuja insistiram muito que Padre Lux retornasse à Azambuja, uma vez que após sua transferência o Santuário de Azambuja (para onde acorriam muitos peregrinos) estava com atendimento sacerdotal defasado, já que os padres dehonianos tinham muito trabalho na grande Paróquia de São Luis Gonzaga e nenhum havia sido nomeado Reitor do Santuário no lugar do Padre Lux. 
Esta situação chegou ao ponto que, como se sabe, o Arcebispo de Florianópolis, Dom Joaquim Domingues de Oliveira numa só decisão transferiu o Seminário Nossa Senhora de Lourdes de Florianópolis para Azambuja e ao mesmo tempo fez do Reitor do Seminário também Reitor do Santuário (Padre Jaime de Barros Câmara). Com a chegada de outros padres posteriormente o problema do atendimento ao Santuário de Azambuja e ao Hospital se sanaram. 
Embora os Dehonianos não tenham, em princípio, aceitado muito bem a "tomada" de Azambuja sem maiores comunicações por parte do Arcebispo, depois de tanto trabalho realizado pelo Padre Lux, a situação revelou-se boa por dois motivos:
1- Os dehonianos puderam melhorar o atendimento paroquial, uma vez que Azambuja, com todas as suas obras, demandava muito esforço,
2- Em 1954 Dom Joaquim, como reconhecimento pelo trabalho dos dehonianos e como uma forma de reparar a ação intempestiva de 1927 decidiu doar, à contragosto do clero arquidiocesano, o terreno onde o Convento Sagrado Coração de Jesus estava construído (e que pertencia à Paróquia São Luis Gonzaga, e, portanto, à Mitra Metropolitana de Florianópolis) à Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, via Província Brasil Meridional.



VII - Bitter: Uma curiosidade

Para encerrar este trabalho uma curiosidade: a receita do tradicional bitter do Seminário de Corupa, segundo a lenda, é do Padre Gabriel Lux.
Diz o Site do Seminário de Corupá:
Seguindo a tradição das Grandes Abadias e Mosteiro Europeus, o Seminário de Corupá traz a público uma de suas receitas mais nobres. Criado pelo Padre Alemão Gabriel Lux e guardada a sete chaves nos últimos oitenta anos, o Bitter, até então reservado aos religiosos do seminário, é um amaro de ervas, de excelente sabor e de notório equilíbrio, que agrada o mais refinado paladar.
Sua elaboração obedece a uma apurada seleção de ingredientes, ajustado tempo de produção e respeito rigoroso ao tempo de envelhecimento,
obtendo uma bebida de inigualável sabor. Nos últimos anos à fórmula original foram acrescentadas ingredientes tipicamente regionais agregando ao produto um sabor notadamente tropical. Além do sabor diferenciado e embalagem exclusiva desenvolvida especialmente para o produto, é produzido de forma artesanal, o que faz com que cada unidade seja exclusiva. Além disso, o rótulo envelhecido e os elementos visuais utilizados na embalagem remetem às origens do produto.
Apresentado em embalagens exclusivas de 750ml, 500ml e 250ml não deixa de ser uma boa opção de presente. Pode ser apreciado como aperitivo ou digestivo puro ou com gelo ou até mesmo acompanhando a elaboração da brasileiríssima caipirinha.
Tradição, excelência e qualidade: indicativos de um produto único para um público diferenciado.
Todos os produtos são comercializados na Loja de Souvenirs do próprio Seminário.

Fonte: SEMINÁRIO DE CORUPÁ. Disponível em: http://www.seminariodecorupa.com.br/?ministries=adega. Acesso em 3. jun. 2015.

Foto nº 66 Propaganda do Bitter do Seminário de Corupá





Detalhe do projeto do Hospital de Azambuja (atual Museu): Frontispício



ANEXO
O Colégio do Sagrado Coração de Sittard













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