PADRE ALBERTO FRANCISCO GATTONE
1º VIGÁRIO
DE GASPAR, BLUMENAU E BRUSQUE
1860-1867[1]
Pe. Eloy Dorvalino Koch scj
Tradutor
Eis o dedicado sacerdote que, por primeiro, e sofrendo as
maiores dificuldades, exerceu a administração eclesiástica em nossa Região Colonial.
Não é possível narrar muita coisa a seu respeito. Mas o que dele se conta é
impressionante, admirável e digno de respeito.
Foi colega do Pe.
Boegershausen e do Dr. Engelke no Curso Ginasial de Hildesheim e, mais tarde,
colega seu mais moço, no Curso de Teologia. Eram de uma amizade sincera, com
base em mútuo respeito.
Em 1857, Pe. Carlos
viajara para esta Região Missionária do Brasil. De quando em quando, escrevia
extensa carta ao Diretor do Seminário de Hildesheim, e que era lida em público
no referido Educandário. De cada página transparecia muito viva a falta de
missionários no Brasil Meridional. Talvez as comoventes descrições tenham
despertado no jovem sacerdote a idéia e o forte desejo de ser missionário. Em
todo caso, Pe. Gattone apareceu, em 1860, em Joinville, apresentando-se ao
antigo amigo, bem como ao Dr. Engelke, qual novo colaborador.
Um pouco antes, Pe. Carlos
enviara o Pe. Bucher para a abandonada Colônia de São Pedro de Alcântara. E
agora decidiu enviar o Pe. Gattone à Região do Itajaí, isto é, 4 km a oeste do
atual Gaspar. Os católicos aí domiciliados já haviam construído a Capela de São
Pedro, mas continuavam à espera de um Sacerdote.
[1] Artigo que foi publicado na Revista Der
Wegweiser (O Indicador de Rumo), em 1931, Brusque, pp. 208-214. Mais
informações sobre o autor e o tradutor (e seus comentários) encontram-se no
número anterior desta revista, no artigo intitulado: “Pe. Carlos
Boegershausen”.
Pe. Alberto Francisco Gattone
Nota: Foto que recebi em 1955 de Dna. Maria Rosa Bauer
Schaefer (Mimi)
Tradução da Dedicatória:
Ao
Senhor João Bauer, o agradecido Pe. Gattone
Pe. Carlos a tinha
visitado, pela primeira vez, em 1858. Nessa ocasião, também chegou a conhecer
Dr. Blumenau, que, aos 2 de abril de 1857, havia feito aos católicos a doação
de um terreno apropriado para igreja, casa paroquial e cemitério na nova área
urbana.
Antes do progresso da
Colônia de Blumenau e da inauguração da área urbana de Gaspar, as terras de
Pocinho e Belchior já estavam povoadas. Em 1839, já contava 65 famílias. Entre
elas, 17 eram alemãs de São Pedro de Alcântara. A vida religiosa recebeu um
grande impulso graças ao zelo de Frederico Guilherme Schramm, natural de
Erkrath, em Düsseldorf. Aos 28 de dezembro de 1848, ele adquiriu e ocupou o lote
de João Kerbach, situado à margem do Gaspar Grande. O Sr. Schramm fez uma
visita aos seus novos vizinhos, e os animou no sentido de se construir uma nova
Capela. A sua proposta logo teve aceitação entusiasta: e foram oferecidos 4
terrenos para a construção da Capela. Numa reunião geral, havida na casa de
João Klocker, optou-se pela doação dele. O terreno situava-se a 4 km a oeste do
Gaspar hodierno, na margem esquerda do Itajaí-açu.
Conforme
planejado, foram construídos a Capela e o cemitério. Aos 29 de junho de 1850, o
Padre Francisco, Vigário de Itajaí, lá celebrou a primeira festa de São Pedro.
A partir daí, Schramm presidia as rezas dominicais e dos dias santos; Nicolau
Deschamps Senior assumiu zelar pelo cemitério; e o "Torto Jan" era
sacristão, e barqueiro também, para transportar as pessoas da margem de lá para
a de cá.
Com a
colonização que Dr. Blumenau realizava em Gaspar e na Garcia e Velha -, o
tráfego mudou -se para a margem direita do Itajaí. Fato que levou Frederico
Guilherme Schramm a requerer a Dr. Blumenau um terreno para a futura
Igreja-Matriz junto à nova área urbana de Gaspar. Tal ocorreu, como já vimos
acima. E aos 13 de outubro de 1877, a referida doação privada foi confirmada
por documento oficial.
E Pe.
Gattone tomou posse de sua Capela da Mata-Virgem. Morava no lado oposto do
rio, na casa do velho Nicolau Deschamps. Também lá se hospedava o seu
companheiro de viagem: Augusto Bickefest. Pela primeira vez, a Festa de São
Pedro era celebrada com brilho externo. E já de muito longe, acorriam católicos
para a grande festa.
Aos 22 de
julho de 1860, Pe. Gattone fez o balanço geral do seu Livro-Caixa. Para a
Capela, foram pagos, até agora, 105$600 Rs, havendo, pois, um saldo de 5$020. O
cemitério rendera 28$940 Rs, tendo uma despesa de 3$100 Rs, com o superavit de
25$840 Rs. A Capela dispunha de 30$860 Rs.
Um pouco mais tarde, o
Vigário teve que viajar a Brusque, para onde o Barão von Schneeburg,
aos 4 de agosto de 1860, conduzira os primeiros colonos. Até fevereiro de 1861,
a população crescera para 657 moradores, na sua grande maioria católica. Em
Guabiruba, Pe. Gattone celebrou a primeira santa missa na Capela de palmitos,
dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A Capela fora construída no
local hoje (1930) ocupado pela casa comercial de João Kormannn.
Na mesma ocasião, ali celebrou a festa da Primeira
Comunhão. O Sr. João Bauer, ainda vivo, foi uma dessas crianças neocomungantes.
O pessoal de
Belchior-Pocinho, que agora tinha a sorte de contar com um sacerdote-residente,
soube explorar bem a sua condição de autonomia. Redigiram um requerimento com
130 assinaturas, enviado à autoridade, pedindo a criação de uma Paróquia.
Frederico Guilherme Schramm e seu 2º filho, Francisco Bernardo, tinham levado o
requerimento a toda família dona de propriedade, e insistiam na sua assinatura.
O tabelião Lopes Serim ainda enviou uma carta anexa, em abono ao requerimento.
Bernardo Schramm levou o documento ao Desterro, e o entregou a um deputado de
confiança. A Câmara Provincial encaminhou o pedido à Comissão de Estatística e
Assuntos Eclesiásticos, que lhe deu a sua aprovação a 17 de abril de 1861. E
já no dia 25, o Presidente, Dr. Carlos de Araújo Brusque, deferiu o
Requerimento.
Novamente,
Schramm viajou ao Desterro, e trouxe o Documento. E Pe. Gattone instalou a nova
Paróquia aos 23 de julho de 1861. Foram-lhe fixados os seguintes limites: ao
Norte, a Paróquia da Penha; ao Sul, Camboriú; a Leste, o Rio Luiz Alves; e a
Oeste, o Rio Praia Grande e a Colônia de Luiz Schaffen.
Na Colônia
propriamente dita de Blumenau, começava, aos poucos, a atividade pastoral do
Pe. Gattone. Nos anos de 1860 e 1861, houve um acréscimo de 148 católicos. Mas
que não foram estabelecidos comunitariamente. Um grupo foi para Alto Garcia e
Caeté; outro, para Badenfurt; os
”luxemburgueses”,
para o Testo Salto, onde construíram pequena Capela em honra a Santo Notker,
entre Zwang, Riedinger e Philips, na margem esquerda do Testo. O pessoal de
Badenfurt construiu modesta a Capela de Nossa Senhora Auxiliadora. Os da
Badênia construíram, no cemitério do Garcia, um bem pequeno Oratório, em breve
substituído pela nova casa do Beiler, na imediata vizinhança.
A seguir,
chegou a vez da área urbana. Os católicos de lá, sobretudo Bader, Bugmann e
Wloch, impulsionaram a construção da Capela São Paulo, no cemitério. Aos 25 de
janeiro de 1865, foi celebrada, em Blumenau, a primeira festa do Padroeiro.
Um pouco
antes, Pe. Gattone perdera o seu sacristão de viagem: o Sr. Augusto Lickefett,
encarregado de levar documentos ao Pe. Boegershausen, Vigário de Joinville. Mas
foi assassinado na balsa do Itapocu. Pe. Gattone soube da trágica notícia,
quando em visita a Guabiruba. Junto à Capela de Nossa Senhora Auxiliadora,
residia a família Klein e, um pouco mais adiante, o Sr. Kormann, cujo filho mais
velho já trabalhara, por vários meses, na mata virgem.
Aos 24 de
dezembro de 1864, o seu grupo de trabalhadores foi ameaçado por 11 bugres, que
apareceram subitamente. Salvaram-se, entrando rapidinho nas canoas, que ficavam
próximas, e remaram rio-abaixo para o outro lado. Assim, interromperam os
trabalhos, e foram para casa.
A história
do surgimento dos bugres trouxe inquietação à Colônia. Por ocasião da visita
do Pe. Gattone à família Kormann, o João falou a respeito do perigo sofrido na
mata. A mãe do João logo acrescentou: “Não mais deixaremos o nosso filho
enfrentar a mata”[1].
Foi quando o
Padre teve uma idéia luminosa, e logo a comunicou: "Permitam que ele me
acompanhe. Pois necessito de sacristão e de um companheiro de viagem". Os
pais logo concordaram. Por mais de dois anos, João Kormann foi fiel a seu
compromisso.
Vigário e
Sacristão viajavam pela ampla região pastoral de Brusque, Pocinho,
Gaspar, Blumenau, Garcia e Testo. A maior parte das viagens eram feitas via
fluvial. Em dia bem determinado, a canoa abicava na entrada da picada
florestal, onde, geralmente, o Vigário e seu Sacristão , vindos para visitar a
Capela, eram recepcionados por dois homens. Os paramentos e objetos de culto
eram bem guardados em mala de zinco. Sobre varas fortes, os enviados carregavam
a mala pela mata; Vigário e Sacristão viajavam, às vezes a cavalo e, muitas
vezes, a pé.
Naquele
tempo, as celebrações religiosas eram tidas em grande apreço. Até porque, para
muita família, a viva confiança em Deus era o seu único amparo nas dificuldades
e desgraças. Conversações levianas e libertinas eram desconhecidas. O regime
de então vinha tangido pela pobreza e pela seriedade da vida. Para as suas
pregações, Pe. Gattone sempre encontrava pensamentos apropriados. E, mediante a
sua magnífica doutrinação catequética, dirigida a grandes e pequenos, ele sabia
animar a alegria e a firmeza da Fé. Ao que vinha somar-se o exemplo de sua
vida. Pois era um homem de oração, de mortificação e de prestimoso amor ao
próximo.
Razão pela
qual, a sua conversa com os fiéis, após a celebração religiosa, também era
animadora, consoladora e edificante. Já em idade avançada, João Kormann ainda
gostava de referir-se às suas viagens em companhia do Pe. Gattone:
"Difícil e cheia de privações era a nossa vida", dizia. E concluía: "Ainda assim, era uma vida
bonita".
Nesse meio
tempo, a área urbana de Gaspar tornou-se animada. Carlos Procópio Hoeschl
adquiriu, do Dr. Blumenau, alguns lotes, e fundou a primeira casa comercial.
José Händchen mudou-se, da margem esquerda do Itajaí, para a área urbana, onde
instalou uma ferraria. Mais tarde, seu sócio Gral comprou-a e, por sua vez,
vendeu-a a Wehmut. Antônio Deschamps, casado com Cecília Altenburg, e pai de 7
rapazes e 7 meninas -, mantinha, em Gaspar, uma hospedaria, e que agora passou
a casa de comércio do Sr. Gaertner, já sucedido por João Deschamps.
Poço Fundo
também já estava povoado. As famílias Händchen e Schmitt passaram a ocupar os
seus já anteriormente adquiridos terrenos. Zimmermann, Spengler e outros de São
Pedro de Alcântara aqui já residiam. A partir daqui, foi-se abrindo uma picada
para viagens a cavalo, até Gaspar, de onde seguia o caminho até a área urbana
de Blumenau.
Ao longo
dessa estrada residiam, em Gaspar, as famílias Schramm, João Schneider e Vater
Theis; na Grande Figueira: Reitz, Nicolau Deschamps (pai e filho). Mais ou menos a meio caminho para Blumenau: Pedro
Deschamps e Altenburg; em Capim-Volta: Pedro Lukas e Pedro Wagner. À margem
esquerda do rio, haviam fixado residência Jorge Wagner, Pedro Rausch, João
Klocker, Matias Berens, Antônio Rinkes, Pedro Junk e Jacó Theis.
Em Gaspar,
porém mais abaixo, havia os seguintes moradores: Bento Dias, Major José
Henrique Flores [com dezenas de escravos], Simplício, Manoel e José Rabello,
Joaquim Alves, Luiz Dias de Arzão e Antônio Teixeira. Destes, a maioria lá já
residiam há 10 ou mais anos.
Quando a velha Capela começou a
desmoronar, não se cogitava em reformá-la. Na área urbana de Gaspar, no terreno
da Igreja, deveria construir-se uma igrejinha nova e maior. Lá pelo fim de
1865, tiveram início os trabalhos. A ladeira para o Itajaí foi desmatada, e do
material utilizável, foram serradas tábuas e barrotes. Na altura do morro,
fez-se terraplanagem. A nova construção foi progredindo sempre mais.
Aos 21 de
maio de 1868, Pe. Gattone celebrou, pela última vez, a santa missa na antiga
Capela. A seguir, viajou para Brusque. Mas com a promessa de voltar para
a festa de São Pedro e São Paulo, a fim de inaugurar a nova Capela. Quando
voltou, estava tudo pronto: a construção com estrutura de madeira e paredes de
barro na proporção de 30 x 69 palmos de comprimento; coberta com tabuinhas;
tendo na frente uma torre, e na parede dos fundos, uma sacristia. A festa
transcorreu bonita, e a procissão foi maravilhosa.
O número de estranhos na festa
aumentara de modo considerável. Pela primeira vez, também se adotara para a
festa "juiz e juíza", bem como os "mordomos". Eis alguns
dos primeiros: Henrique Schöpping e Ana Schmitt, Carlos Höschl e Sra. Schramm,
Pedro Deschamps e Sra. Spengler, Miguel e Ana Schmitt.
Juiz e Juíza
encarregaram a família Schramm da ornamentação da Capela para a festa, e
pagaram as necessárias despesas. Os cantores da festa foram providenciados pela
família Schramm. Germano Rüdiger viera de Blumenau com os seus músicos, e
animou a festa.
Após a
procissão, o Padre, o Juiz e a Juíza, bem como os cantores e os músicos
almoçaram na casa do Sr. Höschl, e antes da missa cantada receberam café. As
despesas foram por conta do Juiz e da Juíza. Essas festas dos tempos antigos
teriam sido as mais bonitas e cordiais. Todo mundo ficava satisfeito com o
simples prazer que lhes era oferecido.
Com esta
solene festa de São Pedro, Pe. Gattone encerrava as suas atividades em Gaspar e
Blumenau. Seu campo de trabalho passava a ser Brusque e,
temporariamente, Itajaí. Até chegou a exercer o pastoreio em Laguna.
Os fiéis de
Gaspar e Belchior, que com ele privaram mais de perto -, guardavam dele mui
grata e nobre recordação. Deviam-lhe indescritivelmente muito. Viveu entre eles
uma vida de pobreza e privações.
Logo no
começo de suas atividades, Pe. Gattone procurou reunir e catequizar os
neocomungantes. Foram ao todo 40 rapazes e meninas, numa idade que ia dos 12
aos 30 anos, pois cresceram na selva. Com paciência e com jeito, ele os levava
ao conhecimento das verdades religiosas. Também sabia dosar bondade com rigor.
Quando um aluno fosse demasiado mal-comportado, recebia a merecida repreensão.
Para estimular a uma repentina atenção, também se servia de uma pancada com o
livro.
A celebração
dessa Primeira Comunhão passou a ser uma festa impressionante. Todos, sem
exceção, e o coração cheio de fé, renovaram as promessas do Batismo.
Depois disso, Pe. Gattone levou os seus neocomungantes à casa de Nicolau
Deschamps, que lhes ofereceu a merenda.
Por esse
tempo, o Vigário também abriu uma escola. Que só teve a duração de dois meses.
É que ele estava doentio e fraco, e o excesso de trabalho nele provocou
uma hemorragia. Foi-lhe necessário, pois, interromper essa atividade.
Doença que também lhe
valeu uma longa e enérgica reprimenda da esposa de Nicolau Deschamps.
Porquanto, camareira do Padre, ela notou que a sua cama permanecia intacta. No
começo, a camareira não se atrevia a falar. Agora, porém, fez-lhe várias interrogações.
Queria saber como ele dormia. E ficou sabendo que o assoalho servia-lhe de
leito, e um livro, de travesseiro. O corajoso sermão da Sra. Deschamps fez com
que o Vigário se corrigisse e que, para o seu bem merecido repouso, dormisse na
cama posta à sua disposição. (Se todos os maridos aceitassem, com presteza, os
justificáveis sermões de suas esposas, muita coisa iria melhorar no governo da
casa!).
Nos 6 anos de suas
atividades em Belchior, Pe. Gattone as planejou assim: durante dois meses
seguidos, ficaria na sede. Só visitas a doentes o levariam para fora. Tempo
que ele aplicava na preparação dos neocomungantes, na animação da recepção dos
sacramentos e na pregação de santas missões. Tinha muito carinho para com os
doentes. Aos 9 de abril de 1866, ele fez o casamento de Pedro Schmitt e Ana
Händchen. No ano seguinte, a jovem esposa adoeceu gravemente. Dr. Knoblauch, de
Blumenau, aplicou-lhe com dedicação total a sua arte médica. Mas a mulher
continuava inconsciente, já fazia vários dias. Pe. Gattone veio visitá-la e lhe
administrou a Unção dos Enfermos. A seguir, assim falou aos circunstantes:
"Neste caso, só com a intervenção do próprio Deus. Que a Mãe do Perpétuo
Socorro rogue pela enferma. Queremos, todos nós, invocá-la diariamente, até
melhorar. Depois disso, quero, em agradecimento, rezar uma santa missa em honra
à Mãe de Deus. E para este ato, vocês devem comparecer todos".
Tal confiança não
ficaria sem recompensa. Todos cumpriram a sua promessa. O bom Deus ajudou, e a
assistência à santa missa foi igual a um dia de festa. E após 64 anos, a
enferma de outrora ainda vive. Foi ela quem me contou a maior parte do aqui
narrado sobre o bom Pe. Gattone.
Seria interessante se
também em Brusque fosse possível encontrar uma vovozinha semelhante, capaz de
narrar sobre a atuação do piedoso Vigário nos anos 1867-1882. Quem poderia
candidatar-se?
Na área
urbana de Brusque, mas no terreno da Igreja, Pe. Gattone providenciou a
construção de uma Capela. Em 1873, houve o lançamento da pedra fundamental da
grande Igreja Paroquial. No ano de 1877, já procedeu à sua inauguração. Uma
obra que testemunha a competência do arquiteto A. Bruns e a do mestre de obras
Lübke.
Pe. Gattone
conseguiu trazer o conceituado professor Brand para Brusque. Que tinha sido
professor particular junto às famílias Schmitt e Händchen, no Poço Grande.
Exerceu, por 11 anos, e com fidelidade, suas atividades na nova Sede Paroquial.
No ano de
1882, foi nomeado Vigário de Brusque o Pe. Ganarini. Pe. Gattone foi
transferido para o Rio de Janeiro. Muito em breve, chegou a desfrutar também lá
de elevada estima. Atuava no grande hospital Santa Casa da Misericórdia e, com
Monsenhor Molina, na Paróquia da Glória. Ultimamente, esteve hospedado no
Convento Franciscano de Santo Antônio. Já extenuado, idoso e doente -,
passou-se para o Hospital Gamboa. Aqui ocorreu, aos 28 de janeiro o seu
tranqüilo falecimento. Pe. Crisólogo Kampmann ofm, que o assistira na hora
derradeira, assim a ele se referiu: “Pe. Gattone foi um Sacerdote segundo o
Coração de Deus".
Observação do Autor: Todas as datas e informações mais detalhadas
foram tomadas da Crônica sobre Gaspar, escrita, com muita dedicação,
pelo Pe. Leonardo Stock, ofm. A ele, os nossos sinceros agradecimentos.
Observação do Tradutor. Até aqui, escreveu o Padre S. Schaette ofm.
A 1º de abril de 1956, escrevi algo mais sobre Pe.
Gattone em Brusque. Daí, a transcrição dos seguintes
tópicos:
[1] Em curso de "Museologia" (Treze Tílias-SC), uns
"cursistas" de Florianópolis, "muy hermanos" dos índios,
acusaram os colonos estrangeiros de crueldade contra o silvícola. Ao que respondi que tal ocorreu, unicamente,
em defesa de suas vidas e de seus bens. Ao passo que os nacionais foram muito
mais cruéis, e quase unicamente, para explorar os braços no trabalho, e os
corpos de suas mulheres também na luxúria (N. do T.).
Um
dos seus primeiros cuidados foi a construção da primeira igreja, de madeira, na
"sede da Colônia", erguida no mesmo local ocupado, em seguida, pela
casa paroquial. Mas paira uma dúvida sobre se esta foto se refere à 1ª igreja
de Brusque ou à de Gaspar.
1ª Igreja - Brusque tinha agora o
"seu" Sacerdote. Um dos seus primeiros cuidados foi a construção da
primeira igreja na "Sede da Colônia". Ergueram-na no mesmo local
ocupado, ao presente, pela Casa Paroquial (1). Era de madeira. Servia muito
bem. Contudo, certo domingo, durante a santa missa, deu-se um "krach"
descomunal, isto é, a igreja sofreu forte abalo, ameaçando desabar. Causou
grande pânico. Os fiéis se precipitaram para fora pelas portas e janelas. Não
oferecendo mais garantias à vida, resolveram suspender, em definitivo, as
funções religiosas nesta igreja, exercidas, desde então, na escola, sita onde
atualmente se acha localizada a Prefeitura Municipal. Tais vicissitudes deram
aso a que surgisse uma arrojada iniciativa (2).
O Mais Belo Templo - Na verdade, era mister por côbro a tal
situação precária. Tanto mais que pela Lei nº 693, de 31 de julho de 1873, a
Colônia fora "elevada a Freguesia" (3), Paróquia, com a denominação
de "São Luiz Gonzaga”, em homenagem ao dinâmico diretor, Dr. Luiz Betim
Paes Leme (4). Passou a fazer parte da nova Freguesia a turbulenta Colônia
Príncipe D.Pedro.
Tal como em
outros setores, também no da Religião se fez sentir consideravelmente a
atividade benfazeja deste impulsionador do progresso de Brusque, pois à sua
iniciativa e apoio devem os católicos a nova Igreja (5), se bem que, em grande
parte, custeada pelo Governo Imperial (6). As obras, iniciadas “... em 21 de
junho de 1874, com o lançamento e bênção da pedra fundamental” (7), tiveram sua
ultimação em 1877, "sendo neste mesmo ano inaugurada” (8) a Casa de Deus.
A
bênção, assim da pedra fundamental como da igreja, foi realizada, com
autorização especial, pelo Vigário Padre Gattone (7 e 8). De tijolos, coberta
de telhas, em estilo gótico, media, sem o presbitério, 20 metros de comprimento
por 16 de largura. À entrada, erguia-se uma torre com 25 metros de altura. No
alto da mesma, instalou-se o relógio doado por D. Pedro II, ainda em ótimas
condições. Note-se, de passagem, que a armação para os sinos quase custou a
vida de um trabalhador italiano. Caindo torre abaixo, teve a ventura de
encontrar um monte de areia, do qual saiu ileso.
A segunda igreja,
"o mais belo templo”, construído de 1874 a 1877.
Como se pode verificar pela fotografia, dois
renques de álacres palmeiras ladeavam o caminho para o novo templo, situado na
esplanada da colina. O prédio mais abaixo era a primitiva casa paroquial.
Trata-se, em suma, do seguinte: de uma Igreja, para aqueles tempos, espaçosa e
até artística, a ponto de haver sido considerada, nos primeiros anos, como
"...o mais belo templo do Estado de Santa Catarina" (9). E como
"a obra louva o artífice”, bem merecem registrados os nomes de A. Bruns e
Luebke, respectivamente, construtor e mestre de obras (10). E o sr. Diretor da
Freguesia faz jus à qualificação de "homem benemérito" (11), que lhe
foi dado pelo Pe. Gattone.
E quem quiser olhar, há de por força
reconhecer que assim também merece qualificado aquele que foi o Diretor
Espiritual de Brusque-Colônia, de Brusque-Freguesia, de Brusque-Vila!
Abandonara os seus, a pátria, o conforto da civilização, para se embrenhar
pelas matas virgens do vale do Rio Itajaí, e abraçar, por 22 longos anos, uma
vida cheia de privações, “de árduos trabalhos” e, em breve, também, “de saúde
combalida..." (12), e tudo isto unicamente, para servir o próximo.
Principalmente naquilo que lhe é fundamental na vida, a religião: conforto
insuperável, alma das almas.
Dedicava-se, além disto, ao
magistério. Logo que fixou residência em Brusque, foi incumbido da direção da
Escola Pública Primaria, seção masculina. E o Presidente da Província, no
relatório de 1868, manifesta-se mui satisfeito com a atividade do Padre, quando
escreve: “Dedica-se grandemente, assim às coisas da religião como às da
educação” (13). De maneira que, uma das vias urbanas de Brusque mais bem
denominadas é a que leva seu nome: "Rua Padre Gattone" (14).
Notas do
acréscimo:
01-
“Festschrift zum 50 Stiftungsfest des Schützen-Vereins" -Brusque, citado.
02- Dna. Ana Erdtal Kohler,
mencionada. A Sra. sua mãe, Dna Florentina Schalik Erdtal também viveu aqueles
momentos de angústia.
03- Documento da
Pedra Fundamental, por Luiz Betim Paes Leme.
04- 1º Livro do Tombo, fl. l; nota:
"descendente do engenheiro alemão Gerhardt Bettink, o qual, em 1600, tinha
trabalhado proficuamente na direção de minas no Brasil" (De "Os Alemães
nos Estados do Paraná e Santa Catarina"), 1829/1929, p.222.
05-
Documento da Pedra Fundamental, por Padre Gattone.
06-
"A Arquidiocese de Florianópolis", 1951, p. 38.
07-Documento
citado.
08-
"Fundação de Brusque" - 1922- Pe. Germando Brand scj. Arquivo
Paroquial. Pe. Eising dá como ano da bênção da igreja o de 1882.
09-
"Deutschtum und Ausland" 2º vl.: "Auslanddeutschtum und
Kirche", p. 192.
10-
"Festschrlft zum 50 Stiftungsfest...", citado; “Der Wegweiser".
11-
Documento citado.
12-
Observação por ele feita, de próprio punho, em alemão, no lº Livro de
Batizados, e espontaneamente confirmado por Dna. Anna Erdtal Kohler,
mencionada.
13-
Traduzido do texto alemão "Die
Kolonie Zeitung"- Joinvile - 2 de maio de 1868.
14- Lei nº 20, assinada pelo Sr. Paulo
Bianchini, prefeito, e o Sr. Lauro Müller, secretário, em 9 de novembro de
1948.