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domingo, 31 de maio de 2015

Padre Alberto Francisco Gattone: 1º Pároco de Brusque (e de Gaspar e Blumenau)

PADRE ALBERTO FRANCISCO GATTONE
1º VIGÁRIO
DE GASPAR, BLUMENAU E BRUSQUE
1860-1867[1]


Pe. Eloy Dorvalino Koch scj
Tradutor

Eis o dedicado sacerdote que, por primeiro, e sofrendo as maiores dificuldades, exerceu a administração eclesiástica em nossa Região Colonial. Não é possível narrar muita coisa a seu respeito. Mas o que dele se conta é impressionante, admirável e digno de respeito.
Foi colega do Pe. Boegershausen e do Dr. Engelke no Curso Ginasial de Hildesheim e, mais tarde, colega seu mais moço, no Curso de Teologia. Eram de uma amizade sincera, com base em mútuo respeito.
Em 1857, Pe. Carlos viajara para esta Região Missionária do Brasil. De quando em quando, escrevia extensa carta ao Diretor do Seminário de Hildesheim, e que era lida em público no referido Educandário. De cada página transparecia muito viva a falta de missionários no Brasil Meridional. Talvez as comoventes descrições tenham despertado no jovem sacerdote a idéia e o forte desejo de ser missionário. Em todo caso, Pe. Gattone apareceu, em 1860, em Joinville, apresentando-se ao antigo amigo, bem como ao Dr. Engelke, qual novo colaborador.
Um pouco antes, Pe. Carlos enviara o Pe. Bucher para a abandonada Colônia de São Pedro de Alcântara. E agora decidiu enviar o Pe. Gattone à Região do Itajaí, isto é, 4 km a oeste do atual Gaspar. Os católicos aí domiciliados já haviam construído a Capela de São Pedro, mas continuavam à espera de um Sacerdote.



[1] Artigo que foi publicado na Revista Der Wegweiser (O Indicador de Rumo), em 1931, Brusque, pp. 208-214. Mais informações sobre o autor e o tradutor (e seus comentários) encontram-se no número anterior desta revista, no artigo intitulado: “Pe. Carlos Boegershausen”.



Pe. Alberto Francisco Gattone
Nota: Foto que recebi em 1955 de Dna. Maria Rosa Bauer Schaefer (Mimi)
Tradução da Dedicatória:
Ao Senhor João Bauer, o agradecido Pe. Gattone

Pe. Carlos a tinha visitado, pela primeira vez, em 1858. Nessa ocasião, também chegou a conhecer Dr. Blumenau, que, aos 2 de abril de 1857, havia feito aos católicos a doação de um terreno apropriado para igreja, casa paroquial e cemitério na nova área urbana.
Antes do progresso da Colônia de Blumenau e da inauguração da área urbana de Gaspar, as terras de Pocinho e Belchior já estavam povoadas. Em 1839, já contava 65 famílias. Entre elas, 17 eram alemãs de São Pedro de Alcântara. A vida religiosa recebeu um grande impulso graças ao zelo de Frederico Guilherme Schramm, natural de Erkrath, em Düsseldorf. Aos 28 de dezembro de 1848, ele adquiriu e ocupou o lote de João Kerbach, situado à margem do Gaspar Grande. O Sr. Schramm fez uma visita aos seus novos vizinhos, e os animou no sentido de se construir uma nova Capela. A sua proposta logo teve aceitação entusiasta: e foram oferecidos 4 terrenos para a construção da Capela. Numa reunião geral, havida na casa de João Klocker, optou-se pela doação dele. O terreno situava-se a 4 km a oeste do Gaspar hodierno, na margem esquerda do Itajaí-açu.
Conforme planejado, foram construídos a Capela e o cemitério. Aos 29 de junho de 1850, o Padre Francisco, Vigário de Itajaí, lá celebrou a primeira festa de São Pedro. A partir daí, Schramm presidia as rezas dominicais e dos dias santos; Nicolau Deschamps Senior assumiu zelar pelo cemitério; e o "Torto Jan" era sacristão, e barqueiro também, para transportar as pessoas da margem de lá para a de cá.
Com a colonização que Dr. Blumenau realizava em Gaspar e na Garcia e Velha -, o tráfego mudou -se para a margem direita do Itajaí. Fato que levou Frederico Guilherme Schramm a requerer a Dr. Blumenau um terreno para a futura Igreja-Matriz junto à nova área urbana de Gaspar. Tal ocorreu, como já vimos acima. E aos 13 de outubro de 1877, a referida doação privada foi confirmada por documento oficial.
E Pe. Gattone tomou posse de sua Capela da Mata-Virgem. Morava no lado oposto do rio, na casa do velho Nicolau Deschamps. Também lá se hospedava o seu companheiro de viagem: Augusto Bickefest. Pela primeira vez, a Festa de São Pedro era celebrada com brilho externo. E já de muito longe, acorriam católicos para a grande festa.
Aos 22 de julho de 1860, Pe. Gattone fez o balanço geral do seu Livro-Caixa. Para a Capela, foram pagos, até agora, 105$600 Rs, havendo, pois, um saldo de 5$020. O cemitério rendera 28$940 Rs, tendo uma despesa de 3$100 Rs, com o superavit de 25$840 Rs. A Capela dispunha de 30$860 Rs.
Um pouco mais tarde, o Vigário teve que viajar a Brusque, para onde o Barão von Schneeburg, aos 4 de agosto de 1860, conduzira os primeiros colonos. Até fevereiro de 1861, a população crescera para 657 moradores, na sua grande maioria católica. Em Guabiruba, Pe. Gattone celebrou a primeira santa missa na Capela de palmitos, dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo So­corro. A Capela fora construída no local hoje (1930) ocupado pela casa comercial de João Kormannn.
Na mesma ocasião, ali celebrou a festa da Primeira Comunhão. O Sr. João Bauer, ainda vivo, foi uma dessas crianças neocomungantes.
O pessoal de Belchior-Pocinho, que agora tinha a sorte de contar com um sacerdote-residente, soube explorar bem a sua condição de autonomia. Redigiram um requerimento com 130 assinaturas, enviado à autoridade, pedindo a cri­ação de uma Paróquia. Frederico Guilherme Schramm e seu 2º filho, Francisco Bernardo, tinham levado o requerimento a toda família dona de propriedade, e insistiam na sua assinatura. O tabelião Lopes Serim ainda enviou uma carta anexa, em abono ao requerimento. Bernardo Schramm levou o documento ao Desterro, e o entregou a um deputado de confiança. A Câmara Provincial encaminhou o pedido à Comissão de Estatística e Assuntos Eclesi­ásticos, que lhe deu a sua aprovação a 17 de abril de 1861. E já no dia 25, o Presidente, Dr. Carlos de Araújo Brusque, deferiu o Requerimento.
Novamente, Schramm viajou ao Desterro, e trouxe o Documento. E Pe. Gattone instalou a nova Paróquia aos 23 de julho de 1861. Foram-lhe fixados os seguintes limites: ao Norte, a Paróquia da Penha; ao Sul, Camboriú; a Leste, o Rio Luiz Alves; e a Oeste, o Rio Praia Grande e a Colônia de Luiz Schaffen.
Na Colônia propriamente dita de Blumenau, começava, aos poucos, a atividade pastoral do Pe. Gattone. Nos anos de 1860 e 1861, houve um acréscimo de 148 católicos. Mas que não foram estabelecidos comunitariamente. Um grupo foi para Alto Garcia e Caeté; outro, para Badenfurt; os ”luxemburgueses”, para o Testo Salto, onde construíram pequena Capela em honra a Santo Notker, entre Zwang, Riedinger e Philips, na margem esquerda do Testo. O pessoal de Badenfurt construiu modesta a Capela de Nossa Senhora Auxiliadora. Os da Badênia construíram, no cemitério do Garcia, um bem peque­no Oratório, em breve substituído pela nova casa do Beiler, na imediata vizinhança.
A seguir, chegou a vez da área urbana. Os católicos de lá, sobretudo Bader, Bugmann e Wloch, impulsionaram a construção da Capela São Paulo, no cemitério. Aos 25 de janeiro de 1865, foi celebrada, em Blumenau, a primeira festa do Padroeiro.
Um pouco antes, Pe. Gattone perdera o seu sacristão de viagem: o Sr. Augus­to Lickefett, encarregado de levar documentos ao Pe. Boegershausen, Vigário de Joinville. Mas foi assassinado na balsa do Itapocu. Pe. Gattone soube da trá­gica notícia, quando em visita a Guabiruba. Junto à Capela de Nossa Senhora Auxiliadora, residia a família Klein e, um pouco mais adiante, o Sr. Kormann, cujo filho mais velho já trabalhara, por vários meses, na mata virgem.
Aos 24 de dezembro de 1864, o seu grupo de trabalhadores foi ameaçado por 11 bugres, que apareceram subitamente. Salvaram-se, entrando rapidinho nas canoas, que ficavam próximas, e remaram rio-abaixo para o outro lado. Assim, interromperam os trabalhos, e foram para casa.
A história do surgimento dos bugres trouxe inquietação à Colônia. Por oca­sião da visita do Pe. Gattone à família Kormann, o João falou a respeito do perigo sofrido na mata. A mãe do João logo acrescentou: “Não mais deixaremos o nosso filho enfrentar a mata”[1].
Foi quando o Padre teve uma idéia luminosa, e logo a comunicou: "Permitam que ele me acompanhe. Pois necessito de sacristão e de um companheiro de viagem". Os pais logo concordaram. Por mais de dois anos, João Kormann foi fiel a seu compromisso.
Vigário e Sacristão viajavam pela ampla região pastoral de Brusque, Pocinho, Gaspar, Blumenau, Garcia e Testo. A maior parte das viagens eram feitas via fluvial. Em dia bem determinado, a canoa abicava na entrada da picada florestal, onde, geralmente, o Vigário e seu Sacristão , vindos para visitar a Capela, eram recepcionados por dois homens. Os paramentos e objetos de culto eram bem guardados em mala de zinco. Sobre varas fortes, os enviados carregavam a mala pela mata; Vigário e Sacristão viajavam, às vezes a cavalo e, muitas vezes, a pé.
Naquele tempo, as celebrações religiosas eram tidas em grande apreço. Até porque, para muita família, a viva confiança em Deus era o seu único amparo nas dificuldades e desgraças. Conversações levianas e liber­tinas eram desconhecidas. O regime de então vinha tangido pela pobreza e pela seriedade da vida. Para as suas pregações, Pe. Gattone sempre encontrava pensamentos apropriados. E, mediante a sua magnífica doutrinação catequética, dirigida a grandes e pequenos, ele sabia animar a alegria e a firmeza da Fé. Ao que vinha somar-se o exemplo de sua vida. Pois era um homem de oração, de mortificação e de prestimoso amor ao próximo.
Razão pela qual, a sua conversa com os fiéis, após a celebração religio­sa, também era animadora, consoladora e edificante. Já em idade avançada, João Kormann ainda gostava de referir-se às suas viagens em companhia do Pe. Gattone: "Difícil e cheia de privações era a nossa vida", dizia. E concluía: "Ainda assim, era uma vida bonita".
Nesse meio tempo, a área urbana de Gaspar tornou-se animada. Carlos Procópio Hoeschl adquiriu, do Dr. Blumenau, alguns lotes, e fundou a primeira casa comercial. José Händchen mudou-se, da margem esquerda do Itajaí, para a área urbana, onde instalou uma ferraria. Mais tarde, seu sócio Gral com­prou-a e, por sua vez, vendeu-a a Wehmut. Antônio Deschamps, casado com Cecí­lia Altenburg, e pai de 7 rapazes e 7 meninas -, mantinha, em Gaspar, uma hospedaria, e que agora passou a casa de comércio do Sr. Gaertner, já sucedido por João Deschamps.
Poço Fundo também já estava povoado. As famílias Händchen e Schmitt passa­ram a ocupar os seus já anteriormente adquiridos terrenos. Zimmermann, Spengler e outros de São Pedro de Alcântara aqui já residiam. A partir daqui, foi-se abrindo uma picada para viagens a cavalo, até Gaspar, de onde seguia o ca­minho até a área urbana de Blumenau.
Ao longo dessa estrada residiam, em Gaspar, as famílias Schramm, João Schneider e Vater Theis; na Grande Figueira: Reitz, Nicolau Deschamps (pai e filho). Mais ou menos a meio caminho para Blumenau: Pedro Deschamps e Altenburg; em Capim-Volta: Pedro Lukas e Pedro Wagner. À margem esquerda do rio, haviam fixado residência Jorge Wagner, Pedro Rausch, João Klocker, Matias Berens, Antônio Rinkes, Pedro Junk e Jacó Theis.
Em Gaspar, porém mais abaixo, havia os seguintes moradores: Bento Dias, Major José Henrique Flores [com dezenas de escravos], Simplício, Manoel e José Rabello, Joaquim Alves, Luiz Dias de Arzão e Antônio Teixeira. Destes, a maioria lá já residiam há 10 ou mais anos.
Quando a velha Capela começou a desmoronar, não se cogitava em reformá-la. Na área urbana de Gaspar, no terreno da Igreja, deveria construir-se uma igrejinha nova e maior. Lá pelo fim de 1865, tiveram início os trabalhos. A ladeira para o Itajaí foi desmatada, e do material utilizável, foram serradas tábuas e barrotes. Na altura do morro, fez-se terraplanagem. A nova constru­ção foi progredindo sempre mais.
Aos 21 de maio de 1868, Pe. Gattone celebrou, pela última vez, a santa mis­sa na antiga Capela. A seguir, viajou para Brusque. Mas com a promessa de voltar para a festa de São Pedro e São Paulo, a fim de inaugurar a nova Capela. Quando voltou, estava tudo pronto: a construção com estrutura de madeira e paredes de barro na proporção de 30 x 69 palmos de comprimento; coberta com tabuinhas; tendo na frente uma torre, e na parede dos fundos, uma sacris­tia. A festa transcorreu bonita, e a procissão foi maravilhosa.
O número de estranhos na festa aumentara de modo considerável. Pela primeira vez, também se adotara para a festa "juiz e juíza", bem como os "mordo­mos". Eis alguns dos primeiros: Henrique Schöpping e Ana Schmitt, Carlos Höschl e Sra. Schramm, Pedro Deschamps e Sra. Spengler, Miguel e Ana Schmitt.
Juiz e Juíza encarregaram a família Schramm da ornamentação da Capela pa­ra a festa, e pagaram as necessárias despesas. Os cantores da festa foram providenciados pela família Schramm. Germano Rüdiger viera de Blumenau com os seus músicos, e animou a festa.
Após a procissão, o Padre, o Juiz e a Juíza, bem como os cantores e os músicos almoçaram na casa do Sr. Höschl, e antes da missa cantada receberam café. As despesas foram por conta do Juiz e da Juíza. Essas festas dos tempos antigos teriam sido as mais bonitas e cordiais. Todo mundo ficava satisfeito com o simples prazer que lhes era oferecido.
Com esta solene festa de São Pedro, Pe. Gattone encerrava as suas atividades em Gaspar e Blumenau. Seu campo de trabalho passava a ser Brusque e, temporariamente, Itajaí. Até chegou a exercer o pastoreio em Laguna.
Os fiéis de Gaspar e Belchior, que com ele privaram mais de perto -, guardavam dele mui grata e nobre recordação. Deviam-lhe indescritivelmente muito. Viveu entre eles uma vida de pobreza e privações.
Logo no começo de suas atividades, Pe. Gattone procurou reunir e catequizar os neocomungantes. Foram ao todo 40 rapazes e meninas, numa idade que ia dos 12 aos 30 anos, pois cresceram na selva. Com paciência e com jeito, ele os levava ao conhecimento das verdades religiosas. Também sabia dosar bon­dade com rigor. Quando um aluno fosse demasiado mal-comportado, recebia a merecida repreensão. Para estimular a uma repentina atenção, também se servia de uma pancada com o livro.
A celebração dessa Primeira Comunhão passou a ser uma festa impressionante. Todos, sem exceção, e o coração cheio de fé, renovaram as promessas do Batismo. Depois disso, Pe. Gattone levou os seus neocomungantes à casa de Nicolau Deschamps, que lhes ofereceu a merenda.
Por esse tempo, o Vigário também abriu uma escola. Que só teve a duração de dois meses. É que ele estava doentio e fraco, e o excesso de trabalho nele provocou uma hemorragia. Foi-lhe necessário, pois, interromper essa atividade.
Doença que também lhe valeu uma longa e enérgica reprimenda da esposa de Nicolau Deschamps. Porquanto, camareira do Padre, ela notou que a sua cama permanecia intacta. No começo, a camareira não se atrevia a falar. Agora, porém, fez-lhe várias interrogações. Queria saber como ele dormia. E ficou sa­bendo que o assoalho servia-lhe de leito, e um livro, de travesseiro. O co­rajoso sermão da Sra. Deschamps fez com que o Vigário se corrigisse e que, para o seu bem merecido repouso, dormisse na cama posta à sua disposição. (Se todos os maridos aceitassem, com presteza, os justificáveis sermões de suas esposas, muita coisa iria melhorar no governo da casa!).
Nos 6 anos de suas atividades em Belchior, Pe. Gattone as planejou assim: durante dois meses seguidos, ficaria na sede. Só visitas a doentes o leva­riam para fora. Tempo que ele aplicava na preparação dos neocomungantes, na animação da recepção dos sacramentos e na pregação de santas missões. Tinha muito carinho para com os doentes. Aos 9 de abril de 1866, ele fez o casamen­to de Pedro Schmitt e Ana Händchen. No ano seguinte, a jovem esposa adoeceu gravemente. Dr. Knoblauch, de Blumenau, aplicou-lhe com dedica­ção total a sua arte médica. Mas a mulher continuava inconsciente, já fazia vários dias. Pe. Gattone veio visitá-la e lhe administrou a Unção dos Enfer­mos. A seguir, assim falou aos circunstantes: "Neste caso, só com a interven­ção do próprio Deus. Que a Mãe do Perpétuo Socorro rogue pela enferma. Que­remos, todos nós, invocá-la diariamente, até melhorar. Depois disso, quero, em agradecimento, rezar uma santa missa em honra à Mãe de Deus. E para este ato, vocês devem comparecer todos".
Tal confiança não ficaria sem recompensa. Todos cumpriram a sua promessa. O bom Deus ajudou, e a assistência à santa missa foi igual a um dia de festa. E após 64 anos, a enferma de outrora ainda vive. Foi ela quem me contou a maior parte do aqui narrado sobre o bom Pe. Gattone.
Seria interessante se também em Brusque fosse possível encontrar uma vovozinha semelhante, capaz de narrar sobre a atuação do piedoso Vigário nos anos 1867-1882. Quem poderia candidatar-se?
Na área urbana de Brusque, mas no terreno da Igreja, Pe. Gattone providenciou a construção de uma Capela. Em 1873, houve o lançamento da pedra fun­damental da grande Igreja Paroquial. No ano de 1877, já procedeu à sua inauguração. Uma obra que testemunha a competência do arquiteto A. Bruns e a do mestre de obras Lübke.
Pe. Gattone conseguiu trazer o conceituado professor Brand para Brusque. Que tinha sido professor particular junto às famílias Schmitt e Händchen, no Poço Grande. Exerceu, por 11 anos, e com fidelidade, suas atividades na nova Sede Paroquial.
No ano de 1882, foi nomeado Vigário de Brusque o Pe. Ganarini. Pe. Gatto­ne foi transferido para o Rio de Janeiro. Muito em breve, chegou a desfrutar também lá de elevada estima. Atuava no grande hospital Santa Casa da Miseri­córdia e, com Monsenhor Molina, na Paróquia da Glória. Ultimamente, esteve hospedado no Convento Franciscano de Santo Antônio. Já extenuado, idoso e doente -, passou-se para o Hospital Gamboa. Aqui ocorreu, aos 28 de janeiro o seu tranqüilo falecimento. Pe. Crisólogo Kampmann ofm, que o assistira na hora derradeira, assim a ele se referiu: “Pe. Gattone foi um Sacerdote segundo o Coração de Deus".
Observação do Autor: Todas as datas e informações mais detalhadas foram tomadas da Crônica sobre Gaspar, escrita, com muita dedicação, pelo Pe. Leonardo Stock, ofm. A ele, os nossos sinceros agradecimentos.

Observação do Tradutor. Até aqui, escreveu o Padre S. Schaette ofm. A 1º de abril de 1956, escrevi algo mais sobre Pe. Gattone em Brusque. Daí, a transcrição dos seguintes tópicos:



[1] Em curso de "Museologia" (Treze Tílias-SC), uns "cursistas" de Florianópolis, "muy hermanos" dos índios, acusaram os colonos estrangeiros de crueldade contra o silvícola. Ao que respondi que tal ocorreu, unicamente, em defesa de suas vidas e de seus bens. Ao passo que os nacionais foram muito mais cruéis, e quase unicamente, para explorar os braços no trabalho, e os corpos de suas mulheres também na luxúria (N. do T.).

Um dos seus primeiros cuidados foi a construção da primeira igreja, de madeira, na "sede da Colônia", erguida no mesmo local ocupado, em seguida, pela casa paroquial. Mas paira uma dúvida sobre se esta foto se refere à 1ª igreja de Brusque ou à de Gaspar.

Igreja - Brusque tinha agora o "seu" Sacerdote. Um dos seus primeiros cuidados foi a construção da primeira igreja na "Sede da Colônia". Ergueram-na no mesmo local ocupado, ao presente, pela Casa Paroquial (1). Era de madeira. Servia muito bem. Contudo, certo domingo, durante a santa missa, deu-se um "krach" descomunal, isto é, a igreja sofreu forte aba­lo, ameaçando desabar. Causou grande pânico. Os fiéis se precipitaram para fora pelas portas e janelas. Não oferecendo mais garantias à vida, resolveram suspender, em definitivo, as funções religiosas nesta igreja, exercidas, des­de então, na escola, sita onde atualmente se acha localizada a Prefeitura Municipal. Tais vicissitudes deram aso a que surgisse uma arrojada iniciativa (2).
O Mais Belo Templo - Na verdade, era mister por côbro a tal situação precária. Tanto mais que pela Lei nº 693, de 31 de julho de 1873, a Colônia fora "elevada a Freguesia" (3), Paróquia, com a denominação de "São Luiz Gonzaga”, em homenagem ao dinâmico diretor, Dr. Luiz Betim Paes Leme (4). Passou a fazer parte da nova Freguesia a turbulenta Colônia Príncipe D.Pedro.
Tal como em outros setores, também no da Religião se fez sentir consideravelmente a atividade benfazeja deste impulsionador do progresso de Brusque, pois à sua iniciativa e apoio devem os católicos a nova Igreja (5), se bem que, em grande parte, custeada pelo Governo Imperial (6). As obras, iniciadas “... em 21 de junho de 1874, com o lançamento e bênção da pedra fundamental” (7), tiveram sua ultimação em 1877, "sendo neste mesmo ano inaugurada” (8) a Casa de Deus.
A bênção, assim da pedra fundamental como da igreja, foi realizada, com autorização especial, pelo Vigário Padre Gatto­ne (7 e 8). De tijolos, coberta de telhas, em estilo gótico, media, sem o presbitério, 20 metros de comprimento por 16 de largura. À entrada, erguia-se uma torre com 25 metros de altura. No alto da mesma, ins­talou-se o relógio doado por D. Pedro II, ainda em ótimas condições. Note-se, de passagem, que a armação para os sinos qua­se custou a vida de um trabalhador italiano. Caindo torre abaixo, teve a ventura de encontrar um monte de areia, do qual saiu ileso. 

A segunda igreja, "o mais belo templo”, construído de 1874 a 1877.

Como se pode verificar pela fotogra­fia, dois renques de álacres palmeiras ladeavam o caminho para o novo templo, situado na esplanada da colina. O prédio mais abaixo era a primitiva casa paroquial. Trata-se, em suma, do seguinte: de uma Igreja, para aqueles tempos, espaçosa e até artística, a ponto de haver sido considerada, nos primeiros anos, como "...o mais belo templo do Estado de Santa Catarina" (9). E co­mo "a obra louva o artífice”, bem merecem registrados os nomes de A. Bruns e Luebke, respectivamente, construtor e mestre de obras (10). E o sr. Diretor da Freguesia faz jus à qualificação de "homem benemérito" (11), que lhe foi dado pelo Pe. Gattone.
E quem quiser olhar, há de por força reconhecer que as­sim também merece qualificado aquele que foi o Diretor Espiritual de Brusque-Colônia, de Brusque-Freguesia, de Brusque-Vila! Abandonara os seus, a pátria, o conforto da civilização, para se embrenhar pelas matas virgens do vale do Rio Itajaí, e abraçar, por 22 longos anos, uma vida cheia de privações, “de árduos trabalhos” e, em breve, tam­bém, “de saúde combalida..." (12), e tudo isto unicamente, para ser­vir o próximo. Principalmente naquilo que lhe é fundamental na vida, a religião: conforto insuperável, alma das almas.
Dedicava-se, além disto, ao magistério. Logo que fixou residência em Brusque, foi incumbido da direção da Escola Pública Primaria, seção masculina. E o Presidente da Província, no relatório de 1868, manifesta-se mui satisfeito com a atividade do Padre, quando escreve: “Dedica-se grandemente, assim às coisas da religião como às da educação” (13). De maneira que, uma das vias urbanas de Brusque mais bem denominadas é a que leva seu nome: "Rua Padre Gattone" (14).

Notas do acréscimo:
01- “Festschrift zum 50 Stiftungsfest des Schützen-Vereins" -Brusque, citado.
02- Dna. Ana Erdtal Kohler, mencionada. A Sra. sua mãe, Dna Florentina Schalik Erdtal também viveu aqueles momentos de angústia.
03- Documento da Pedra Fundamental, por Luiz Betim Paes Leme.
04- 1º Livro do Tombo, fl. l; nota: "descendente do engenheiro alemão Gerhardt Bettink, o qual, em 1600, tinha trabalhado proficuamente na direção de minas no Brasil" (De "Os Alemães nos Estados do Paraná e Santa Catarina"), 1829/1929, p.222.
05- Documento da Pedra Fundamental, por Padre Gattone.
06- "A Arquidiocese de Florianópolis", 1951, p. 38.
07-Documento citado.
08- "Fundação de Brusque" - 1922- Pe. Germando Brand scj. Arquivo Paroquial. Pe. Eising dá como ano da bênção da igreja o de 1882.
09- "Deutschtum und Ausland" 2º vl.: "Auslanddeutschtum und Kirche", p. 192.
10- "Festschrlft zum 50 Stiftungsfest...", citado; “Der Wegweiser".
11- Documento citado.
12- Observação por ele feita, de próprio punho, em alemão, no lº Livro de Batizados, e espontaneamente confirmado por Dna. Anna Erdtal Kohler, mencionada.
13- Traduzido do texto alemão  "Die Kolonie Zeitung"- Joinvile - 2 de maio de 1868.
14- Lei nº 20, assinada pelo Sr. Paulo Bianchini, prefeito, e o Sr. Lauro Müller, secretário, em 9 de novembro de 1948.


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