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quarta-feira, 10 de junho de 2015

Padre Carlos Boegershausen - Primeiro Vigário de Joinville

PE. CARLOS BOEGERSHAUSEN
Primeiro Vigário de Joinville

Pe. Eloy Dorvalino Koch scj
(tradutor)

Observações preliminares do tradutor


1ª - Pe. E. Schätte, franciscano, nasceu na Alemanha (1872). Ordenou-se sacerdote no Brasil (1902). Uma longa e meritória vida consagrada à educação: por exemplo, no Colégio S. Antônio de Blumenau, onde foi professor por 20 anos, e 3 como diretor (1912-32). Conhecido pesquisador da História de Teresópolis (RJ) e de várias colônias teuto-catarinenses. Faleceu em Petrópolis (RJ), aos 12/07/1960 (Cf. REB, set. 1960, p.844).  Cheguei a conhecê-lo em Brusque (anos 50), numa homenagem a ele prestada pela “Sociedade Amigos de Brusque - SAB”. Foi professor do meu primeiro professor Antônio de Souza Pereira (Ituporanga – 1928-1930).
2ª - Artigo publicado na revista mensal “Der Wegweiser” (O Indicador de Rumo), pelos Padres Dehonianos SCJ de Brusque, de 1929 a 1938.
3ª - Porque repetitivas no final do artigo, optei por omitir os dois parágrafos iniciais.


1- Juventude e Formação

Carlos Boegershausen nasceu aos 16 de agosto de 1833, numa aldeia de Hanover, no Distrito de Goslar. Seus pais eram honrados e simples camponeses.
Bem sabiam eles educar os seus filhos no verdadeiro temor de Deus. Seu filho Carlos progredia a contento na Escola Primária. Revelava amor ao estudo. E desde cedo, manifestava o desejo de ser padre.
O Vigário do lugar apoiava essa vocação do garoto. E fez com que, em 1846, o menino pudesse ingressar no ginásio “Mariano-Josephinum” de Hildesheim.
Seu pai morreu cedo. Mas o irmão dele, o piedoso e honrado Vigário Karl Boegershausen, assumiu prontamente o seu lugar. É que esse tio do es­tudante fôra nomeado Vigário da Igreja da Santa Cruz, em Hildesheim. Tornando-se, pois, pai adotivo e conselheiro do jovem que, dias seguidos, parava na casa paroquial. Onde também tinha o mais belo exemplo de atividade sacerdotal. Influência que fortalecia a vocação sacerdotal do sobrinho ginasiano.
Munido de brilhantes atestados, o moço Carlos, de 19 anos, ingressou na Faculdade de Filosofia e Teologia daquela cidade. Também nesses cursos superiores ele granjeou o contentamento e a confiança dos seus professores.
Em 1857, foi ordenado sacerdote pelo Sr. Bispo Eduardo Jacó Wedekind. Após a celebração das primícias sacerdotais em sua terra, voltou para o Seminário. Aqui, o Reitor Matte o introduziu na prática da atividade pastoral. Preparando-o para sacerdote autônomo, digamos, para o futuro missionário, capaz, portanto, de desenvolver frutuosa atividade pasto­ral.
Na Festa da Porciúncula, que ocorre em 2 de agosto (referente à 1ª casa franciscana, perto de Assis, Itália), Pe. Carlos foi encarregado de fazer o sermão principal na Capela do Seminário, porque era o melhor orador da turma. E saiu-se muito bem.
Um pouco antes, a Companhia Colonizadora de Hamburgo de 1849 havia dirigido ao Bispo de Hildesheim um pedido no sentido de enviar para a nova Colônia Dona Francisca – Joinville, em Santa Catarina, um sacerdote idôneo.
O Bispo fez a proposta ao padre do Seminário, Carlos Boegershausen: "um sacerdote de muita firmeza e cumpridor dos deveres”, o qual, decididamente, concordou com o plano.
O Bispo logo tratou de o candidato adquirir alguma experiência de auxiliar de enfermagem no hospital, e alguns conhecimentos na preparação de alimentos comuns. Provisionou-o de paramentos e de todos os apetrechos de igreja. Também de uma pequena e seleta biblioteca, e de utensílios de casa e mesa. A seguir, impunha-se uma rápida despedida, e a viagem para Hamburgo.
Pe. Carlos teve a sorte de encontrar um bom companheiro de viagem. É que a Companhia Colonizadora também providenciara um médico para Joinville. Era justamente o seu antigo colega e amigo de escola: o Dr. Wigand Engelke, da Policlínica de Munique. Ambos chegaram em Hamburgo na mesma data. Aqui firmaram os seus contratos com a Companhia. O Cônsul Geral do Brasil, Barão de Paraguaçu, os aprovou e lhes apôs a assinatura.

2 - Viagem para o Brasil

Sobre esta viagem, Dr. Engelke escreveu o seguinte relato: "Aos 25 de agosto de 1857, o padre e eu, e mais 48 passageiros de 3a classe, todos em viagem para a nova Colônia -, fomos levados a bordo do pequeno veleiro Lucie Caroline. Entre os emigrantes encontravam-se os antepassados da família Valentim Hess, atualmente residente em Luiz Alves. Na época, bar­cos a vapor ainda não viajavam para o Brasil. O capitão Henrique Meincke comandava um velho timoneiro e 5 marujos.
Na parte traseira do navio, havia um camarote de 5 x 6 m. Nele achava-se uma pequena sala com dois leitos. Era o nosso aposento. Pe. Car­los não dispunha de espaço para celebrar a santa missa a bordo. Aos domingos, ele sempre fazia uma pregação sobre o Evangelho, se­guida de uma reza. Muitas vezes, também reunia as crianças e lhes dava lições de catecismo, e os adultos gostavam de ouvi-las.
Nossa viagem foi favorecida por muito bom tempo. Nas proximidades do Equador, tivemos, por diversas vezes, calmaria total e, certa vez, uma tem­pestade com mar agitado, a ponto de o Capitão sofrer enjôo.
Ocorreram vários episódios divertidos. Freqüentemente, o muito viajado Capitão nos falava a respeito de países e povos. Também nos levava a ob­servar o maravilhoso céu estrelado e fenômenos marítimos. À noite, os três cantávamos as nossas mais bonitas canções.
Aos 8 de novembro, avistamos terra. Não havia um mapa especial do Brasil. Nosso Capitão somente sabia que o destino da viagem seria São Francisco, onde os colonos seriam recepcionados para a viagem a Dona Francisca. Cauteloso, deixava que seu naviozinho avançasse.
Por sorte, tínhamos a bordo um passageiro que já fizera essa viagem. Aos 11 de novembro, ele reconheceu, bem ao longe, o surgir do Morro da Tromba, na região da Colônia.
Em poucos instantes, anoiteceu, e nada de lua. O Capitão içou a bandeira, a pedir a vinda de algum prático. Mas não apareceu ninguém.
Já estávamos nas proximidades da Ilha da Graça. A maré alta, em total calmaria, mostrava-nos o caminho.
As velas foram amainadas. Na proa, dois marinheiros ocupavam-se com sondagens. O Capitão falou-nos: "Não tenham medo; a maré os levará sozinha ao Porto de ”Santa Francisca!”
Aos poucos, surgiam no horizante algumas luzes isoladas de barcos pes­queiros. Depois vinham em série. Mas daí em diante, foram-se apagando. Já reinava uma noite escura como breu. Pedimos ao Capitão que ancorasse o velei­ro. As âncoras rangeram, e o "caixão" ficou parado.
Ao amanhecer do dia, notamos que havíamos estacionado a 20 m de uma ro­cha, e apenas a 100 m do Porto, que logo foi alcançado.
Assim que ancoramos, um barco trouxe três senhores a bordo: um Fiscal Aduaneiro, o Vigário de São Francisco: Pe. Benjamim Carvalho de Oliveira, e o Juiz de Direito, Dr. Antônio da Silva. Eles falavam em português, lín­gua para nós desconhecida. Mas interveio o divertido Capitão: "Eu falo uma língua universal, entendida por todos”.  Ato contínuo, apresentava-lhes a mesa posta, e convidou: "Entrai, Senhores, no ‘Kajüte’ (=câmara) por favor!” E os senhores, bem humorados, aceitaram o convite.
Não se conseguiu entabular uma conversa, até que Pe. Carlos me fez uma conversa em latim. E os dois visitantes a entenderam. De modo que começou animada conversa em latim. Foi com prazer que aceitamos o convite de dar um giro pela cidade.
Procedentes de São Francisco, vieram visitar-nos, ao meio dia, o Diretor da Colônia, Sr. Léonce Aubé, e vários outros Senhores. A nós recém-chegados, eles ofereceram uma refeição. A seguir, ao som de música e espocar de fo­guetes, nos conduziram ao porto. Viajando de barco, chegamos a Joinville pela tardinha.
Fomos hospedados na Casa do Diretor. Pelas 9 horas, formou-se um desfile luminoso (6 tochas e 5 velas), acompanhado de uma banda de música (5 instrumentos e 1 clarineta). Em nome dos colonos, o Sr. Heuer saudou o novo Vigário e o Médico da Colônia. Pe. Carlos, bom orador, dirigiu algumas palavras calorosas à pequena multidão. A seguir, to­dos acompanharam-nos até a moradia provisória: uma simples casa de recepção. Mas enfeitada com palmeiras, flores e um belo transparente.
As impressões desse dia em nós (12 de novembro de 1857) permaneceram inesquecí­veis” (Dr. Engelke).



Pe. Carlos Boegershausen
1º Vigário de Joinville 



Em 1854, a Colônia Dona Francisca chegou a contar 1194 habitantes. Desses, uns 300 eram católicos. Mas viviam muito dispersos pela região colonial. Até a chegada do Pe. Carlos, a população da Colônia havia aumentado para 1700; e a dos católicos, para um pouco mais de 400. A partir de 1862, têm-se informações mais exatas: 685 católicos e 2991 protestantes. Ao todo, 3.676 habitantes. Onze anos mais tarde: 7.558.
De início, o Vigário teve de transformar o quarto maior da Casa Paroquial em Capela. A 200 m do terreno da Igreja, junto à Rua Catarina, a Diretoria da Colônia construiu uma igreja de táboas, coberta de folhas. De fevereiro de 1858 a julho de 1865, era esta a Igreja Paroquial.
No mês de junho de 1858, Pe. Carlos recebeu a sua nomeação oficial de Vigário.

3. Vigário da Freguesia de São Francisco Xavier,
de Dona Francisca.

No dia 2 de dezembro de 1857, teve lugar o solene lançamento da pedra fundamental da Igreja Paroquial. Aos 27 de junho de 1863, estava concluída a armação do telhado. Dois anos após, servia de igreja paroquial provisória para o ofício religioso dominical. Passados exatos 10 anos após o lan­çamento da pedra fundamental, realizou-se a inauguração da Igreja Paroquial, tendo em São Francisco Xavier o seu Padroeiro.
Se, desde o início da colonização, os católicos tivessem sido domicili­ados em distritos particulares, a assistência religiosa teria sido fá­cil. Nos primeiros anos, a Comunidade era bem pequena. Nos meses de novembro e dezembro de 1857, Pe. Carlos só fez 3 batizados; em 1858, 29; no ano seguinte,  42; em 1860, apenas 33; em 1861, foram 30; e em 1862, 35 batizados. De 1863 a 1865 inclusive, foi ultrapassado, a cada ano, o nº 60; nos anos de 1866 e 1867, foram mais de 80; e a partir de 1868, mais de 100.
Nos primeiros tempos da Colônia, eram poucas as famílias católicas que moravam na área urbana[1]. Eram elas, por exemplo: José Ebert, Francisco Spitzer, Antônio Frey, Alex Schondermark, Antônio Schneider, Fernando Hagemann, Dr. Wigang Engelke, Barenstein, Grossmann, Guilherme Stock, Augusto Schmidlin, Nicolau Klein, Kiesel, Pieper e, mais tarde, os professores Buerschager e Schubert e a família José Zybarth.
No Caminho da Serra, foram encontradas as seguintes famílias católicas: Nicolau Walter, Schardeck, Clemente Schneider, Fernando König, Jorge Kreutzer, José Maier, os irmãos Kohler, Matias Zybarth e Lohmann, o velho Thais e seus filhos Jacó, Pedro e João.
As famílias João Welter, Kastellar, Wagner, Deoe, Augusto Krüger, dois João Krüger, Francisco Trom, Altmann, Neumann, Nicolau Kölsch, Salfer, Rohregger, Matias Klein, José Klein, Tobner, João Beil, João Dörffler, Carlos Paul Neudorf, Randig e Albrecht tinham seu domicílio na Rua Catarina. Sempre al­guns representantes seus compareciam ao ofício religioso dominical.
Afim de bem orientar a sua Comunidade, Pe. Carlos tinha de empenhar-se muito na visita às famílias, para dar-lhes ensinamento edi­ficante, e tomar conhecimento da formação da juventude. Deste modo, ia visitando: Anaburgo, Estrada da Serra, Riacho, Curveter, Cubatão Grande, Rio Velho, Boa Vista, Estrada Catarina, Rio da Prata, Estrada de Paraty, Estrada Alemã, Cachoeira, Gibraltar, Itaun, Ilha dos Pinheiros, Barrancos do Cubatão, Morro dos Amaraes, Irirú-Mirim, Estrada Botucas, Estrada Pedro, Rio do Braço, Rio Negro, Estrada Guiguer, Piray, Bucaraen, Morro Queimado e outras localidades.
Pe. Carlos, dedicado operário na Vinha do Senhor, não podia perder tempo. Já no final de 1857, alugou um espaço na casa do comerciante Berenstein (hoje, ocupada pelo edifício do Correios e Telégrafos), e nele instalou a sua Escola Particular. Dr. Wigand Engelke foi-lhe um fiel auxiliar. De sorte que a juventude colonial de Joinville daquela época teve a honra de receber, de um teólogo e de um médico, os primeiros conhecimentos escolares.
Em 1858, Pe. Carlos fez uma visita à Colônia de São Pedro de Alcântara. A viagem se fez por navio costeiro, que atracou em São Francisco, Itajaí, Porto Belo, Tijucas e São Miguel. Aqui era aguardado por dois colonos, com cavalos. Sua estada junto aos mais antigos colonizadores alemães foi-lhe muito gratificante. Constatou que a maioria dos pais haviam bem doutri­nado os seus filhos na Religião. Após uma verificação de conhecimentos nessa área, ele aceitou vários rapazes e meninas para a Primeira Comunhão. Entre eles, encontravam-se Pedro e Miguel Schmitt que, mais tarde, foram de muda para Poço Grande, em Gaspar, onde adquiriram terras férteis, por eles exitosamente cultivadas até idade avançada. Adultos e jovens de São Pedro simpatizaram com Padre Carlos. Pois era um mestre em catequese e pregação. Também se convenceu de que a Paróquia necessitava de um padre alemão. Já fazia quase 30 anos que vinham sofrendo essa ausência. Por isso, em 1860, Pe. Carlos enviou-lhes o primeiro padre alemão, que o repre­sentava em Joinville: o tirolês Pe. Bucher.
A partir dessa visita, estabeleceu-se a sincera amizade que lhe devotavam, em especial as famílias Händchen e Schmitt. Nos anos 1873-76, Pe. Carlos também atendia a Paróquia de Blumenau. Certa vez, aproveitou, prazerosamente, um dia de folga, para uma visita a Poço Grande. Acontecimento esse que, para essa boa gente, significou uma festa especial. Em Gaspar, o Padre rezou a santa missa. Terminados os seus compromissos, rumou, de canoa, à casa de Pedro Schmitt. Aqui estavam reunidos parentes e vizinhos. E todos em espírito de festa.
Após a refeição, Pe. Carlos reuniu as crianças, e lhes ensinou canções e brinquedos. À noite, esteve rodeado de adultos, e deslanchou animada conversa. Foram lembrados a velha Pátria e os antepassados. Também discutiram planos para o futuro.
Pela manhã cedinho, o Padre pôs-se a caminho para Gaspar. Celebrou a santa missa, e partiu com o pequeno barco a vapor "São Lourenço".
Aos domingos e dias santos de guarda, Pe. Carlos celebrava a santa missa às 10 horas na Igreja Paroquial (de Joinville), e sempre com pregação. E quando, aos poucos, lá também se fixaram moradores brasileiros, a primeira pregação era dirigida a eles. Ministrava os Santos Sacramentos a partir das 6 horas da manhã. Sábados à tarde, estava disponível para as confissões. Ateve-se a esse costume até o fim de sua vida.
Muito raramente omitia a celebração religiosa de domingo na Igreja Paroquial. Quando, aos poucos, nas mais distantes localidades da Colônia, foram surgindo Capelas, o Padre as visitava em dias da semana. Havendo, no entanto, um Padre que o pudesse substituir na Igreja Paroquial, ele prolongava as suas visitas a Capelas. Muitas vezes fazia suas viagens ao clarão da lua, para não perder tempo durante o dia.
O ano de 1860 lhe fez uma agradável surpresa, com a visita do Padre Alberto Francisco Gattone, ex-colega de ginásio seu e do Dr. Engelke. Pe. Gattone fora-lhe o maior amigo de infância. Ei-lo, agora, missionário, disposto a trabalhar no Brasil pela Glória de Deus. Reunidos, os três amigos passavam noites agradáveis, com animadas recordações de sua juventude. Também tratavam, e com muito empenho, das futuras atividades pastorais.
Pe. Carlos era o legítimo representante do Senhor Bispo, para examinar e admitir sacerdotes estrangeiros para a pastoral. Foi assim que transfe­riu o seu bom colega de escola para Gaspar. Três km acima da atual sede paroquial, havia uma Pobre Capela de madeira, já inaugurada aos 29/06/1850. Mas ainda à espera de um Vigário. A então pequena Região de Blumenau e a incipiente Colônia de Brusque faziam parte de sua Paróquia de Gaspar.
No ano de 1864, Pe. Gattone perdeu, em condições trágicas, seu fiel sa­cristão. O Padre o encarregara de levar documentos ao Pe. Carlos, em Join­ville. O trajeto seria Itajaí-Penha. Á noite, já na balsa do Itapocu, o balseiro suspeitou houvesse dinheiro na bolsa de couro. Agrediu-o para roubá-lo. O sacristão reagiu. Mas o ladrão aplicou-lhe uma pancada mortal, agarrou-lhe a bolsa, e atirou o cadáver no rio...
Já passado longo tempo, o caso foi esclarecido. Pe. Gattone encontrava-se em Guabiruba, nas proximidades de Brusque, quando .recebeu a notícia.  Restava-lhe procurar um novo sacristão. Encontrou-o no jovem João Kormann. Justo aquele que, numa derrubada de mato, teve de fugir de índios. Atendendo ao desejo dos pais, Kormann aceitou ser o novo sacristão e companheiro de viagem.
Já no início de 1862, Pe. Carlos incluiu, temporariamente, Pe. Guilherme Roer nos trabalhos pastorais de Joinville. Pe. Carlos ficou tão satisfeito com o seu desempenho, que chegou a convidá-lo a deslocar-se de Teresópolis para as atividades pastorais em Joinville, e por vários meses. Assim, Pe. Carlos pode viajar pela sua Paróquia e, por ordem do Bispo, também visitar as Paróquias vizinhas.
Tais viagens o levaram a Guaratuba -, um Porto do Paraná, limítrofe com Joinville. Em sua mata virgem, desenvolvia-se, na época, um intenso comércio madeireiro, porque era possível um despacho direto, sem novo carregamento.
De sua Pátria, Pe. Carlos recebeu a vinda de um irmão seu mais novo: Francisco Boegershausen. Em Guaratuba, o irmão Padre o ajudou na compra de um terreno coberto de mata virgem. Também o ajudou na construção e ins­talação de uma serraria. Mais tarde, Padre Carlos foi aceitando, na Casa Paroquial, um após outro, os filhos do irmão, afim de possibilitar-lhes doutrina e educação. E continuou sendo seu benfeitor para sempre.
Gattone e Roer, os dois vigários vizinhos, depararam um campo de trabalho extenso e penoso. Não lhes era mais possível prestar auxílios demorados em Joinville. Decidiu então o Pe. Carlos procurar missionários junto aos padres jesuítas. De sorte que, em 1870, eram-lhe coadjutores os padres Paulo Biolchini, e Carlos Candiani. Mais tarde, vieram os padres Bento Schembri e João Mário Thibéo, também jesuítas. Nos anos 1873-76, Pe. João era quem, com mais freqüência, substituía o Vigário em Joinville. Porque Pe. Carlos, 3 a 4 vezes por ano, precisava dar ajuda pastoral em Blumenau e Gaspar.
Em fevereiro de 1876, veio ter com Pe. Carlos o franciscano Pe. Henrique Matz. Ambos fizeram uma viagem pastoral a São Bento e Bechelbronn. Pe. Matz, também bom conhecedor da língua polonesa, igualmente revelou-se bom pregador para esses colonos de origem alemã e polonesa. No mês de abril, Pe. Car­los o enviou para Gaspar porque, já desde 1867, sem Vigário residente.
Já no final de julho de 1876, chegou a Joinville o Pe. José Maria Jakobs. Recebera ele do Papa Pio IX a incumbência de pastorear a menosprezada Região de Blumenau. Pe. Carlos passou-lhe as necessárias informações, e deu-lhe a oportunidade de familiarizar-se com a língua portuguesa. O que não constituiu maior problema a esse Padre culto e versado em línguas.
No dia 14 de setembro, Pe. Carlos o enviou para Blumenau, onde che­gou aos 24 de dezembro. Pe. Carlos, em nome do Bispo, benzeu a Igreja Paroquial de Blumenau. Lá permaneceu até após o Ano-Novo. Também admitiu algu­mas conversões religiosas. Eram os primeiros frutos da missão que Pe. Jakobs havia pregado, de 4 a 11 de novembro, na Capela de São Bonifácio, no Encano Baixo.
Na Região Paroquial de Joinville, Pe. Carlos introduziu, aos poucos, importantes melhoramentos. Para uma administração eficiente e digna, o Padre fundou a Fábrica da Igreja: uma espécie de Diretoria da Igreja para o controle da Caixa e Direção das Capelas Distritais.
O Governo lhe concedeu reconhecimento legal. E por alguns anos, lhe deu uma subvenção anual de 25$000 Rs. Também os membros da Comunidade davam uma pequena contribuição. Por longos anos, Dr. Wigand Engelke foi o Presidente dessa Diretoria da Igreja.
Ato contínuo, o Vigário introduziu uma lista de contribuições, que vigorou por 25 anos. Em junho de 1858, a Sociedade Colonizadora de Hamburgo suspendeu o ordenado do Vigário, porque ele recebia do Governo Imperial 25$600 Rs. por mês.
A Direção da Colônia concedera um terreno para a Igreja e o Cemitério. Mas não considerado suficiente. O Cemitério distava mais de 1 km, e de acesso difícil, por caminho incômodo e íngreme. Pe. Carlos serviu-se de uma boa oportunidade, para adquirir os terrenos que estremavam com o da Igreja. E logo fez, à Comunidade Católica, a doação de um grande e bem situado Cemitério. Além disso, construiu uma pequena casa para o coveiro. Mais adiante, um lote com casa para uma viúva, encarregada da limpeza da igreja, do seu pátio e de seus caminhos. Junto à Estrada Catarina, destinou um lote a famílias pobres. E não longe da Casa Paroquial, reservou um magnífico terreno para a constru­ção da Sede da Associação Católica.
Em 1885, formou-se a Sociedade Católica, que logo construiu uma casa espaçosa: com sala para reuniões, biblioteca, cozinha, poço e paiol. Em ocasiões festivas, a bandeira azul-branca, e com sua inscrição, tinha, na Igreja Paroquial, o seu lugar de honra. Pedro Thais, o porta-bandeira, mui­to zelava por essa peça ornamental, que nunca podia faltar na pro­cissão. Peça que, infelizmente, desapareceu.
Ao Governo Municipal, Pe. Carlos fez a doação de um grande e apropriado terreno para um hospital. Mas com a condição de a sua direção ser confiada a Religiosas Católicas. O que se verificou em 1906, quando as três primeiras Irmãs da Divina Providência ocuparam o novo Hospital.
Nos primeiros 3 meses de 1892, e com a autorização do Sr. Bispo -, Pe. Car­los fez uma visita pastoral em Brusque, Nova Trento, Laguna e Tubarão. Ocasi­ão na qual também administrava o Sacramento da Crisma. Além disso, deu auto­rização ao Pe. João Fritzen, Vigário de Brusque, para uma visita a seus familiares na Alemanha; e transferiu o Pe. Antônio Eising, de Tubarão para Brusque. Sendo que, no Natal de 1897, e com o nome de Frei Egídio, Pe. Antônio entrou na Ordem Franciscana.
A Escola: eis a maior preocupação do Vigário Pe. Carlos. Também neste empreendimento, foi coroado de êxito. De início, uma escola bem modesta. Mas aos poucos, ela se foi desenvolvendo em várias séries de Curso Primário e Complementar. A ponto de, anos após, registrar mais de 400 alunos por ano.
Em 1864, após sete anos de existência, ocorreu a primeira inspeção oficial da Escola, quando já contava 200 alunos.
Dr. Francisco Carlos de Araújo Brusque, então Presidente de S.Catarina, visitava as Colônias da Província, e para tudo tinha um olhar atento. Na Escola do Padre Carlos, o Presidente assistia, em toda sala, à aula, e fazia a sua avaliação. A seguir, concedeu ao Pe. Carlos a nomeação de Professor Público Vitalício. E com o direito de, em qualquer circunstância, designar professores auxiliares que o pudessem substituir.
Com essa nomeação, Pe. Carlos recebia a mensalidade de 120$000 Rs. Dessa quantia, nada reservava para si. Pagava dois professo­res, aos quais, anteriormente, pagava do próprio bolso. Eis os dois fiéis au­xiliares: Júlio Schubert (da Silésia) e Teodoro Lauer (da Saxônia), ambos de preparação profissional. O aluno contribuía com 5$000/ano.
De 1864 a 1886, era Inspetor Escolar o Sr. Dr. Wigand Engelke (Delegado Literário). Por incumbência do Governo (1874), Dr.Engelke convocou os dois mencionados professores para um exame. O que lhes valeu a nomeação de professor da parte do Poder Civil. Dele recebendo, pois, a partir dessa data, cada qual o seu ordenado.
Como se vê, melhoravam as condições da Escola. E Pe. Carlos podia empregar o seu dinheiro em grandes melhoramentos na construção, bem como na contratação de novos auxiliares.
Naquele tempo, as salas de aula dessa escola eram distribuídas em vários edifícios e, em parte, alugados. À Câmara Municipal, o Padre fez a doação de um bonito e grande terreno, mas sob a condição de uma significativa ajuda na construção de um espaçoso prédio escolar. E assim se fez. Também os pais dos alunos e outros simpatizantes da Escola contribuíram de boa vontade. Foi assim que, em 1880, as classes puderam passar para o novo edifício. Quando não solicitado por viagens pastorais, Pe. Carlos marcava presença cotidiana na sua Escola: das 5 às 12 horas.
As duas séries inferiores, ele as visitava, regularmente, todo mês, afim de certificar-se do seu andamento. Ele, pessoalmente, lecionava, com planejamento, nas séries superiores.
Nas quartas feiras e aos domingos, das 10.30 ao meio dia, reunia as crianças católicas na Casa Paroquial, e as instruía no Catecismo, na Liturgia e na Historia da Igreja. Nas tardes de domingo, às 14 hs., sempre havia Catequese na Igreja. Os cantos sacros para as celebrações na Igreja eram ensaiados pelo prof. Schubert.
O Imperador D. Pedro II, testemunhou, ao zeloso Sacerdote e Professor, a sua especial benevolência. Aos 20 de fevereiro de 1868, enviou-lhe a pa­tente de Capitão Capelão-Mor da Capelania Imperial. Um pouco mais tarde, fez-lhe a Nomeação de Comissário da Guerra do Paraguay. Com a qual Pe. Carlos recebia a candidatura à Imperial Ordem da Rosa, mas por ele recusada.
Aos 2 de novembro de 1929, a população de Joinville trasladou os restos mortais do Pe. Carlos: da sua modesta sepultura para o mausoléu do novo Cemitério. Dr. Mário Portugal pronunciou: a oração fúnebre. Entre outras, frisou o seguinte: Você educou três gerações de nossos concidadãos. Nada aceitou em pagamento por seu trabalho.

4 – Alguns Enfoques Especiais

Toda manha, às 6 horas, O Padre se dirigia à Igreja Paroquial e se preparava para a santa missa, que iniciava às 6. 30 ou às 7 horas. Pontualmente às 8 ho­ras, começava o seu trabalho escolar. Um pouco antes do meio dia, novamente se encontrava na Casa Paroquial. A partir das 14 horas, dedicava-se aos interes­ses da Paróquia, e estava disponível a quantos viessem em busca de seu con­selho. No relacionamento, ele mantinha, em geral, um tom calmo e amigo. Por ve­zes, era capaz de interromper uma conversa inútil mediante palavra enérgica.
Das cartas do Dr. Blumenau a ele dirigidas, percebe-se como todos, sem distinção de confissão religiosa, gostavam de comunicar-se com ele. É o que também comprova a amizade que Dr. Ottokar Dörffel, de Joinville, lhe dedicava. Lamentavelmente, essa bondade do Vigário sofreu abuso da parte do Sr. Doutor. É que este conseguiu que Pe. Carlos lhe vendesse, ao lado da Igreja, um terreno bem localizado. Mas no qual o Dr., "muy amigo”, fez construir a Loja Maçônica. A qual ainda existe, e para grande escândalo dos cató­licos.
Também a calúnia teve a ousadia de atirar-se contra o Vigário. Sua vida mo­ral ilibada estava fora de qualquer dúvida. Mas um mau-caráter (por si? por outrem?) espalhou notícias para denegrir a reputação do nome e da pessoa do exemplar sacerdote. Quando Pe. Carlos tomou conhecimento do boato, sentiu-se profundamente magoado. No domingo seguinte, após a santa missa, ele fez a exposição do Santíssimo. A seguir, voltou-se para os fiéis, e falou-lhes pausada e claramente: "Aqui, na presença do Salvador Sacramentado, declaro que não fiz nada daquilo que maldosamente a mim atribuem. Conclamo a todos para que, comigo, rezem pelo caluniador". Gesto que fez uma impressão profunda sobre as pessoas.[2]
Os doentes mais próximos à igreja, Pe. Carlos os visitava pela tarde. A visita para a administração dos últimos sacramentos era adiada para as 4 ou 5 horas da manhã. Antes do jantar, rezava o breviário. Após o jantar, o terço, andando para lá e para cá na varanda. A seguir, fazia meia hora ou 45 minutos de meditação diante do altar. Pelas 20.30 horas, voltava, e se devotava à leitura e ao estudo.
O Padre gostava da exata observância dessa sua ordem do dia. Aos padres visitantes vindos de fora, ele dedicava esse seu tempo de folga. Suas refeições eram frugais. Em atenção às visitas, moderava um pouco o habitual rigor do cardápio.
Exercer, por decênios, atividades quase sempre iguais, leva a pessoa, e sem percebê-lo, a tornar-se um pouco pedante. A ponto de não entender uma situação diferente. O avançar da idade o advertia da necessidade de procurar um Coadjutor. A autoridade eclesiástica enviou-lhe, em 1905, o dedicado Pe. José Sundrup. Para o Coadjutor, no entanto, quase não havia nada por fazer no âmbito da Igreja-Matriz. Porque o idoso Pastor achava que ainda poderia dar conta de tudo, e não alterava em nada a ordem tradicional. O Pe. Coad­jutor atuava nas distantes periferias da Paróquia. Em 1906, Pe. Carlos lhe autorizou, de boa vontade, uma viagem à sua querência wesfaliana, na Alemanha.
Nos primeiros tempos, Pe. Carlos fazia, por vezes, uma cavalgada pela peri­feria. Certa vez, seu muito conhecido “Fuchs" (Alazão) falhou, levando um tom­bo. De pronta decisão, o seu dono o vendeu no dia seguinte, e não mais quis saber de cavalgadura. Um grande alívio para a fiel Governanta da Casa Paroquial. Porque o Alazão estava sob sua guarda. Não havia uma pastagem cercada. E o cavalo andava pelo terreno da igreja, arrastando uma longa corrente. Al­gumas vezes por dia, Dona Margarida tinha de vigiá-lo. Não poucas vezes, e muito cansada, ela tinha de ir à procura do animal.
Por 45 anos, Dona Margarida Franzen governou, com fidelidade e eficiência, a Casa do Vigário. Ela era simples, desinteresseira e econômica. Não aceitava o pagamento do seu ordenado, e só gastava o estritamente necessário. O restante ficava nas mãos do Vigário. Que muitas vezes tentou entregar-lhe o salá­rio. Mas era difícil demovê-la desse comportamento. Comenta-se que, após a mor­te do Vigário, ela não recebeu esse bem merecido dinheiro. O Sr. Oscar Schneider teria se empenhado pelo caso, porque bom conhecedor da situação. Mas sem lhe dar a esperada solução.
Pe. José Sundrup era quem agora cuidava da Governanta. Alguns meses após, Dona Margarida adoeceu. Recebeu excelente tratamento no Hospital, onde também morreu.
Em geral, Pe. Carlos não era dado a muita conversa. Após a missa dominical na Igreja-Matriz, trocava umas palavras amigas com os membros da Associação Católica, que mensalmente se reuniam, e lhes fazia mui proveitosa conferência.
Visto que a maioria dos sócios moravam longe da sede paroquial, o movi­mento na Sociedade cessava ao meio dia e pouco. A biblioteca encontrava-se na Casa Paroquial. Mas sem atingir a sua importância maior.
Ainda existe uma Grandiosa Fotografia da Sociedade Católica, de 1902. No centro, ergue-se a bandeira azul-branca, com estes dizeres:




ASSOCIAÇÃO CATÓLICA
JOINVILLE
FUNDADA AOS 29 DE JUNHO DE 1880[3]

Mais abaixo, no centro, está sentado Pe. Carlos, já há 45 anos Vigário de Joinville; a seu lado, os seus fiéis auxiliares: Nicolau Welter (por longos anos o Caixa), João Welter e José Klein; no outro lado, Altmann, José Ebert e Guilherme Altmann. José Ebert morava perto e, muito dedicado, assumia todos os trabalhos para o maior bem da Sociedade; em pé: João Tais, Bernardo Welter, Francisco Trom, Maias Schardeck, Matias Klein, Francisco Salver, Kohler, Fritz Welter, Maier, Nicolau Rohregger, Pedro Tais; no alto, junto à bandeira, de pé: Beil, Francisco Krüger, Carlos Wel­ter, José Schippert. Outros fundadores e membros da Sociedade, tais como Lohmann e Schubert, já haviam falecido.
Em 1880, o Governo Imperial ordenou um Recenseamento. Para Joinville, foi nomeado Coordenador do Trabalho, o Pe. Carlos Boegershausen, e que escolheu para auxiliar seu, o bom e competente e conhecido Carlos Júlio Parucker. A Autoridade destinou 5:000$000 Rs para as necessárias despesas. O trabalho saiu muito bem feito, e toda ajuda foi paga. Juntamente com a lista dos habitantes, o Vigário devolveu 2:476$000 Rs, isto é, o excedente da verba destinada ao pagamento dos referidos trabalhos.

5. Fase Final de sua Vida

Durante os longos anos de sua atividade em Joinville, o Vigário gozava de boa saúde.Contudo, “estabelecido foi que o homem alguma vez tem de morrer” (Heb. 9, 27). E os mensageiros da morte se manifestaram nos últimos meses de 1906. Uma leve apoplexia prendeu o Padre de 73 anos no quarto. No en­tanto, ocorreu uma pequena melhora. Coincidência muito feliz foi, nesta ho­ra, o regresso do Pe. José Sundrup, que fizera sua viagem à Alemanha, podendo pois, assumir os trabalhos pastorais.
Repetiam-se os ataques da enfermidade. E Pe. Carlos dirigiu-se para o Hospital por ele fundado e ricamente dotado. Lá recebeu especiais cuidados. Sua energia continuava firme. Muitas vezes, tentou fazer movimentos no quarto, embora com o necessário amparo de outras pessoas. Recebia freqüentes visitas de Vereadores da Câmara Municipal, com o pro­pósito de saber da sua última vontade com respeito ao terreno destinado ao Hospital.
No início de dezembro, agravou-se-lhe o estado de saúde. Muitas vezes recebeu os Santos Sacramentos. Rezava muito, e deixava que por ele re­zassem.
Às 15.15h do dia 12/12/1906, Pe. Carlos faleceu tranqüilamente. Na Igreja Paroquial, já na "eça", fizeram-se as exéquias. O seu enterro deu testemunho da geral consideração que desfrutava em sua vida. O seu túmulo foi aberto no Cemitério por ele doado, e no lugar que havia reservado para si.
Por longos anos, a simplicidade de sua sepultura refletia a de sua vi­da. As disposições do seu testamento a respeito, não foram cumpridas. Dois fiéis membros da Sociedade Católica prestaram a seu bom Vigário a última homenagem: um confeccionou a cruz; o outro providenciou a inscrição. Essa tão singela ornamentação do túmulo assim permaneceu até 1929.
O Senhor Bispo Diocesano, Dom Pio de Freitas, combinou com as autoridades uma Homenagem Especial para o primeiro Vigário Católico de Joinville. O “Jornal da Colônia”, de 31 de Outubro, nos dá a seguinte notícia sobre o even­to: “Anteontem, na presença do Bispo D. Pio e de outros religiosos, bem como de senhores civis, foi aberto no antigo Cemitério Católico, a sepultura do Pe. Carlos Boegershausen. Ontem, os restos mortais do muito benemérito Sacerdote de nossa Cidade foram levados até a Igreja Católica. No dia de finados, se­rão trasladados daqui para o Cemitério Municipal, onde serão sepultados no Mausoleu especialmente construído para tal fim".
A respeito desta solenidade piedosa, o mesmo jornal nos dá a seguinte informação:
Pelas 11 horas de sábado, os restos mortais do Pastor Boegershausen foram transportados, em cortejo festivo, da Igreja Católica para o Cemitério Municipal. Depositados numa urna de zinco, serão enterrados no monumento sepulcral especialmente erigido para este fim.
O cortejo foi acompanhado pelos Senhores: Bispo D.Pio, Prefeito Dr. Ulisses Costa, Juiz de Direito Dr. Mário Portugal; pelos Vereadores Municipais: Sérgio Vieira e E. Schwartz; e numerosas outras pessoas dispostas a prestarem a última homenagem ao muito benemérito Sacerdote.
Após a Cerimônia Religiosa, Dr. Mário Portugal pronunciou um emocionante discurso, ressaltando as elevadas qualidades e os méritos do inesquecível Morto.
O belo monumento sepulcral é de mármore escuro. Traz um medalhão com a fotografia do imortalizado e, no alto, o Cristo Crucificado.


Notas complementares do tradutor


Mas o “belo monumento” foi tão vandalizado, que o Senhor Bispo, Dom Orlando Brandes, houve por bem a trasladação para a Catedral, com novo monumento, e no qual o “Cristo Crucificado” é o que restou do original.
A trasladação ocorreu aos 05-06-2004. O monumento se encontra logo à esquerda de quem entra na Catedral. Mons. José Chafí Francisco (Mons. Juca) nos deu estas informações.



O novo túmulo
do Pe. Carlos Boegershausen
R. I. P.




Observações finais do tradutor


O tradutor tem doutorado em Educação pela USP. O artigo foi publicado em 1930 na revista Der Wegweiser (O Indicador de Rumo), pelos Padres Dehonianos SCJ de Brusque (1928/38), a serviço da Cultura Cristã junto às abandonadas colônias teuto-brasileiras.
O Nacionalismo Varguista proibiu qualquer publicação em língua estrangeira (1938).  Até porque a igualação cultural, na época, era mais cômoda via rebaixamento da cultura ádvena do que pela elevação da cultura nativa.
Era o nosso marxismo totalitário, com o seu “objetivo de assimilação total, ao preço do menor esforço”. Não se tratava, pois, de realizar a “integração do diverso, enquanto tal, guardando uma autonomia relativa -, mas de suprimi-lo”. (J.P. Sartre, Questão de Método, p.44, trad. de Bento Prado Júnior, Difusão Européia do Livro, 2ª edição, S. Paulo, 1967).
A coleção da revista Der Wegweiser encontra-se no Convento SCJ de Brusque no Arquivo Provincial Padre Lux – Appal.  Av. das Comunidades, 111, Brusque - SC, 88350-970 - Cx Postal 20. Tel.: 47- 3351-1499, 


[1] Área Urbana: eis a tradução que ouso para “Stadt-Platz”.
[2] A construção da “Loja” foi um bom ensaio. Mas a calúnia anti-religioso é golpe bem mais certeiro...
[3] Foto que a Revista publicou mais tarde. O tradutor a removeu para cá, no seu exato contexto.


2 comentários:

  1. Olá, João Mário Thibéo seria o missionário João Maria Cybeo?

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  2. Essa calúnia que correu sobre o Pe Carlos e que teria sido a causa de uma brusca mudança em seu comportamento se trata especificamente de que?

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