Total de visualizações de página

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Azambuja, os Dehonianos e Dom Joaquim Domingues de Oliveira

A Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus em Santa Catarina

Assim teve início a Congregação, hoje existente na universa terra. Também no Brasil. É que o Revmo. Pe. Fundador era muito pelas missões. E como Pe. Thoss, 1º Procurador das missões, lhe apresentasse um dia novo plano de atividades missionárias para os padres alemães, logo obteve a mais calorosa aprovação, acrescida da orientação de pôr-se em entendimento com Pe. Lux, que vinha de regressar do Congo Belga por motivos de saúde. Foram expedidas car¬tas, neste sentido, ao Bispo de Porto Alegre, a Mons. Topp, de Florianópolis, e ao Pe. Carlos Boegershausen, de Joinvile, que imediatamente responderam, fa-zendo as mais convidativas propostas acompanhadas da insistência de virem quanto antes. Decidiram-se por Santa Catarina, atendendo a M. Topp.
Foi em 15 de junho de 1903. À tarde, após a bênção solene na capela do Seminário de Sittard (Holanda), reúnem-se todos, mestres e alunos, no amplo salão nobre, para homenagear a dois missionários: Pe. Gabriel Lux e Pe. José Foxius. Após vários cânticos e discursos de despedida, também eles fizeram uso da pa¬lavra. Pe. Lux descreveu suas atividades missionárias no Equador, donde fôra expulso pelos agentes da maçonaria, descrevendo, a seguir, o país e o povo que formaria seu futuro campo de ação: Brasil Meridional.
Até Paranaguá (Paraná), viajaram a bordo do navio brasileiro "Maceió". De lá, com o navio costeiro "Max", até Florianópolis, onde Pe. Foxius aportou aos 15-07-1903. Como Pe. Lux viesse mais tarde, por haver ido a Curitiba cumprimentar o Sr. Bispo Diocesano, D. José Camargo de Barros, Pe. Foxius foi hospedado por alguns dias na casa paroquial. Ao depois, “...instalaram-se num quarto por cima da sacristia da igreja da Ordem Terceira de S.Francisco, onde a única mobília eram os caixotes em que haviam trazido sua modesta bagagem de além-mar".

Foto n º13: A Igreja de São Francisco da Ordem Terceira de Florianópolis

A instâncias de Mons.Topp, assumiram a direção da Escola Paroquial, que de 40 alunos passou logo a 120. Mas acontece que alguns sacerdotes, de acordo com o fim especial a que vieram, preferiam trabalhar em paróquias abandonadas, especialmente nas do interior. De outra parte, povo e Governo se empenhavam pela fundação de um ginásio. Por várias e ponderáveis razões, por exemplo: falta de professores, dificuldades iniciais do idioma -, não lhes foi possível, aos mencionados Sacerdotes, aceitar cometimento dessa natureza. Pe. Lux, no entanto, querendo unicamente o bem do povo florianopolitano, resolveu oferecer, não só o futuro ginásio, como ainda a Escola Paroquial, aos Revmos. Padres Jesuítas de Porto Alegre. Foi assim que, nas imediações da referida escola, teve início, em princípios de 1905, o Colégio Catarinense, hoje, por sem dúvida, uma glória do Nosso Estado! (*)

Foto nº 14: Padre Lux com seus alunos da Escola Paroquial


Carta onde os pioneiros Lux e Foxius saúdam o Brasil Meridional, seu novo campo missionário 

Hoje, domingo, dia 12 de julho (1903), está prevista a nossa chegada a Paranaguá, donde, embarcados em navio costeiro, prosseguiremos viagem até Desterro. Realmente, lá em baixo, contra os longínquos azuis, vemos, pelo óculo-de-alcance, os contornos escuros do planalto paranaense.
Lá se situa Curitiba, a sede episcopal. Lá se encontra, pois, a terra dos nossos anseios e de nosso destino. O vasto campo de nossas atividades.
É de coração que te saudamos, ó terra brasileira, nova pátria dos padres do coração de Jesus! Não te cobiçamos os tesouros e as riquezas. Para cá viemos, não para deixar-nos em contínua admiração pelas tuas belezas naturais. É propósito nosso, consagrar as nossas energias sacerdotais tão somente à grande obra da propagação e do fortalecimento da fé católica.
Urge, agora, arrumar a bagagem. Despedir-nos do bom “Maceió”, último pedaço flutuante da pátria. Despedir-nos dos simpáticos oficiais e, de modo especial, do sincero comandante Ohlerich. Dos bravos marinheiros e dos amáveis companheiros de viagem. Bem como dos amigos que ficaram na pátria. Chegou a hora de cessarem as alegres conversas, pois o dever, o suado labor nos chama.
Tudo de bom para vocês, queridos amigos! Tudo de bom para vocês, queridos alunos da escola apostólica! Procurem tornarem-se bons e valorosos sacerdotes do coração de Jesus, a fim de que, em breve, possam, lado a lado conosco, ou em nosso lugar, trabalhar na vinha do senhor que, lá ao longe, se estende ante nossos olhos.
Não se esqueçam de nós, quando em oração diante do tabernáculo do senhor e diante da imagem da mãe de deus!
Saudações mil!
Pe. Lux e Pe. Foxius.

Tradução: Padre Eloy Dorvalino Koch


Carta do Padre Lux ao Padre Peters Sobre a Fundação Missionária dos Padres Dehonianos SCJ no Brasil Meridional

Vejo que o Senhor pretende saber algo a respeito dos primeiros entendimentos havidos em torno desta Missão e de seus Primórdios. Escrevo em forma epistolar. Peço que o senhor torne o texto mais palatável aos leitores.
Naquela época, já missionávamos em Regiões Estrangeiras, tal como sucedeu no Congo e no Brasil Setentrional. No entanto, pelo fato de a Congregação ainda não estar dividida em Províncias, às mencionadas Regiões foram enviados membros procedentes de todas as Nações. Mas a partir de 1902, manifestava-se um movimento favorável à separação da Província Alemã, bem como o seu desejo de uma Região Missionária para os alemães.
Pe. José Thoss, então Reitor da pequena Comunidade Sacerdotal em Münstergensen e, a seguir, Reitor da Escola Apostólica de Sittard (Holanda) -, escreveu-me uma carta a Bonn, onde eu residia. Pedia-me que eu procurasse um apropriado campo de apostolado para os Padres Alemães.
A seguir, fomos convocados para uma conferência a realizar-se em Sittard. Nela propus nos instalássemos numa destas Regiões: ou no Chile Meridional, ou na Argentina, ou no Brasil Meridional. Venceu esta última opção.
Pe. Germano José Schmitz foi incumbido destas sondagens. E uma vez bem sucedidas, Pe. José Foxius e eu fomos, em Junho (ou Julho) de 1903, como pioneiros, para a nossa Região Missionária. Na ocasião, Santa Catarina e Paraná constituíam uma só Diocese. Era Bispo de Curitiba: Dom José de Camargo Barros.
Chegados a Paranaguá, nos separamos: Pe. Foxius viajou antes, com destino a Florianópolis, ao encontro do Pe. Francisco Topp; e eu, a Curitiba, para me apresentar ao Bispo. Foi com ele acertado que os dois missionários nos fixássemos em Santa Catarina, e nos puséssemos à disposição do Pe. Topp. De modo que também eu viajei para Florianópolis.
Não obstante a preferência dos nossos confrades d’além-mar ser pela atividade pastoral -, eu achava que devia aceitar a proposta do Pe. Topp: a Escola Paroquial. Porquanto, assim eu poderia ganhar tempo e, com calma, tomar conhecimento das condições do país e do povo, evitando, pois, desacertos, ao aceitar Paróquias; e prevenir fiascos perante olhares, de algum modo, sempre desconfiados ante as primeiras iniciativas missionárias de alemães.
A situação escolar daquele tempo era lamentável. Segundo eu saiba, ainda não havia, em Florianópolis, nenhuma escola do governo. Com exceção do bem dirigido Colégio das Irmãs da Divina Providência, havia somente certo número de Escolas Particulares apoiadas pelo Município, e que, de modo algum, correspondiam às verdadeiras exigências. Também não era melhor a Escola Paroquial do Pe. Topp.
Em 1903, também chegaram os padres Henrique Meller e João Stolte. De modo que, em 1904, abrimos a escola nas laterais da Igreja de São Francisco. A escola foi logo freqüentada, e simultaneamente, por crianças de classe média e por aquelas de classe alta da cidade.
Além de, em primeiro lugar, nos dedicarmos ao ensino -, nossos padres tiveram de pedir auxílio a vários senhores da cidade, tais como: P. J. B. Peters e o Prof. Bueno de Gouveia, da Escola Normal.
Além do nosso magistério na Escola Paroquial, dávamos atendimento pastoral na Igreja de São Francisco. Um pouco antes do Pe. Topp, a vida-de-igreja estava tão para baixo, que raramente alguém vinha à igreja ou freqüentava os Sacramentos. Com o seu zelo total pelos fiéis, e por longos anos, a Igreja tomou um forte impulso. É que faltavam operários na Vinha do Senhor para devolvê-la a uma florescente cidade católica. Pe. Topp era quase o único Sacerdote para aquelas 12 a 15.000 almas.
Quando lá chegamos, só estava representada uma Congregação Religiosa: a das Irmãs da Divina Providência. Também na Igreja de São Francisco, então inteiramente abandonada, e pertencente a uma antiquada Ordem Terceira -, brotava, revigorada, a vida católica. Mais e mais, aumentavam a assistência à santa missa e a recepção dos Sacramentos.
Havia muito que fazer em termos de limpeza e arrumação. Quando assumimos a Igreja, ninguém, até então, se havia importado com o melhoramento do seu ambiente. Só em certas ocasiões, lá era celebrada a santa missa. Devido à umidade, os paramentos ficaram manchados, e roídos pelas traças. O interior do templo, notadamente o altar, estavam abandonados e imundos.
Mas com a ajuda de alguns piedosos e zelosos membros da Ordem Terceira, houve muito escovar e lavar, muitos remendos e novas costuras. De maneira que, em breve, a tão abandonada Casa de Deus brilhava em trajes novos e mais dignos. Tornando-se, aos poucos, uma Igreja alegremente freqüentada por todas as camadas da sociedade.
Nesses trabalhos de faxina, também nos cabia levar em conta as muitas urnas de restos mortais, que se encontravam acomodadas em toda parte nas laterais da Igreja, bem como embaixo e atrás do altar-mor.
O que revela um gesto de veneração para com os parentes falecidos. Como o senhor sabe, junto aos povos latino-americanos é uso não enterrar os defuntos, mas depositá-los em catafalcos construídos no rés-do-chão.
E os membros da Ordem Terceira desejavam, pois, depositar seus falecidos na Igreja da Ordem. Neste sentido, passados alguns anos, retiravam os corpos dos esquifes, e os depositavam em urnas de mármore, a seguir, colocadas nas laterais da Igreja.
Pessoas mais pobres, sem condições de providenciar urnas dispendiosas, contentavam-se com qualquer nicho ou desvão atrás ou debaixo do altar-mor, onde, sem qualquer invólucro, ajeitavam os restos mortais. Alguns iam ao extremo de colocá-los no vão do pedestal duplo das imagens dos santos. Sendo que assim podiam ser conduzidos em procissão pela cidade.
Bem pode o senhor imaginar quanto trabalho deu essa faxina. As bem fechadas urnas até que davam pouco trabalho desagradável. Muito, porém, os inúmeros crânios e ossos escondidos por toda parte, em todo canto, em cada nicho do altar.
Uma vez que as repetidas solicitações pelo jornal não obtinham respostas, resolvi fossem as urnas enterradas debaixo de uma das torres da Igreja. Em meio à crendice popular, ainda correu, por muito tempo, o rumor de que, naquela torre, aparecia uma alma penada: a “mulher seca”.
Aproveitei o primeiro ano para fazer algumas excursões pelo interior do Estado, com o objetivo de melhor conhecer as suas condições. Uma após outra, fomos assumindo as Paróquias de Brusque, São Bento e Itajaí.
Com o correr do tempo, a Escola Paroquial era insustentável. O povo desejava a ampliação da Escola para a Fundação de um Curso Ginasial. Para tanto, porém, faltavam-nos condições financeiras e professores.
Nesta situação, o povo decidiu apelar para os Padres Jesuítas do Rio Grande do Sul. Estes, no entanto, rejeitaram o pedido, pois não queriam fazer-nos concorrência.
A fim de contornar a situação, e também para corresponder à insistência dos nossos Padres, que queriam trabalhar na Pastoral -, eu dirigi, pessoalmente, aquele pedido aos Padres SJ, isto é, no sentido de eles fundarem o Ginásio. Com a sua anuência, deixei esmorecer a Escola, e fui enviando os nossos Padres para várias Paróquias.
Creio, prezado P. Peters, que o relato será o bastante, para o Senhor formar um quadro aproximativo da época para a qual deseja informações.
Caso o senhor desejar algo a mais, é só me comunicar. [...]

Tradução: Pe. Eloy Dorvalino Koch scj
Digitação: Karina Santos Vieira

Notas Explicativas:
Encontram-se na Pasta Individual do Padre Gabriel Lux scj:
1- Carta original, em alemão e manuscrita: uma doação de Beatriz Kormann ao Diretor do Appal, em 1983;
2- O texto em alemão foi digitado por Úrsula Rombach, 03-06-2007


Foto nº 15: Os Padres Gabriel Lux, José Foxius e João Stolte com os alunos da Escola Paroquial de Florianópolis


II - A Congregação em Brusque

Em meados do ano de 1904, o Pe. Lux percorreu várias regiões do Estado de Santa Catarina, a fim de certificar-se pessoalmente das reais necessidades espirituais das populações do interior. Nesta ocasião, passou também por Brusque. E o Pe. Antônio Eising, que já lhe havia dirigido veementes apelos no sentido de enviar sa¬cerdotes que o coadjuvassem na imensa Paróquia, renova então, pessoalmente, o pedido, oferecendo-lhe a Paróquia. Pe. Lux atende. E o primeiro Sacerdote Religioso a trabalhar na cura d’almas em Brusque, foi o Pe. João Stolte scj, como Coadjutor do Pe. Eising. Em sua homenagem, foi escrito o opúsculo Pioneiro Dehoniano em Brusque.

Foto nº 16: Padre Antônio Eising

Foto nº 17: Padre João Stolte

Em fins de julho de 1904, recebera ele, o Pe. Solte, o honroso convite de fazer o sermão sobre o Senhor Bom Jesus, numa igreja de Florianópolis. Pois apesar de não se haver familiarizado ainda com a língua portuguesa, eram muito apreciados os seus sermões, em parte decorados com rara facilidade, e apresentados com espírito apostólico, naturalidade e arte. Não chegou, porém, a proferi-lo. 
Transferido pelo Superior Pe. Gabriel Lux, embarcou no navio costeiro "Max”, e aportou em Itajaí aos 4 de agosto. No dia seguinte, teve como condução um carro-de-mola, que o trouxe a Brusque, onde pernoitou. Indo no dia 6, pela manhã, rezar a missa na então capela de Azambuja. Precisamente no dia em que iria proferir o aludido sermão em Florianópolis. 
Passou a Coadjutor do Pe. Eising por alguns meses apenas, para sê-lo então do Pe. Lux, Vigário pela Provisão de 4 de outubro de 1904, dada por D. Duarte Leopoldo e Silva, segundo Bispo de Curitiba. Pe. Eising, como vimos, retirou-se para Blumenau, onde ingressou na Ordem Franciscana. E Pe. José Sundrup, do Clero Diocesano, e que lhe fora Coadjutor por três anos -, foi nomeado Capelão de Azambuja, e em seguida transferido para Joinvile, em 1905. 
Em princípios de 1905, chegaram os seguintes Padres do S. Coração de Jesus na recém-assumida Paróquia de Brusque: Gabriel Lux (Superior e Vigário), Meller, Lindgens, Schüler e Wollmeiner. Pe. Lux foi Vigário desde 4 de outubro de 1904 até 20 de agosto de 1905. De 19 a 25 de agosto, efetuou-se a 2ª visita pastoral, feita por D. Duarte Leopoldo e Silva, 2º bispo de Curitiba, ocasião em que Pe. João Stolte, pela provisão de 21 de agosto, fôra nomeado Vigário; sendo que Pe. Lux passava a Fabriqueiro-Administrador de Azambuja. (*)

Foto nº 18: Dom Duarte Leopoldo e Silva com os Padres Antônio Wollmeiner, Henrique Meller, Henrique Lindgens, Gabriel Lux, João Stolte, José Foxius e Francisco Schüller em agosto de 1905 em Brusque


III - Fase de Empreendimentos e consolidação em Brusque: 1904-1920

A fase de consolidação operava-se na Paróquia propriamente dita; a de empreendimentos, em Azambuja. Por consolidação, entendo o trabalho de manter e firmar as obras existentes, e a mais completa dedicação à cura d’almas. Por empreendimento, a realização de novas iniciativas, de trabalho mais de ordem material, como construções - se bem que destinado ao espiritual. Por conseguinte, não se nega, até certo ponto, a este o que se atribui àquele, e vice-versa. Assim como a conservação do mundo é de importância igual à de sua criação, também manter e consolidar iniciativas é tão importante como concretizá-las. E porque a consolidação não se reveste de tanto brilho, pode até tornar-se mais meritória.

Foto nº 19: Brusque no começo do século XX

Foto nº 20: Brusque no começo do século XX

Foto nº 21: A Igreja matriz São Luis Gonzaga de Brusque no começo do século XX



Fase de empreendimentos em Azambuja

Depois da visita pastoral em Brusque, D. Duarte Lopoldo e Silva se dirigiu a Blumenau com a mesma finalidade. De lá baixou um Decreto a lº de setembro, que desmembrava: da Paróquia, o Santuário de Azambuja, elevando-o à dignidade de Santuário Episcopal, a ele anexo o hospital e todo o território, "provendo no cargo de Fabriqueiro-administrador... ao Revmo. Pe. Gabriel Lux, a quem concedia todas as faculdades para dirigir, reger e administrar o dito Santuário e Hospital, como Delegado da Autoridade Diocesana...”. A esta provisão seguiu-se imediatamente outra: no mesmo dia, nomeando o sr. José Kohler auxiliar do Pe. Lux.
Esse decreto, bem como a Provisão referente a Pe. Lux, constituem um marco importante e decisivo para o desenvolvimento de Azambuja.

Foto nº 22: Padre Gabriel Lux no início de seu ministério no Brasil


A fase de administração do Pe. Gabriel Lux, SCJ, experimentou grande progresso. Cedo ele sentiu a necessidade de ampliar o hospital ou empreender uma nova construção, alternativa esta preferida pelo Bispo.
O Pe. Lux não perdeu tempo; já em 1905 lançou-se a levantar um prédio de alvenaria. É o que hoje abriga o "Museu Dom Joaquim". O Hospital antigo ficaria reservado para asilo de velhinhos e aleijados. Prossegue a nova construção com muitas dificuldades; por um lado, a extrema pobreza do povo, por outro lado, a obra era considerada avançada para aquele tempo.
Mesmo assim, e desta vez com um auxílio de 25 contos do Governo, deu-se começo em 1909, à construção do hospício de alienados. Com tais obras, o Pe. Lux pretendia racionalizar o atendimento aos doentes: um pavilhão para asilo, outro para enfermos em geral, e um terceiro para dementes.
Entrementes, em 1908, Santa Catarina passara a ser Diocese, desmembrada de Curitiba, sendo eleito para seu 1º Bispo Dom João Becker. Este visitou Azambuja em 1909 e 1911. Manifestou, nessa ocasião, grande admiração pelas obras em andamento neste pequeno recanto e já com fama de sagrado.
O novo Hospital, com 2/3 da construção pronto, foi inaugurado em 1911. No ano anterior, o número de pessoas internadas somou: 330 no hospital, 22 no asilo e 8 no hospício. Por volta de 1915 chegou o Dr. Melcopp, o 1º médico a trabalhar em Azambuja.
O Hospício de alienados fundado pelo Padre Lux foi o primeiro estabelecimento do gênero no Estado, e que serviu até 1942, quando foi transferido para a Colônia Sant'Ana (curiosamente os tijolos do seu prédio forma usados depois para a construção do atual Santuário de Nossa Senhora de Azambuja; já o local do Hospício foi ocupado pelo Seminário Metropolitano Nossa Senhora de Lourdes). Os dois Excelentíssimos Senhores Bispos de Florianópolis: D.João Becker e D. Joaquim Domingues de Oliveira, não lhe regatearam, ao zeloso e fiel administrador e competente arquiteto e construtor, os mais expressivos elogios, perenizados no Livro do Tombo do Santuário. 
Vale anotar que o grandioso edifício do Pe. Lux construído para o Hospital (àquele tempo chamado de Santa Casa de Miserciórdia), a partir de 1927, e por vários anos, serviu ao Seminário Menor da Arquidiocese. Desde 1960, o antigo Hospital e Seminário se transformou no importante Museu Arquidiocesano Dom Joaquim.
Em 1920, Pe. Lux se retirava para Vargem do Cedro. E substituiram-no, sucessivamente, os seguintes padres scj: Vilibaldo Junkmann, José Borgamnn, Carlos Keilmann e Henrique Lindgens. Em 1927, encerravam-se, em Azambuja, as atividades dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, sucedidos, então, pelos Revmos. Padres da Arquidiocese. Inicialmente, na pessoa do mui benemérito Pe. Jaime de Barros Câmara, DD. Reitor do Incipiente Seminário, mais tarde, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro. Por sem dúvida, uma glória da Igreja! (*)

Foto nº 23: Azambuja em 1907: já se tem as fundações do novo prédio do Hospital

Foto nº 24: 1909: O novo prédio do Hospital está com as obras bem adiantadas

Foto nº 25: 1915: Azambuja com a sua primeira ermida, o Santuário, o Asilo. o Hospital e o Hospício de Alienados

Foto nº 26: 1915: Prédio do Hospital construído apenas em dois terços por Padre Lux

Foto nº 27: Santuário de Azambuja: o primeiro de Santa Catarina

Foto nº 28: A primeira sede do Hospital de Azambuja

Foto nº 29: O Hospício de Alienados

Foto nº 30: As Irmãs da Divinda Providência no Hospício com o grupo feminino

Foto nº 31: Padre Lux no Hospício com o grupo masculino

Foto nº 32: O primeiro prédio do Asilo

Foto nº 33: Vista para Hospício, Hospital, Asilo e Santuário

Foto nº 34: O antigo Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio de Azambuja

Foto nº 35: Azambuja

Foto nº 36: O antigo prédio do Hospital, hoje Museu Arquidiocesano Dom Joaquim, cujo projeto fora concluído na reitoria do Padre Jaime de Barros Câmara: vista frontal

Foto nº 37: O antigo prédio do Hospital, hoje Museu Arquidiocesano Dom Joaquim, cujo projeto fora concluído na reitoria do Padre Jaime de Barros Câmara: vista traseira

Foto nº 38: Vista de Azambuja atualemente: O Seminário, o Museu. o Santuário, o Hospital

Foto nº 39: Azambuja: notar a gruta

Fonte *: KOCH, Eloy Dorvalino. Catolicismo em Brusque: Recordação do Centenário. Brusque: Sociedade Amigos de Brusque, 2010.






A Relação de Dom Joaquim Domingues de Oliveira com Azambuja






No Convento Sagrado Coração de Jesus de Brusque em 1953 nas comemorações de 75 anos de fundação da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus e 50 anos de presença dehoniana no sul do Brasil (precisamente no território da Arquidiocese florianopolitana). Nessa ocasião Dom Joaquim doou à congregação o terreno onde se encontrava o antigo (e se encontra o atual) Convento (o terreno pertencia à Paróquia São Luís Gonzaga.


O Complexo de Azambuja sempre foi considerado como “a menina dos olhos de Dom Joaquim Domingues de Oliveira”. Isso porque desde a primeira visita pastoral, do então, Bispo de Florianópolis, este, foi tomado de ternura pelo “Vale das Graças”, por todo aquele espírito de sacralidade e caridade que naquela época era muito forte nas obras azambujanas.
Já em 1915 o Bispo considerava o vale o melhor local para a instalação do futuro seminário diocesano. Por isto, indagado por Padre Gabriel Lux scj se estava satisfeito com o que vira o Bispo, indicando o então prédio da Santa Casa de Misericórdia (hoje Museu), disse que faltava estar escrito “Seminário Diocesano” no frontispício do prédio.
Aí entra um mal entendido sobre a saída dos padres dehonianos de Azambuja em 1927. Azambuja era um curato e tinha uma administração particular em nome da, agora, Arquidiocese de Florianópolis, dentro da enorme paróquia de São Luis Gonzaga, que compreendia, em território, os atuais municípios de Brusque, Guabiruba e Vidal Ramos. Portanto, os padres dehonianos estavam sobrecarregados de trabalhos, tendo ainda aos cuidados o Seminário Menor Sagrado Coração de Jesus, da congregação SCJ, no Centro de Brusque.
Há aí outra questão: oficialmente os dehonianos nunca foram responsáveis pelo Complexo de Azambuja. O que ocorreu é que na época da criação do Santuário, desmembrado na paróquia de Brusque, o Bispo de Curitiba, ao qual Brusque então estava subordinada, nomeou o então pároco, Padre Lux, Cura do Santuário e administrador do Complexo. E isso era natural, já que a paróquia brusquense estava sob os cuidados dos Dehonianos. Além do mais, boa parte das paróquias do nordeste catarinense forma ocnfiadas em diferentes momentos aos dehonianos, por conta da falta de padres na região. Além disso, o Bispo, que tinha plena confiança nos dehonianos, não iria entregar a administração de um complexo diocesano nas mãos de qualquer um, e neste ponto os dehonianos tinham uma fama muito boa. 
Acontece que quando Padre Lux foi transferido para Corupá não foi nomeado um novo “reitor”, mas apenas padres dehonianos foram tornados responsáveis por Azambuja, sem o mesmo vínculo e responsabilidade do antigo reitor Padre Lux.
Por conta desses excessos de afazeres o atendimento a Azambuja ficou prejudicado. E esse atendimento, e também a administração, não deveriam ser prejudicados, pois, o Complexo compreendia muitas obras já naquela época: Santuário, Hospital, Hospício Asilo. Vale lembrar que o único santuário do estado era o de Azambuja e que muitas pessoas vinham de longe para ali rezar e pagar promessas.
Diante disso, e das constantes reclamações das irmãs da Divina Providência, que trabalhavam no Complexo, somado à sobrecarga dos padres dehonianos e da necessidade de transferir o recém-fundado Seminário Metropolitano para longe do agito da capital Florianópolis o Arcebispo resolveu por decreto transferir o Seminário para Azambuja e pelo decreto entregar o atendimento e administração do Complexo para o clero arquidiocesano, tendo como primeiro responsável o Padre Jaime de Barros Câmara, futuro Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro.
O problema dessa história não foi o feito, mas o método empregado por Dom Joaquim: por decreto, sem consulta aos dehonianos (embora na Cúria de Florianópolis já fosse tida como oficial a transferência do Seminário para Azambuja semanas antes, como consta no Diário do Reitor, o que faz supor que o ato administrativo do Arcebispo não foi tão intempestivo quanto se supõe). E daí surgiu a falsa história de que o Arcebispo tomou Azambuja dos dehonianos. Na verdade o Arcebispo agiu de acordo com o Direito Canônico que previa total poder do Arcebispo no Curato, que, para todos os efeitos, era de responsabilidade da Arquidiocese. Só que esse gesto majestático, de uso absolutista do poder, típico da época, e tendo em Dom Joaquim um zeloso representante, foi muito mal acolhido. Mas, na prática foi um bem para os dehonianos, que se viram com um grande problema a menos a ser administrado. Dali para frente tudo seguiria em ritmo ordeiro. De fato não há notícia de alguma reclamação formal dos dehonianos em relação ao ocorrido, embora tenha havido sim, informalmente, muita reclamação. Há quem diga que havia uma vontade de abrir-se um processo contra o Arcebispo. De todo modo nunca houve rixa entre dehonianos e diocesanos. Ao contrário, não poucas vezes os seminaristas dehonianos e diocesanos participaram conjuntamente de eventos, o que ocorre até hoje.
Voltando à relação de Dom Joaquim com Azambuja, cabe notar que o local na Arquidiocese de Florianópolis que mais diretamente teve o destino traçado pelo arcebispo foi Azambuja. Todas as obras realizadas aí tiveram o aval joaquino. Algumas foram ideias mesmo do Arcebispo.
Nos 53 anos de episcopado joaquino em Florianópolis o antigo santuário foi demolido e o novo construído e consagrado com grande pompa em grandiosa solenidade.
O antigo prédio do Hospital, que serviu também ao Seminário foi completado
O novo hospital foi construído, bem como o segundo prédio do Asilo. A antiga ermida deu lugar à gruta com a capela dos ex-votos.
O Morro do Rosário, ideia do Arcebispo, foi construído “à toque de caixa”: começado em 1950, teve seu monumento principal inaugurado já naquele ano e concluído em 1954.
Mas a obra mais afetada pelo Arcebispo foi mesmo o Seminário. A instituição foi iniciada na casa paroquial da catedral, na capital e logo transferido para uma casa na mesma cidade. Mas, o Arcebispo não gostou e resolveu transferi-lo para Azambuja, onde sempre quis que estivesse.
Os reitores do Seminário, bem como demais formadores, sempre foram escolhidos sempre entre os melhores nomes do clero. Não por acaso são nomes lembrados até hoje, muitos alçados ao episcopado e até ao cardinalato, caso de Dom Jaime, o primeiríssimo reitor.
Por isso mesmo a excelência do Seminário foi sempre máxima, sendo conhecido internacionalmente pela brilhante formação naquele período áureo, ainda que tenha passado por dificuldades de adaptações desde o Concílio Vaticano II, como toda a Igreja.
Tanta excelência que já o terceiro reitor do Seminário foi seu ex-aluno: Padre Afonso Niehues, que depois se tornou sucessor de Dom Joaquim no governo da Arquidiocese. A semente foi tão bem plantada que substituiu velha árvore que a originou quando o tempo desta passou.
O antigo prédio do Seminário foi aumentado em 1947 e já se planejava novo aumento, quando foi sugerida ao arcebispo a construção de novo prédio para o Seminário em 1952. E assim se fez imediatamente. E assim a pedra fundamental foi benta em 1957. Já em 1960 o novo prédio passou a ser ocupado e o antigo, com sua planta original, foi tornado Museu Arquidiocesano Dom Joaquim.
Por fim, o novo prédio do Seminário foi inaugurado nas comemorações do áureo jubileu episcopal do arcebispo, sendo o ponto alto da festa. Foi também o canto do cisne do arcebispo já octogenário. Sopravam os ventos renovadores do Concílio Vaticano II é o arcebispo, depois de oito décadas, tinha dificuldades para entender (mas não para aceitar) a renovação. Assim, o menino Afonso que Dom Joaquim acolheu no seminário recém-fundado em Florianópolis, e que esteve a frente da mudança do mesmo para Brusque, o sucedeu no governo arquidiocesano, e depois o sucedeu por também no título de Metropolita quando “aquele que governou com solicitude” (cf. Rm 12, 8) foi chamado pelo Pai para a vida eterna.
Mesmo assim, o nome de Dom Joaquim continua forte na Azambuja amada, que era visitada pelo menos três vezes por ano pelo Arcebispo (início e término do ano letivo do Seminário e festa de Nossa Senhora de Azambuja). Se o corpo do arcebispo repousa na Catedral de seu governo, seus demais pertences estão guardados e expostos no outro local de seu coração, para lembrar o zelo de um fiel príncipe da Igreja: Joaquim Domingues de Oliveira.


Dom Joaquim Domingues de Oliveira, Arcebispo de Florianópolis no Solene Pontifical na Igreja Matriz São Luiz 









Dom Joaquim é o nome que praticamente se confunde com o da Diocese e depois Arquidiocese de Florianópolis. 
Dom Joaquim Domingues de Oliveira (Vila Nova de Gaia, 4 de dezembro de 1878 — Florianópolis, 18 de maio de 1967) foi um bispo católico luso-brasileiro.

Filho do capitão Joaquim Domingues de Oliveira Belleza e de Joaquina da Silva Mota. Seu nome completo deve ter sido igual ao do pai, mas teria suprimido o último sobrenome por achar que "não ficava bem o sobrenome Belleza para um religioso...".

Veio ainda menino com sua família para o Brasil, para a cidade de São Paulo. Completou seus estudos primários em escolas públicas; o secundário fez no Liceu Coração de Jesus, onde teria despertada sua vocação religiosa.

Fez os exames preparatórios na Faculdade de Direito de São Paulo e matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mais para agradar ao pai. Mas, antes de iniciar o curso, matriculou-se no Seminário Episcopal de São Paulo em 1898.

Em 21 de dezembro de 1901 foi ordenado sacerdote. No dia seguinte celebrou sua primeira missa na Capela da Beneficência Portuguesa.

No ano seguinte à sua ordenação, foi nomeado professor do Seminário Diocesano e capelão da Capela de São João Batista. Em 8 de outubro de 1905, aconselhado pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, foi à Roma para concluir seus estudos de Direito Canônico.

Volta a São Paulo depois de 1907, após ter recebido o título de "Doctor sive magister" em Direito Canônico.

Foi nomeado bispo em 2 de abril de 1914 e empossado em 7 de setembro do mesmo ano, para a então diocese de Florianópolis, elevada a Arquidiocese de Florianópolis em 17 de janeiro de 1927, tendo sido seu primeiro arcebispo.

Foi pastor do rebanho 1914 a 1967. Encontrou um Estado catarinense rural e viu-o paulatinamente se industrializar. Entravam e saíam governantes, entravam e saíam Vigários, o povo crescia e mor­ria, e Dom Joaquim continuava. Acolheu seminaristas que depois ordenou sacerdotes, bispos, viu-os envelhecendo, morrendo, e o Pastor continuava a “presidir com solicitude”, seu lema Episcopal.
Encontrou uma Diocese nascente, viu nascerem as Dioceses de Joinville, Lages, Chapecó, Tubarão, para cuja criação deu os passos exigidos e viu a Diocese ser Arquidiocese em 1927. Criou Paróquias, desativou outras, aumentou consideravelmente o número de Capelas que viu serem fundadas, crescerem e serem elevadas a Paróquias. E o Pastor continuava.
Foram 53 anos de ininterrupto pastoreio à frente da grei que conhecia como a mãe conhece os filhos. Deu-lhe o ensinamento, o caminho a seguir e, para sua surpresa, viu que caminhava adiante, fugindo das lições aprendidas. É que os tempos avançavam, a História não parava e, quem sabe, o Pastor não conseguira acompanhar as ovelhas nas novas estradas. 
E faleceu, a 18 de maio de maio de 1967, Dom Joaquim Domingos de Oliveira, sepultado na Igreja Catedral que reformara em 1922, para os festejos do Centenário da Independência, Igreja-Mãe onde por mais de meio século presidiu a Eucaristia, ministrou a Crisma, proferiu inúmeros sermões, carinhosamente preparados, estudados, no mais lídimo portu­guês barroco. Sermões antes pesquisados, meditados, esquematizados, depois datilogra­fados na sua velha máquina de escrever, de pé mesmo, da­quela sua grande altura sacerdotal, intelec­tual, pastoral, mas pequena fisicamente. De pé mesmo, para não se cansar na cadeira, pa­ra não ficar corcunda. Sempre erguido fisicamente, desconheceu doenças. Mantendo uma saúde invejável à custa de exercícios físicos, encostado à parede, capinando a pequena horta e belo jardim , diariamente espanando aquele Palácio que era a sua residência familiar, sempre vestido com um avental agora guardado no Museu de Azambuja, que inaugura­ra em 1960, avental sobreposto às vestes episcopais, “monitum et praesidium do Bispo”, assim corno a batina era o “sinal e a proteção” do padre, que nunca deveria abandoná-la, como que identificando-a com o próprio sacerdócio. Vestes episcopais solenes, mas pobres, cobrindo calças, camisas e meias remendadas, vestes vistosas mas humildes, velhas, ciosamente conservadas assim como conservara o patrimônio religioso e cultural de sua Igreja, ela, a única porta e casa de salvação para a humanidade, resposta única e imutável para todos os problemas da humanidade.

Uma vida pela Igreja
Vestes e aparências solenes que encobriam extrema pobreza, que ignorava a inflação, que não sabia mais o custo das coisas, mantidas com frugais refeições, costumes sóbrios. Solenidade que podia dar a aparência de ostentação, de riqueza, num homem que morreu praticamente sem nada, num Palácio solene, mas com ameaças à própria segurança, que dormia com uma mesa cobrindo a cama, ameaçada por pedaços de estuque que caíam do solene teto. Uma riqueza presumida, mas resumida a alguns velhos cru­zeiros, e velhas notas provisórias vencidas.
Uma solenidade que se manifestava na exigência inconteste de respeito, de honra primeira e
total à autoridade eclesiástica, sem concorrente no mundo político. Tudo num homem que considera­va o Episcopado abaixo apenas da Maternida­de divina de Maria e da Encarnação do Verbo: “Deve o Bispo ser pobre, mas que haja toda uma realidade exterior para engrandecer-lhe a honra e o poder.”
Os que foram aos seus funerais, coroados solenemente pelos acordes infinitas vezes ouvidos do “De cristãos esta Coorte”, o Hino da “sua” Arquidiocese, recordaram aquela figura baixinha - mas exigente e intransigente, que por 53 anos transpusera os limites da Capital para as Visi­tas Pastorais, primeiro a todo o Estado, depois ao território de sua Arquidiocese. Andou a cavalo, de char­rete, de barco, de automóvel, de avião. Milhares de quilômetros percorridos para visitar o rebanho, para ministrar-lhe a Crisma, dar-lhe a Eucaristia, proferir-lhe o Sermão, já levado pronto. Sermão tão importante e tão acariciado que não hesitou mandar o motorista retornar de Angelina à Capital para apanhá-lo. Era aquele o Sermão que deveria proferir, sem ser possível outro, sem poder improvisar. Pregar era missão por demais séria para um Arcebispo improvisar. Nem todos - talvez a maioria – conseguiam compreendê-lo. Era uma linguagem muito alta para um reba­nho tão humilde! Era, porém, a doutrina da Igreja, explicação da Escritura tão prezada nos infatigáveis e contínuos estudos.

Ação e vigilância pastorais
As Visitas Pastorais: epopéia, sempre nova, mesmo que repetida ao longo de meio século. A conversa com o povo, a visita aos Livros Paroquiais, a inspeção na administração, olhando, sem transigir em nada do lhe que parecia transgressão à Lei da Igreja. Conselhos ao povo e ao Vigário.
Nada permitia que escapasse ao seu controle, mesmo sabendo que isso acontecia. Podia-se recordar sua exigência de respeito ao patrimônio eclesiástico, de respeito à língua vernácula, de nacionalismo alegre e cooperador, que tantas confusões lhe arrumara com os Padres alemães e italianos, com os imigrantes e seus descendentes, que às vezes se esqueciam de que estavam no Brasil e que deveriam ser brasileiros, começando pela língua e pelo aprendizado do Hino nacional. Como sofrera daquela vez, numa Capela do Sul, quando as crianças lhe cantaram, no dia 7 de setembro, o Hino da Itália, e lhe declamaram versos em italiano com “Viva il Re d’Itália!”. Dom Joa­quim assumira plenamente a nacionalização, necessária sim, mas conduzida por meios talvez nem sempre humanamente compreensíveis: ­por esta “nacionalização” não hesitou em depor todos os diretores estrangeiros de Escolas e Colégios religiosos, em 1917. Não poupara controvérsias, e mesmo intrigas, com os padres alemães e italianos, que para cá vieram como novos Apóstolos.
Mas ali estava o velho Arcebispo, ali estava o jovem rebanho. Participando de uma Igreja arquidiocesana que organizara em três sínodos Diocesanos (1919, 1925, 1951) que tinham, os primeiros, a finalidade de reestruturar a pastoral de acordo com o no­vo Código publicado em 1917. O terceiro fa­zia parte das solenes comemorações dos seus 50 anos de sacerdócio. Um sacerdócio que frutificara, que se multiplicara. Para sua formação fundara dois seminários: em 1927 o de Azambuja e em 1941 o de São Ludgero.
Azambuja dele recebe todo o carinho, foi a sua obra mais importante. Uma Azambuja que não se restringe ao Seminário: é o Hospital (que recebeu novo prédio), é o Santuário (novo e imponente), é a Gruta, o Morro do Rosário, o Al­moxarifado, o Asilo, a Fazenda, é o novo Seminá­rio que ele inaugurou em 1964, no 7 de setembro que celebrava os 50 anos da posse em Florianópolis.
Um Seminário que conduz no maior rigor e seriedade. Uma casa cuja pedagogia não conhecia panos quentes, tergiversações. A Igreja existia há dois mil anos: não precisava perguntar a ninguém se devia mudar. Tudo já estava estabelecido. Bastava ler, para conhecer os caminhos. O seminarista era preparado para ser homem de Igreja. Longe os ares da renovação conciliar.

Um homem fiel e apegado ao passado
O Concílio do Vaticano II (1962-1965): participou da primeira sessão de 1962. Não retornaria. Escandalizava-o a discussão. Achava até blasfêmia o questionamento de afirmações que ele aprendera e repetira, na prática eclesiástica, por cinqüenta anos. Chegou a pensar que o tinha ultrapassado.
Velho, mas não cansado, precisava o povo que ele recebesse um auxiliar, o que ele pensava ser desnecessário. Mas vem, primeiramente, Dom Felício César da Cunha Vasconcellos OFM, em 1957. Não lhe foi fácil ser ajudado, ele, o Pastor incansável no trabalho. Não lhe era compreensível alguma coisa ser decidida fora dele, acostumado a tudo centralizar. Mas aceitou. Também ele deveria praticar a obediência que sempre exigia como a grande virtude do cristão. O Coadjutor preferiu residir no Convento Santo Antônio e ali recebia os padres e se dispunha a pregar missões. Era um grande orador sacro.
Dom Felício foi transferido para Ribeirão Preto em 1965, nomeado arcebispo metropolitano e ali faleceu em 1972, com fama de santidade.

Dom Joaquim acha que pode continuar sozinho, pois a doença não o atingia. Assim não pensam a Santa Sé e o Clero, ansioso este por uma urgente re­novação nos moldes pedidos pelo Concílio. Muita coisa tem que ser feita longe do Arcebispo. Experiências são realizadas a partir do Estreito, longe da Ilha onde habitava o Arcebispo, ilha­do ele mesmo num mundo que não mais existia, num mundo novo que desconhecia. Era o mundo da JOC, da JEC, da JUC, da Ação Católica, que ele abominava na suspeita do comunismo infiltrando-se por qualquer fresta que o Pastor, num momento de distração, pudesse deixar surgir. Presidir com solicitude era também estar atento para que ne­nhuma mudança acontecesse.
Mas, a arquidiocese precisava de alguém que o ajudasse na renovação. E este veio na pessoa de Dom Afonso Niehues, que em 1927 ele acolhera no recém-fundado Seminário de Azambuja, que em 1959 sagrou Bispo Coadjutor de Lages. Dom Joaquim aceitou, mas com dor. O velho Arcebis­po não se dava conta de que envelhecera no tempo, na história, no físico.

A chegada de Dom Afonso e o adeus do Pastor
Memorável o 30 de dezembro de 1965: Dom Joaquim entrega o Governo efetivo da Diocese a Dom Afonso, Arcebispo Coadjutor e Administrador Apostólico “sede plena”. Praticamente mantinha o título. No Ginásio “Charles Edgard Moritz”, lotado pelo Clero, Religiosas, Autoridades e o Povo, fez um minucioso relato de seus já 51 anos de pastoreio. Enumera as obras pastorais, administrativas, materiais. Um grande elenco a demonstrar o infatigável empenho com que desenvolveu o ministério episcopal, assumido de coração no dia 26 de março de 1914, dia de sua eleição.
Neste momento Dom Joaquim recordou a singela cerimônia de ordenação episcopal na Capela do Pio Latino, em Roma, no longínquo 31 de maio de 1914. Na mesma Cidade Eterna onde cursara Direito Canônico, obtendo o Grau de Doutor. Eram os Cânones sua grande paixão intelectual. Conhecer bem a Lei da Igreja para fiel sempre lhe ser.
O ancião, resignado mas não abatido, cheio de trabalhos mas não cansado, recordava a infância em São Paulo, sua cidade após seus pais, Domingos de Oliveira Beleza e Joaquina da Silva Mota, terem emigrado da terra natal, Vila Nova de Gaia, em Portugal. Lá nascera a 4 de dezembro de 1878.
Brasileiro por adoção, foi no Brasil que recebeu sua formação: estudos primários em escolas públicas, secundários no Liceu Sagrado Coração de Jesus, dos padres salesianos. Por ultimo, no Ginásio Paulista. Terminados os estudos se­cundários, fez os exames preparatórios no Curso da Faculdade de Direito de São Paulo e matricu­lou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Mais por vontade do pai. Sua vocação era outra. E vai segui-la matricu1ando-se em 1898 no Seminário Episcopal de São Pau1o. Aí mesmo recebeu a ordenação sacerdota1 em 21 de dezembro de 1901. Em seguida foi nomeado Professor do Seminário e Cape­lão. Terminados os estudos em Roma, retornou ao Seminário Episcopal, sendo simu1taneamente Diretor Espiritual no Colégio Arquidiocesano. Em 1910 é Cônego da Catedra1, assumindo o cargo de Secretário do Cabido. No ano seguinte, Secretário do Arcebispado. Sacerdote, é conhecido como estudioso, pregador e apo1ogeta, defensor acér­rimo da Igreja. Foi nesse ministério que a Santa Sé o elegeu Bispo de Florianópolis.
Recordou o 7 de setembro de 1914, dia de sua posse, as autoridades, o povo carinhoso, o Clero aguardando-o no trapiche, pois demoraria alguns anos ainda para a cosntrução da Ponte Hercílio Luz. Era um Bispo decidido, jovem em seus 35 anos. Viera para trabalhar, e trabalhara.
Ao relatar seu vasto e rico pastoreio tinha a consciência do dever cumprido.Presidira com solicitude. Deseja que Dom Afonso seja feliz na Arquidiocese.
Terminadas as cerimônias, vai ao Palácio. Ali, na oração e no estudo, relendo e organizando materiais de seu Arquivo, prepara-se para a despedida, ocorrida a 18 de maio de 1967. No sábado anterior assistira a um casa­mento. No domingo, fora à Trindade, visitar as Irmãs. O homem de trabalho trabalhou até os últimos dias.
Servo bom e fiel, podia estar feliz e tranqüilo de ter desempenhado a missão que a Igreja lhe confiara. Ali estava a Arquidiocese. A semente crescera na unidade. A messe aumentara. Surgia uma Igreja pujante, pouco a pouco renovando-se para acompanhar os novos tempos. Não fora esta a sua missão.
Foi velado no Palácio Cruz e Sousa e sepultado com honras militares.

Pe. José Artulino Besen
Curso de Teologia (1975), Gregoriana, Roma; Bacharel (1980) em Teologia, Faculdade Teologia Cristo Rei, São Leopoldo; Curso de História da Igreja (1980), CEHILA; Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, da Academia Catarinense de Letras e da Associação Catarinense de Escritores.
Ministra no ITESC as disciplinas: História da Igreja Medieval; História da Igreja Moderna e Contemporânea; História da Igreja do Brasil e na América Latina; Escolas e Movimentos de Espiritualidade.
Email: jabesen@terra.com.br 


http://conhecendoazambuja.blogspot.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário