PE. CARLOS BOEGERSHAUSEN
Primeiro Vigário de Joinville
Pe. Eloy Dorvalino Koch scj
(tradutor)
Observações
preliminares do tradutor
1ª
- Pe. E. Schätte, franciscano, nasceu na Alemanha (1872). Ordenou-se sacerdote
no Brasil (1902). Uma longa e meritória vida consagrada à educação: por
exemplo, no Colégio S. Antônio de Blumenau, onde foi professor por 20 anos, e 3
como diretor (1912-32). Conhecido pesquisador da História de Teresópolis (RJ) e
de várias colônias teuto-catarinenses. Faleceu em Petrópolis (RJ), aos
12/07/1960 (Cf. REB, set. 1960, p.844).
Cheguei a conhecê-lo em Brusque (anos 50), numa homenagem a ele prestada
pela “Sociedade Amigos de Brusque - SAB”. Foi professor do meu primeiro
professor Antônio de Souza Pereira (Ituporanga – 1928-1930).
2ª
- Artigo publicado na revista mensal “Der Wegweiser” (O Indicador de Rumo),
pelos Padres Dehonianos SCJ de Brusque, de 1929 a 1938.
3ª
- Porque repetitivas no final do artigo, optei por omitir os dois parágrafos
iniciais.
1-
Juventude e Formação
Carlos Boegershausen nasceu aos 16 de agosto de 1833,
numa aldeia de Hanover, no Distrito de Goslar. Seus pais eram honrados e
simples camponeses.
Bem
sabiam eles educar os seus filhos no verdadeiro temor de Deus. Seu filho Carlos
progredia a contento na Escola Primária. Revelava amor ao estudo. E desde cedo,
manifestava o desejo de ser padre.
O Vigário do lugar apoiava essa vocação do garoto. E fez com que,
em 1846, o menino pudesse ingressar no ginásio “Mariano-Josephinum” de
Hildesheim.
Seu pai morreu cedo. Mas o irmão dele, o
piedoso e honrado Vigário Karl Boegershausen, assumiu prontamente o seu lugar.
É que esse tio do estudante fôra nomeado Vigário da Igreja da Santa
Cruz, em Hildesheim. Tornando-se, pois, pai adotivo e conselheiro do jovem que,
dias seguidos, parava na casa paroquial. Onde também tinha o mais belo exemplo
de atividade sacerdotal. Influência que fortalecia a vocação sacerdotal do
sobrinho ginasiano.
Munido de brilhantes atestados, o
moço Carlos, de 19 anos, ingressou na Faculdade de Filosofia e Teologia daquela
cidade. Também nesses cursos superiores ele granjeou o contentamento e a
confiança dos seus professores.
Em 1857, foi ordenado sacerdote pelo Sr.
Bispo Eduardo Jacó Wedekind. Após a celebração das primícias sacerdotais em sua
terra, voltou para o Seminário. Aqui, o Reitor Matte o introduziu na prática da
atividade pastoral. Preparando-o para sacerdote autônomo, digamos, para o
futuro missionário, capaz, portanto, de desenvolver frutuosa atividade pastoral.
Na Festa da Porciúncula, que ocorre
em 2 de agosto (referente à 1ª casa franciscana, perto de Assis, Itália), Pe.
Carlos foi encarregado de fazer o sermão principal na Capela do Seminário,
porque era o melhor orador da turma. E saiu-se muito bem.
Um pouco antes, a Companhia Colonizadora
de Hamburgo de 1849 havia dirigido ao Bispo de Hildesheim um pedido no
sentido de enviar para a nova Colônia Dona Francisca – Joinville, em
Santa Catarina, um sacerdote idôneo.
O Bispo fez a proposta ao padre do Seminário,
Carlos Boegershausen: "um sacerdote de muita firmeza e cumpridor dos
deveres”, o qual, decididamente, concordou com o plano.
O Bispo logo tratou de o candidato adquirir
alguma experiência de auxiliar de enfermagem no hospital, e alguns
conhecimentos na preparação de alimentos comuns. Provisionou-o de paramentos e
de todos os apetrechos de igreja. Também de uma pequena e seleta biblioteca, e
de utensílios de casa e mesa. A seguir, impunha-se uma rápida despedida, e a
viagem para Hamburgo.
Pe. Carlos teve a sorte de encontrar um bom companheiro
de viagem. É que a Companhia Colonizadora também providenciara um
médico para Joinville. Era justamente o seu antigo colega e amigo de
escola: o Dr. Wigand Engelke, da Policlínica de Munique. Ambos chegaram
em Hamburgo na mesma data. Aqui firmaram os seus contratos com a Companhia. O Cônsul Geral do Brasil, Barão de
Paraguaçu, os aprovou e lhes apôs a assinatura.
2 - Viagem
para o Brasil
Sobre esta
viagem, Dr. Engelke escreveu o seguinte relato: "Aos 25 de agosto
de 1857, o padre e eu, e mais 48 passageiros de 3a classe, todos em
viagem para a nova Colônia -, fomos levados a bordo do pequeno veleiro Lucie
Caroline. Entre os emigrantes encontravam-se os antepassados da família
Valentim Hess, atualmente residente em Luiz Alves. Na época, barcos a vapor
ainda não viajavam para o Brasil. O capitão Henrique Meincke comandava
um velho timoneiro e 5 marujos.
Na parte traseira do navio, havia um
camarote de 5 x 6 m. Nele achava-se uma pequena sala com dois leitos. Era o
nosso aposento. Pe. Carlos não dispunha de espaço para celebrar a santa missa
a bordo. Aos domingos, ele sempre fazia uma pregação sobre o Evangelho, seguida
de uma reza. Muitas vezes, também reunia as crianças e lhes dava lições de
catecismo, e os adultos gostavam de ouvi-las.
Nossa viagem foi favorecida por muito bom
tempo. Nas proximidades do Equador, tivemos, por diversas vezes, calmaria total
e, certa vez, uma tempestade com mar agitado, a ponto de o Capitão sofrer
enjôo.
Ocorreram vários episódios divertidos.
Freqüentemente, o muito viajado Capitão nos falava a respeito de países e
povos. Também nos levava a observar o maravilhoso céu estrelado e fenômenos
marítimos. À noite, os três cantávamos as nossas mais bonitas canções.
Aos 8 de novembro, avistamos terra.
Não havia um mapa especial do Brasil. Nosso Capitão somente sabia que o destino
da viagem seria São Francisco, onde os colonos seriam recepcionados para a
viagem a Dona Francisca. Cauteloso, deixava que seu naviozinho avançasse.
Por sorte, tínhamos a bordo um
passageiro que já fizera essa viagem. Aos 11 de novembro, ele reconheceu, bem
ao longe, o surgir do Morro da Tromba, na região da Colônia.
Em poucos instantes, anoiteceu, e nada de
lua. O Capitão içou a bandeira, a pedir a vinda de algum prático. Mas não
apareceu ninguém.
Já estávamos nas proximidades da Ilha da
Graça. A maré alta, em total calmaria, mostrava-nos o caminho.
As velas foram amainadas. Na proa, dois
marinheiros ocupavam-se com sondagens. O Capitão falou-nos: "Não tenham
medo; a maré os levará sozinha ao Porto de ”Santa Francisca!”
Aos poucos, surgiam no horizante algumas
luzes isoladas de barcos pesqueiros. Depois vinham em série. Mas daí em
diante, foram-se apagando. Já reinava uma noite escura como breu. Pedimos ao
Capitão que ancorasse o veleiro. As âncoras rangeram, e o "caixão"
ficou parado.
Ao amanhecer do dia, notamos que havíamos
estacionado a 20 m de uma rocha, e apenas a 100 m do Porto, que logo foi
alcançado.
Assim que ancoramos, um barco trouxe
três senhores a bordo: um Fiscal Aduaneiro, o Vigário de São Francisco: Pe.
Benjamim Carvalho de Oliveira, e o Juiz de Direito, Dr. Antônio da Silva. Eles
falavam em português, língua para nós desconhecida. Mas interveio o divertido
Capitão: "Eu falo uma língua universal, entendida por todos”. Ato contínuo, apresentava-lhes a mesa posta,
e convidou: "Entrai, Senhores, no ‘Kajüte’ (=câmara) por favor!” E os
senhores, bem humorados, aceitaram o convite.
Não se conseguiu entabular uma conversa, até
que Pe. Carlos me fez uma conversa em latim. E os dois visitantes a entenderam.
De modo que começou animada conversa em latim. Foi com prazer que aceitamos o
convite de dar um giro pela cidade.
Procedentes de São Francisco, vieram
visitar-nos, ao meio dia, o Diretor da Colônia, Sr. Léonce Aubé, e
vários outros Senhores. A nós recém-chegados, eles ofereceram uma refeição. A
seguir, ao som de música e espocar de foguetes, nos conduziram ao porto.
Viajando de barco, chegamos a Joinville pela tardinha.
Fomos hospedados na Casa do Diretor. Pelas 9
horas, formou-se um desfile luminoso (6 tochas e 5 velas), acompanhado de uma
banda de música (5 instrumentos e 1 clarineta). Em nome dos colonos, o Sr.
Heuer saudou o novo Vigário e o Médico da Colônia. Pe. Carlos, bom orador,
dirigiu algumas palavras calorosas à pequena multidão. A seguir, todos
acompanharam-nos até a moradia provisória: uma simples casa de recepção. Mas
enfeitada com palmeiras, flores e um belo transparente.
As
impressões desse dia em nós (12 de novembro de 1857) permaneceram inesquecíveis”
(Dr. Engelke).
Pe. Carlos Boegershausen
1º Vigário de Joinville
Em 1854, a Colônia Dona Francisca
chegou a contar 1194 habitantes. Desses, uns 300 eram católicos. Mas viviam
muito dispersos pela região colonial. Até a chegada do Pe. Carlos, a população
da Colônia havia aumentado para 1700; e a dos católicos, para um pouco mais de
400. A partir de 1862, têm-se informações mais exatas: 685 católicos e 2991
protestantes. Ao todo, 3.676 habitantes. Onze anos mais tarde: 7.558.
De início, o Vigário teve de
transformar o quarto maior da Casa Paroquial em Capela. A 200 m do terreno da
Igreja, junto à Rua Catarina, a Diretoria da Colônia construiu uma igreja de
táboas, coberta de folhas. De fevereiro de 1858 a julho de 1865, era esta a
Igreja Paroquial.
No mês de junho de 1858, Pe. Carlos
recebeu a sua nomeação oficial de Vigário.
3. Vigário
da Freguesia de São Francisco Xavier,
de Dona Francisca.
No dia 2 de dezembro de 1857, teve
lugar o solene lançamento da pedra fundamental da Igreja Paroquial. Aos 27 de
junho de 1863, estava concluída a armação do telhado. Dois anos após, servia de
igreja paroquial provisória para o ofício religioso dominical. Passados exatos
10 anos após o lançamento da pedra fundamental, realizou-se a inauguração da Igreja
Paroquial, tendo em São Francisco Xavier o seu Padroeiro.
Se, desde o início da colonização, os
católicos tivessem sido domiciliados em distritos particulares, a assistência
religiosa teria sido fácil. Nos primeiros anos, a Comunidade era bem pequena.
Nos meses de novembro e dezembro de 1857, Pe. Carlos só fez 3 batizados; em
1858, 29; no ano seguinte, 42; em 1860,
apenas 33; em 1861, foram 30; e em 1862, 35 batizados. De 1863 a 1865
inclusive, foi ultrapassado, a cada ano, o nº 60; nos anos de 1866 e 1867,
foram mais de 80; e a partir de 1868, mais de 100.
Nos primeiros tempos da Colônia, eram
poucas as famílias católicas que moravam na área urbana[1].
Eram elas, por exemplo: José Ebert, Francisco Spitzer, Antônio Frey, Alex
Schondermark, Antônio Schneider, Fernando Hagemann, Dr. Wigang Engelke,
Barenstein, Grossmann, Guilherme Stock, Augusto Schmidlin, Nicolau Klein,
Kiesel, Pieper e, mais tarde, os professores Buerschager e Schubert e a família
José Zybarth.
No Caminho da Serra, foram
encontradas as seguintes famílias católicas: Nicolau Walter, Schardeck,
Clemente Schneider, Fernando König, Jorge Kreutzer, José Maier, os irmãos
Kohler, Matias Zybarth e Lohmann, o velho Thais e seus filhos Jacó, Pedro e João.
As famílias João Welter, Kastellar,
Wagner, Deoe, Augusto Krüger, dois João Krüger, Francisco Trom, Altmann,
Neumann, Nicolau Kölsch, Salfer, Rohregger, Matias Klein, José Klein, Tobner,
João Beil, João Dörffler, Carlos Paul Neudorf, Randig e Albrecht tinham seu
domicílio na Rua Catarina. Sempre alguns representantes seus compareciam ao
ofício religioso dominical.
Afim de bem orientar a sua
Comunidade, Pe. Carlos tinha de empenhar-se muito na visita às famílias, para
dar-lhes ensinamento edificante, e tomar conhecimento da formação da
juventude. Deste modo, ia visitando: Anaburgo, Estrada da Serra, Riacho,
Curveter, Cubatão Grande, Rio Velho, Boa Vista, Estrada Catarina, Rio da Prata,
Estrada de Paraty, Estrada Alemã, Cachoeira, Gibraltar, Itaun, Ilha dos
Pinheiros, Barrancos do Cubatão, Morro dos Amaraes, Irirú-Mirim, Estrada
Botucas, Estrada Pedro, Rio do Braço, Rio Negro, Estrada Guiguer, Piray,
Bucaraen, Morro Queimado e outras localidades.
Pe. Carlos, dedicado operário na
Vinha do Senhor, não podia perder tempo. Já no final de 1857, alugou um espaço
na casa do comerciante Berenstein (hoje, ocupada pelo edifício do
Correios e Telégrafos), e nele instalou a sua Escola Particular. Dr.
Wigand Engelke foi-lhe um fiel auxiliar. De sorte que a juventude colonial
de Joinville daquela época teve a honra de receber, de um teólogo e de um
médico, os primeiros conhecimentos escolares.
Em 1858, Pe. Carlos fez uma visita
à Colônia de São Pedro de Alcântara. A viagem se fez por navio costeiro,
que atracou em São Francisco, Itajaí, Porto Belo, Tijucas e São Miguel. Aqui
era aguardado por dois colonos, com cavalos. Sua estada junto aos mais antigos
colonizadores alemães foi-lhe muito gratificante. Constatou que a maioria dos
pais haviam bem doutrinado os seus filhos na Religião. Após uma verificação de
conhecimentos nessa área, ele aceitou vários rapazes e meninas para a Primeira
Comunhão. Entre eles, encontravam-se Pedro e Miguel Schmitt que, mais tarde,
foram de muda para Poço Grande, em Gaspar, onde adquiriram terras
férteis, por eles exitosamente cultivadas até idade avançada. Adultos e jovens
de São Pedro simpatizaram com Padre Carlos. Pois era um mestre em catequese e
pregação. Também se convenceu de que a Paróquia necessitava de um padre alemão.
Já fazia quase 30 anos que vinham sofrendo essa ausência. Por isso, em 1860,
Pe. Carlos enviou-lhes o primeiro padre alemão, que o representava em
Joinville: o tirolês Pe. Bucher.
A partir dessa visita, estabeleceu-se
a sincera amizade que lhe devotavam, em especial as famílias Händchen e
Schmitt. Nos anos 1873-76, Pe. Carlos também atendia a Paróquia de Blumenau.
Certa vez, aproveitou, prazerosamente, um dia de folga, para uma visita a Poço
Grande. Acontecimento esse que, para essa boa gente, significou uma festa
especial. Em Gaspar, o Padre rezou a santa missa. Terminados os seus
compromissos, rumou, de canoa, à casa de Pedro Schmitt. Aqui estavam reunidos
parentes e vizinhos. E todos em espírito de festa.
Após a refeição, Pe. Carlos reuniu as
crianças, e lhes ensinou canções e brinquedos. À noite, esteve rodeado de
adultos, e deslanchou animada conversa. Foram lembrados a velha Pátria e os
antepassados. Também discutiram planos para o futuro.
Pela manhã cedinho, o Padre pôs-se a
caminho para Gaspar. Celebrou a santa missa, e partiu com o pequeno barco a
vapor "São Lourenço".
Aos domingos e dias santos de guarda,
Pe. Carlos celebrava a santa missa às 10 horas na Igreja Paroquial (de
Joinville), e sempre com pregação. E quando, aos poucos, lá também se fixaram
moradores brasileiros, a primeira pregação era dirigida a eles. Ministrava os
Santos Sacramentos a partir das 6 horas da manhã. Sábados à tarde, estava disponível para as
confissões. Ateve-se a esse costume até o fim de sua vida.
Muito raramente omitia a celebração
religiosa de domingo na Igreja Paroquial. Quando, aos poucos, nas mais
distantes localidades da Colônia, foram surgindo Capelas, o Padre
as visitava em dias da semana. Havendo, no entanto, um Padre que o
pudesse substituir na Igreja Paroquial, ele prolongava as suas visitas a
Capelas. Muitas vezes fazia suas viagens ao clarão da lua, para não perder tempo
durante o dia.
O ano de 1860 lhe fez uma agradável
surpresa, com a visita do Padre Alberto Francisco Gattone, ex-colega de
ginásio seu e do Dr. Engelke. Pe. Gattone fora-lhe o maior amigo de infância. Ei-lo, agora, missionário,
disposto a trabalhar no Brasil pela Glória de Deus. Reunidos, os três amigos
passavam noites agradáveis, com animadas recordações de sua juventude. Também
tratavam, e com muito empenho, das futuras atividades pastorais.
Pe. Carlos era o legítimo
representante do Senhor Bispo, para examinar e admitir
sacerdotes estrangeiros para a pastoral. Foi assim que transferiu o seu bom
colega de escola para Gaspar. Três km acima da atual sede
paroquial, havia uma Pobre Capela de madeira, já inaugurada aos 29/06/1850. Mas
ainda à espera de um Vigário. A então pequena Região de Blumenau
e a incipiente Colônia de Brusque faziam parte de sua
Paróquia de Gaspar.
No ano de 1864, Pe. Gattone perdeu,
em condições trágicas, seu fiel sacristão. O Padre o encarregara de levar
documentos ao Pe. Carlos, em Joinville. O trajeto seria Itajaí-Penha. Á noite,
já na balsa do Itapocu, o balseiro suspeitou houvesse dinheiro na bolsa de
couro. Agrediu-o para roubá-lo. O sacristão reagiu. Mas o ladrão aplicou-lhe
uma pancada mortal, agarrou-lhe a bolsa, e atirou o cadáver no rio...
Já passado longo tempo, o caso foi
esclarecido. Pe. Gattone encontrava-se em Guabiruba, nas proximidades de Brusque, quando .recebeu a notícia.
Restava-lhe
procurar um novo sacristão. Encontrou-o no jovem João Kormann. Justo
aquele que, numa derrubada de mato, teve de fugir de índios. Atendendo ao
desejo dos pais, Kormann aceitou ser o novo sacristão e companheiro de viagem.
Já no início de 1862, Pe. Carlos
incluiu, temporariamente, Pe. Guilherme Roer nos trabalhos pastorais de
Joinville. Pe. Carlos ficou tão satisfeito com o seu desempenho, que chegou a convidá-lo
a deslocar-se de Teresópolis para as atividades pastorais em Joinville, e por
vários meses. Assim, Pe. Carlos pode viajar pela sua Paróquia e, por ordem do
Bispo, também visitar as Paróquias vizinhas.
Tais viagens o levaram a Guaratuba
-, um Porto do Paraná, limítrofe com Joinville. Em sua mata virgem,
desenvolvia-se, na época, um intenso comércio madeireiro, porque era possível
um despacho direto, sem novo carregamento.
De sua Pátria, Pe. Carlos recebeu a vinda
de um irmão seu mais novo: Francisco Boegershausen. Em Guaratuba, o irmão
Padre o ajudou na compra de um terreno coberto de mata virgem. Também o ajudou
na construção e instalação de uma serraria. Mais tarde, Padre Carlos foi
aceitando, na Casa Paroquial,
um após outro, os filhos do irmão, afim de possibilitar-lhes doutrina e
educação. E continuou sendo seu benfeitor para sempre.
Gattone e Roer, os dois vigários
vizinhos, depararam um campo de trabalho extenso e penoso. Não lhes era mais
possível prestar auxílios demorados em Joinville. Decidiu então o Pe. Carlos
procurar missionários junto aos padres jesuítas. De sorte que, em 1870,
eram-lhe coadjutores os padres Paulo Biolchini, e Carlos Candiani. Mais tarde,
vieram os padres Bento Schembri e João Mário Thibéo, também jesuítas. Nos anos
1873-76, Pe. João era quem, com mais freqüência, substituía o Vigário em
Joinville. Porque Pe. Carlos, 3 a 4 vezes por ano, precisava dar ajuda pastoral
em Blumenau e Gaspar.
Em fevereiro de 1876, veio ter com
Pe. Carlos o franciscano Pe. Henrique Matz. Ambos fizeram uma viagem
pastoral a São Bento e Bechelbronn. Pe. Matz, também bom conhecedor da língua
polonesa, igualmente revelou-se bom pregador para esses colonos de origem alemã
e polonesa. No mês de abril, Pe. Carlos o enviou para Gaspar porque, já desde
1867, sem Vigário residente.
Já no final de julho de 1876, chegou
a Joinville o Pe. José Maria Jakobs. Recebera ele do Papa Pio IX a incumbência de pastorear
a menosprezada Região de Blumenau. Pe. Carlos passou-lhe as necessárias
informações, e deu-lhe a oportunidade de familiarizar-se com a língua
portuguesa. O que não constituiu maior problema a esse Padre culto e versado em
línguas.
No dia 14 de setembro, Pe. Carlos
o enviou para Blumenau, onde chegou aos 24 de dezembro. Pe. Carlos, em
nome do Bispo, benzeu a Igreja Paroquial de Blumenau. Lá permaneceu até após o Ano-Novo. Também
admitiu algumas conversões religiosas. Eram os primeiros frutos da missão que
Pe. Jakobs havia pregado, de 4 a 11 de novembro, na Capela de São Bonifácio, no
Encano Baixo.
Na Região Paroquial de Joinville, Pe.
Carlos introduziu, aos poucos, importantes melhoramentos. Para uma
administração eficiente e digna, o Padre fundou a Fábrica da Igreja:
uma espécie de Diretoria da Igreja para o controle da Caixa e Direção das
Capelas Distritais.
O Governo lhe concedeu reconhecimento
legal. E por alguns anos, lhe deu uma subvenção anual de 25$000 Rs. Também os
membros da Comunidade davam uma pequena contribuição. Por longos anos, Dr.
Wigand Engelke foi o Presidente dessa Diretoria da Igreja.
Ato contínuo, o Vigário introduziu
uma lista de contribuições, que vigorou por 25 anos. Em junho de 1858, a
Sociedade Colonizadora de Hamburgo suspendeu o ordenado do Vigário, porque ele
recebia do Governo Imperial 25$600 Rs. por mês.
A Direção da Colônia concedera um terreno
para a Igreja e o Cemitério. Mas não considerado suficiente. O Cemitério
distava mais de 1 km, e de acesso difícil, por caminho incômodo e íngreme. Pe. Carlos
serviu-se de uma boa oportunidade, para adquirir os terrenos que estremavam com
o da Igreja. E logo fez, à Comunidade Católica, a doação de um grande e bem
situado Cemitério. Além disso, construiu uma pequena casa para o coveiro.
Mais adiante, um lote com casa para uma viúva, encarregada da limpeza da
igreja, do seu pátio e de seus caminhos. Junto à Estrada Catarina, destinou um
lote a famílias pobres. E não longe da Casa Paroquial, reservou um
magnífico terreno para a construção da Sede da Associação Católica.
Em 1885, formou-se a Sociedade
Católica, que logo construiu uma casa espaçosa: com sala para reuniões, biblioteca,
cozinha, poço e paiol. Em ocasiões festivas, a bandeira
azul-branca, e com sua inscrição, tinha, na Igreja Paroquial, o seu lugar de
honra. Pedro Thais, o porta-bandeira, muito zelava por essa peça ornamental,
que nunca podia faltar na procissão. Peça que, infelizmente, desapareceu.
Ao Governo Municipal, Pe. Carlos fez a doação de um grande e apropriado terreno para um
hospital. Mas com a condição de a sua direção ser confiada a Religiosas
Católicas. O que se verificou em 1906, quando as três primeiras Irmãs da
Divina Providência ocuparam o novo Hospital.
Nos primeiros 3 meses de 1892, e com
a autorização do Sr. Bispo -, Pe. Carlos fez uma visita pastoral em
Brusque, Nova Trento, Laguna e Tubarão. Ocasião na qual também
administrava o Sacramento da Crisma. Além disso, deu autorização ao Pe.
João Fritzen, Vigário de Brusque, para uma visita a seus familiares na
Alemanha; e transferiu o Pe. Antônio Eising, de Tubarão para Brusque. Sendo
que, no Natal de 1897, e com o nome de Frei Egídio, Pe. Antônio entrou na
Ordem Franciscana.
A Escola: eis a maior
preocupação do Vigário Pe. Carlos. Também neste empreendimento, foi coroado de
êxito. De início, uma escola bem modesta. Mas aos poucos, ela se foi
desenvolvendo em várias séries de Curso Primário e Complementar. A ponto de,
anos após, registrar mais de 400 alunos por ano.
Em 1864, após sete anos de
existência, ocorreu a primeira inspeção oficial da Escola, quando já
contava 200 alunos.
Dr. Francisco Carlos de Araújo
Brusque, então Presidente de S.Catarina, visitava as
Colônias da Província, e para tudo tinha um olhar atento. Na Escola do Padre
Carlos, o Presidente assistia, em toda sala, à aula, e fazia a sua avaliação. A
seguir, concedeu ao Pe. Carlos a nomeação de Professor Público Vitalício.
E com o direito de, em qualquer circunstância, designar professores auxiliares
que o pudessem substituir.
Com essa nomeação, Pe. Carlos recebia
a mensalidade de 120$000 Rs. Dessa quantia, nada reservava para si. Pagava dois
professores, aos quais, anteriormente, pagava do próprio bolso. Eis os dois
fiéis auxiliares: Júlio Schubert (da Silésia) e Teodoro Lauer
(da Saxônia), ambos de preparação profissional. O aluno contribuía com
5$000/ano.
De 1864 a 1886, era Inspetor
Escolar o Sr. Dr. Wigand Engelke (Delegado Literário). Por
incumbência do Governo (1874), Dr.Engelke convocou os dois mencionados
professores para um exame. O que lhes valeu a nomeação de professor da parte do Poder Civil. Dele recebendo,
pois, a partir dessa data, cada qual o seu ordenado.
Como se vê, melhoravam as
condições da Escola. E Pe. Carlos podia empregar o seu dinheiro em grandes
melhoramentos na construção, bem como na contratação de novos auxiliares.
Naquele tempo, as salas de aula
dessa escola eram distribuídas em vários edifícios e, em parte, alugados. À
Câmara Municipal, o Padre fez a doação de um bonito e grande terreno, mas sob a
condição de uma significativa ajuda na construção de um espaçoso prédio
escolar. E assim se fez. Também os pais dos alunos e outros simpatizantes da
Escola contribuíram de boa vontade. Foi assim que, em 1880, as classes puderam
passar para o novo edifício. Quando não solicitado por viagens pastorais, Pe.
Carlos marcava presença cotidiana na sua Escola: das 5 às 12 horas.
As duas séries inferiores, ele as
visitava, regularmente, todo mês, afim de certificar-se do seu andamento. Ele,
pessoalmente, lecionava, com planejamento, nas séries superiores.
Nas quartas feiras e aos domingos,
das 10.30 ao meio dia, reunia as crianças católicas na Casa Paroquial, e as
instruía no Catecismo, na Liturgia e na Historia da Igreja. Nas tardes de
domingo, às 14 hs., sempre havia Catequese na Igreja. Os cantos sacros para as
celebrações na Igreja eram ensaiados pelo prof. Schubert.
O Imperador D. Pedro II, testemunhou, ao zeloso Sacerdote e Professor, a sua especial
benevolência. Aos 20 de fevereiro de 1868, enviou-lhe a patente de Capitão
Capelão-Mor da Capelania Imperial. Um pouco mais tarde, fez-lhe a Nomeação
de Comissário da Guerra do Paraguay. Com a qual Pe. Carlos recebia a
candidatura à Imperial Ordem da Rosa, mas por ele recusada.
Aos 2 de novembro de 1929, a
população de Joinville trasladou os restos mortais do Pe. Carlos: da sua
modesta sepultura para o mausoléu do novo Cemitério. Dr. Mário Portugal
pronunciou: a oração fúnebre.
Entre outras, frisou o seguinte: Você educou três gerações de nossos
concidadãos. Nada aceitou em pagamento por seu trabalho.
4 – Alguns
Enfoques Especiais
Toda manha, às 6 horas, O Padre se dirigia à Igreja
Paroquial e se preparava para a santa missa, que iniciava às 6. 30 ou às 7
horas. Pontualmente às 8 horas, começava o seu trabalho escolar. Um pouco
antes do meio dia, novamente se encontrava na Casa Paroquial. A partir das 14
horas, dedicava-se aos interesses da Paróquia, e estava disponível a quantos
viessem em busca de seu conselho. No relacionamento, ele mantinha, em geral,
um tom calmo e amigo. Por vezes, era capaz de interromper uma conversa inútil
mediante palavra enérgica.
Das cartas do Dr. Blumenau a ele dirigidas, percebe-se
como todos, sem distinção de confissão religiosa, gostavam de comunicar-se com
ele. É o que também comprova a amizade que Dr. Ottokar Dörffel, de Joinville,
lhe dedicava. Lamentavelmente, essa bondade do Vigário sofreu abuso da parte do
Sr. Doutor. É que este conseguiu que Pe. Carlos lhe vendesse, ao lado da
Igreja, um terreno bem localizado. Mas no qual o Dr., "muy amigo”, fez
construir a Loja Maçônica. A qual ainda existe, e para grande escândalo dos
católicos.
Também a calúnia teve a ousadia de atirar-se contra o
Vigário. Sua vida moral ilibada estava fora de qualquer dúvida. Mas um
mau-caráter (por si? por outrem?) espalhou notícias para denegrir a reputação
do nome e da pessoa do exemplar sacerdote. Quando Pe. Carlos tomou conhecimento
do boato, sentiu-se profundamente magoado. No domingo seguinte, após a santa
missa, ele fez a exposição do Santíssimo. A seguir, voltou-se para os fiéis, e
falou-lhes pausada e claramente: "Aqui, na presença do Salvador
Sacramentado, declaro que não fiz nada daquilo que maldosamente a mim atribuem.
Conclamo a todos para que, comigo, rezem pelo caluniador". Gesto que fez
uma impressão profunda sobre as pessoas.[2]
Os doentes mais próximos à igreja, Pe. Carlos os visitava
pela tarde. A visita para a administração dos últimos sacramentos era adiada
para as 4 ou 5 horas da manhã. Antes do jantar, rezava o breviário. Após o
jantar, o terço, andando para lá e para cá na varanda. A seguir, fazia meia
hora ou 45 minutos de meditação diante do altar. Pelas 20.30 horas, voltava, e
se devotava à leitura e ao estudo.
O Padre gostava da exata observância dessa sua ordem do
dia. Aos padres visitantes vindos de fora, ele dedicava esse seu tempo de
folga. Suas refeições eram frugais. Em atenção às visitas, moderava um pouco o
habitual rigor do cardápio.
Exercer, por decênios, atividades quase sempre iguais,
leva a pessoa, e sem percebê-lo, a tornar-se um pouco pedante. A ponto de não
entender uma situação diferente. O avançar da idade o advertia da necessidade
de procurar um Coadjutor. A autoridade eclesiástica enviou-lhe, em 1905, o
dedicado Pe. José Sundrup. Para o Coadjutor, no entanto, quase não havia
nada por fazer no âmbito da Igreja-Matriz. Porque o idoso Pastor achava que
ainda poderia dar conta de tudo, e não alterava em nada a ordem tradicional. O
Pe. Coadjutor atuava nas distantes periferias da Paróquia. Em 1906, Pe. Carlos
lhe autorizou, de boa vontade, uma viagem à sua querência wesfaliana, na
Alemanha.
Nos primeiros tempos, Pe. Carlos fazia, por vezes, uma
cavalgada pela periferia. Certa vez, seu muito conhecido “Fuchs" (Alazão)
falhou, levando um tombo. De pronta decisão, o seu dono o vendeu no dia
seguinte, e não mais quis saber de cavalgadura. Um grande alívio para a fiel
Governanta da Casa Paroquial. Porque o Alazão estava sob sua guarda. Não havia
uma pastagem cercada. E o cavalo andava pelo terreno da igreja, arrastando uma
longa corrente. Algumas vezes por dia, Dona Margarida tinha de vigiá-lo. Não
poucas vezes, e muito cansada, ela tinha de ir à procura do animal.
Por 45 anos, Dona Margarida Franzen governou, com
fidelidade e eficiência, a Casa do Vigário. Ela era simples, desinteresseira e
econômica. Não aceitava o pagamento do seu ordenado, e só gastava o
estritamente necessário. O restante ficava nas mãos do Vigário. Que muitas
vezes tentou entregar-lhe o salário. Mas era difícil demovê-la desse
comportamento. Comenta-se que, após a morte do Vigário, ela não recebeu esse
bem merecido dinheiro. O Sr. Oscar Schneider teria se empenhado pelo caso,
porque bom conhecedor da situação. Mas sem lhe dar a esperada solução.
Pe. José Sundrup era quem agora cuidava da Governanta.
Alguns meses após, Dona Margarida adoeceu. Recebeu excelente tratamento no
Hospital, onde também morreu.
Em geral, Pe. Carlos não era dado a muita conversa. Após
a missa dominical na
Igreja-Matriz, trocava umas palavras amigas com os membros da Associação
Católica, que mensalmente se reuniam, e lhes fazia mui proveitosa
conferência.
Visto que a maioria dos sócios moravam longe da sede
paroquial, o movimento na Sociedade cessava ao meio dia e pouco. A biblioteca
encontrava-se na Casa Paroquial. Mas sem atingir a sua importância maior.
Ainda existe uma Grandiosa Fotografia da Sociedade
Católica, de 1902. No centro, ergue-se a bandeira azul-branca, com estes
dizeres:
ASSOCIAÇÃO CATÓLICA
JOINVILLE
FUNDADA AOS 29 DE JUNHO DE 1880[3]
Mais abaixo, no centro, está sentado Pe. Carlos,
já há 45 anos Vigário de Joinville; a seu lado, os seus fiéis
auxiliares: Nicolau Welter (por longos anos o Caixa), João Welter e José Klein;
no outro lado, Altmann, José Ebert e Guilherme Altmann. José Ebert
morava perto e, muito dedicado, assumia todos os trabalhos para o maior bem da
Sociedade; em pé: João Tais, Bernardo Welter, Francisco Trom, Maias
Schardeck, Matias Klein, Francisco Salver, Kohler, Fritz Welter, Maier, Nicolau
Rohregger, Pedro Tais; no alto, junto à bandeira, de pé: Beil, Francisco
Krüger, Carlos Welter, José Schippert. Outros fundadores e membros da
Sociedade, tais como Lohmann e Schubert, já haviam falecido.
Em 1880, o Governo Imperial ordenou um Recenseamento.
Para Joinville, foi nomeado Coordenador do Trabalho, o Pe. Carlos
Boegershausen, e que escolheu para auxiliar seu, o bom e competente e
conhecido Carlos Júlio Parucker. A Autoridade destinou 5:000$000 Rs para
as necessárias despesas. O trabalho saiu muito bem feito, e toda ajuda foi
paga. Juntamente com a lista dos habitantes, o Vigário devolveu 2:476$000 Rs,
isto é, o excedente da verba destinada ao pagamento dos referidos trabalhos.
5. Fase
Final de sua Vida
Durante os longos anos de sua atividade em Joinville, o
Vigário gozava de boa saúde.Contudo, “estabelecido foi que o homem alguma vez
tem de morrer” (Heb. 9, 27). E os mensageiros da morte se manifestaram nos
últimos meses de 1906. Uma leve apoplexia prendeu o Padre de 73 anos no quarto.
No entanto, ocorreu uma pequena melhora. Coincidência muito feliz foi, nesta
hora, o regresso do Pe. José Sundrup, que fizera sua viagem à Alemanha,
podendo pois, assumir os trabalhos pastorais.
Repetiam-se os ataques da enfermidade. E Pe. Carlos
dirigiu-se para o Hospital por ele fundado e ricamente dotado. Lá recebeu
especiais cuidados. Sua energia continuava firme. Muitas vezes, tentou fazer
movimentos no quarto, embora com o necessário amparo de outras pessoas. Recebia
freqüentes visitas de Vereadores da Câmara Municipal, com o propósito de saber
da sua última vontade com respeito ao terreno destinado ao Hospital.
No início de dezembro, agravou-se-lhe o estado de saúde.
Muitas vezes recebeu os Santos Sacramentos. Rezava muito, e deixava que por ele
rezassem.
Às 15.15h do dia 12/12/1906, Pe. Carlos faleceu
tranqüilamente. Na Igreja Paroquial, já na "eça", fizeram-se as
exéquias. O seu enterro deu testemunho da geral consideração que desfrutava em
sua vida. O seu túmulo foi aberto no Cemitério por ele doado, e no lugar que
havia reservado para si.
Por longos anos, a simplicidade de sua sepultura refletia
a de sua vida. As disposições do seu testamento a respeito, não foram
cumpridas. Dois fiéis membros da Sociedade Católica prestaram a seu bom
Vigário a última homenagem: um confeccionou a cruz; o outro providenciou a
inscrição. Essa tão singela ornamentação do túmulo assim permaneceu até 1929.
O Senhor Bispo Diocesano, Dom Pio de Freitas, combinou
com as autoridades uma Homenagem Especial para o primeiro Vigário
Católico de Joinville. O “Jornal da Colônia”, de 31 de Outubro, nos dá a
seguinte notícia sobre o evento: “Anteontem, na presença do Bispo D. Pio e
de outros religiosos, bem como de senhores civis, foi aberto no antigo
Cemitério Católico, a sepultura do Pe. Carlos Boegershausen. Ontem, os restos
mortais do muito benemérito Sacerdote de nossa Cidade foram levados até a
Igreja Católica. No dia de finados, serão trasladados daqui para o Cemitério
Municipal, onde serão sepultados no Mausoleu especialmente construído para tal
fim".
A respeito desta solenidade piedosa, o mesmo jornal nos
dá a seguinte informação:
Pelas 11 horas de sábado, os restos mortais do Pastor
Boegershausen foram transportados, em cortejo festivo, da Igreja Católica para
o Cemitério Municipal. Depositados numa urna de zinco, serão enterrados no
monumento sepulcral especialmente erigido para este fim.
O cortejo foi acompanhado pelos Senhores: Bispo D.Pio,
Prefeito Dr. Ulisses Costa, Juiz de Direito Dr. Mário Portugal; pelos
Vereadores Municipais: Sérgio Vieira e E. Schwartz; e numerosas outras pessoas
dispostas a prestarem a última homenagem ao muito benemérito Sacerdote.
Após a Cerimônia Religiosa, Dr. Mário Portugal pronunciou
um emocionante discurso, ressaltando as elevadas qualidades e os méritos do
inesquecível Morto.
O belo monumento sepulcral é de mármore escuro. Traz um
medalhão com a fotografia do imortalizado e, no alto, o Cristo Crucificado.
Notas complementares do tradutor
Mas o “belo monumento” foi tão vandalizado, que o Senhor
Bispo, Dom Orlando Brandes, houve por bem a trasladação para a Catedral, com
novo monumento, e no qual o “Cristo Crucificado” é o que restou do original.
A trasladação ocorreu aos 05-06-2004. O monumento se
encontra logo à esquerda de quem entra na Catedral. Mons. José Chafí Francisco (Mons. Juca) nos deu estas informações.
O novo túmulo
do Pe. Carlos Boegershausen
R. I. P.
Observações finais do tradutor
O tradutor tem doutorado em Educação pela
USP. O artigo foi publicado em 1930 na revista Der Wegweiser (O
Indicador de Rumo), pelos Padres Dehonianos SCJ de Brusque (1928/38), a serviço
da Cultura Cristã junto às abandonadas colônias teuto-brasileiras.
O Nacionalismo Varguista proibiu qualquer
publicação em língua estrangeira (1938).
Até porque a igualação cultural, na época, era mais cômoda via
rebaixamento da cultura ádvena do que pela elevação da cultura nativa.
Era o nosso marxismo totalitário, com o seu “objetivo de
assimilação total, ao preço do menor esforço”. Não se tratava, pois, de
realizar a “integração do diverso, enquanto tal, guardando uma autonomia
relativa -, mas de suprimi-lo”. (J.P. Sartre, Questão de Método, p.44,
trad. de Bento Prado Júnior, Difusão Européia do Livro, 2ª edição, S. Paulo,
1967).
A coleção da
revista Der Wegweiser encontra-se no Convento SCJ de Brusque no Arquivo
Provincial Padre Lux – Appal. Av.
das Comunidades, 111, Brusque - SC, 88350-970 - Cx Postal 20. Tel.: 47-
3351-1499,
Olá, João Mário Thibéo seria o missionário João Maria Cybeo?
ResponderExcluirEssa calúnia que correu sobre o Pe Carlos e que teria sido a causa de uma brusca mudança em seu comportamento se trata especificamente de que?
ResponderExcluir